É a mais recente bicada do PCP ao Bloco de Esquerda. Num artigo de opinião publicado no blogue Manifesto 74, o deputado comunista Miguel Tiago defende o papel fundamental do PCP na atual solução parlamentar, relativiza a importância dos bloquistas na construção desta aliança, classifica o partido de Catarina Martins de “volátil”, burguês, “oportunista” e incoerente, e desvaloriza as diferenças entre PS e Bloco.

“A matriz do BE é próxima da matriz do PS, com as diferenças naturais entre dois partidos sociais-democratas, de organização e método burgueses mas com composições e enraizamentos diferentes. Já a matriz do Partido Comunista Português é radicalmente distinta. Num cenário de libertação de PS/BE do PCP, ou seja, num cenário em que o PCP não fosse necessário para a construção de uma solução, de que forma se comportaria o BE?“, chega a questionar Miguel Tiago.

A esta pergunta, seguem-se outras ao longo de todo o texto. “O comportamento do BE, a sua cada vez maior aproximação a temas laborais, a sua aproximação a discursos que antes considerava ‘soberanistas’, como a ‘preparação de Portugal para a saída do Euro’, entre outros — frutos do seu oportunismo e taticismo evidentemente — surgiriam no contexto de inexistência da presença parlamentar do PCP tal como existe hoje?”, insiste o comunista.

“Quem puxou quem”?

As palavras de Miguel Tiago ganham especial importância porque surgem numa altura em que muito se especula sobre o futuro desta aliança depois das eleições legislativas agendadas para 2019. As dúvidas de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o empenho do PCP no apoio ao Governo socialista, a tirada de António Costa em pleno debate sobre a moção de censura — “os votos do PS e BE ainda não formam uma maioria neste Parlamento” — e o apelo de Francisco Louçã a que os três partidos mantenham a valsa a três, podem ser entendidos como um sinal de desgaste nas rodas dentadas da “geringonça”.

Neste artigo de opinião, Miguel Tiago argumenta, precisamente, que a atuação política do PCP foi fundamental para colocar os socialistas na rota correta — embora insuficiente — de reposição de rendimentos e direitos sociais. Dependesse isso do Bloco de Esquerda, um partido volátil e “muito mais próximo do PS do que o PCP, e os resultados seriam diferentes, sugere o comunista.

No fundo, remata Miguel Tiago, “poderemos concluir que a imagem construída, pelo BE e pela comunicação social, com contributos do PS e de Costa, que consiste na ideia de que PCP e BE puxam o PS para a esquerda e para medidas de recuperação e conquista de direitos não é correta. Basta olhar para o ponto de partida de cada um e ver, na verdade, quem puxou quem para onde. Não é PCP e BE que puxam PS, é PCP que puxa BE e PS“.

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