Correia de Campos, antigo ministro da Saúde do PS, visitou José Sócrates três vezes em Évora, no ano em que o ex-primeiro-ministro esteve em prisão preventiva. Conhecida a acusação, e os 31 crimes que pendem sobre o socialista, Correia de Campos diz que lhe “custa a acreditar” na sustentação da tese do Ministério Público mas também não é capaz de dizer o contrário: “Também não tenho nenhuma capacidade para dizer que não é verdadeira”, acrescenta a seguir.

O ex-ministro garante ter “uma relação de amizade muito boa” com Sócrates. E, “mesmo que venha a ser condenado” no âmbito da Operação Marquês, Correia de Campos garante que vai continuar a “ajudá-lo naquilo que possa”. Há poucos meses, em entrevista ao Jornal de Negócios, o atual presidente do Conselho Económico e Social (CES) sublinhava que, “até prova em contrário”, continuava convicto da inocência de José Sócrates. Agora, mostra-se mais cauteloso.

A entrevista foi realizada quase em simultâneo com a entrega do Orçamento do Estado para 2018. Uma das propostas que esteve em cima da mesa, promovida pelo PCP, foi o aumento do salário mínimo para os 600 já no início de janeiro. Não avançou. Correia de Campos entende que, “do ponto de vista político, não há viabilidade para o salário mínimo passar para os 600 euros em 2018”. Até porque “o compromisso” é o de que esse valor só tenha de ser alcançado no final da legislatura e, nesse sentido, este ponto pode até ser usado como “arma negocial, uma arma de pressão” nas discussões entre o PS, o PCP e o BE.

O Presidente da República já manifestou reservas quanto a “orçamentos eleitoralistas” a dois anos das legislativas — mais a pensar no orçamento para 2019, mas com uma mensagem que tem validade imediata. Correia de Campos não pensa muito diferente. “Há dois anos”, recorda, “metade do país achava que íamos cair no inferno e a outra metade achava que estávamos a sair do inferno”. E agora? Agora, “as perspetivas exigem mais rigor e um pouco mais de cabeça fria”, diz o ex-ministro. A expressão de Marcelo — o risco “eleitoralista” — não ressalta da intervenção de Correia de Campos, mas mesmo assim o presidente do CES aconselha a “olhar um pouco mais para o futuro”.

A convulsão pós-autárquicas em que o PSD entrou não ficou de fora da entrevista ao ex-ministro. Para o socialista Correia de Campos, independentemente de quem suceder a Passos Coelho — Rui Rio ou Santana Lopes, os nomes confirmados na corrida –, a nova direção social-democrata vai trazer mais “exigência” a Costa. “Os governos governam melhor com melhores oposições” e, nesse sentido, “penso que as exigências vão aumentar, isso é inequívoco”, diz Correia de Campos.

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