A Tesla está a ser acusada por vários trabalhadores de ser “um ninho de comportamentos racistas“, com alegações de que nas fábricas da marca automóvel são recorrentes os episódios de insultos racistas a funcionários afro-americanos. Acaba de entrar nos tribunais uma queixa — não é a primeira — de que trabalhadores caucasianos (incluindo chefes) terão perseguido outros funcionários, negros, chamando-lhes a injuriosa palavra começada por n, que era usada no tempo da escravatura. O líder da empresa, Elon Musk, terá escrito numa carta que estes trabalhadores têm de ser “fortes”, no sentido de ignorar os insultos, e aceitar pedidos de desculpa.
A declaração de Musk consta de um processo em tribunal — Vaughn vs Tesla Inc., que acaba de chegar às mãos de um juiz na Califórnia. O documento é uma carta/e-mail que Musk terá enviado às equipas no final de maio: “Uma das coisas que fazem com que alguém não seja um enorme idiota é não pensar em como alguém se sente quando faz parte de um grupo historicamente menos representado”, terá escrito Elon Musk, continuando: “por vezes estas coisas acontecem sem intenção, e aí é necessário pedir desculpa. E é justo que, se alguém pedir desculpa de forma sincera, é importante ser forte e aceitar essas desculpas“.
Thick-skinned foi a expressão usada por Elon Musk, cuja tradução à letra seria “pele grossa” — a imagem de uma camada epidérmica que não é facilmente penetrada por… insultos. A recomendação do líder da Tesla (e da SpaceX) aparece no processo como um dos dados para o pedido de indemnização por parte de Marcus Vaughn, mais um ex-funcionário que acusa a empresa de ser um “ninho de comportamentos racistas”.
É incompreensível para os queixosos que o líder da empresa diga que alguém, incluindo um superior hierárquico, possa dirigir-se “sem intenção” a outro funcionário usando a tal palavra começada por n, que a própria imprensa norte-americana evita devido à carga histórica que tem — era a forma como eram tratados os escravos negros.
“Ainda que a Tesla se apresente como uma empresa inovadora na vanguarda da revolução dos carros elétricos, o dia a dia nas fábricas é caracterizado por uma discriminação racial semelhante à era anterior aos Direitos Civis”, pode ler-se no processo judicial.
Marcus Vaughn, um afro-americano, trabalhou na Tesla entre 23 de abril e 31 de outubro, segundo a notícia da Bloomberg. De acordo com a queixa, Vaughn diz que há mais de 100 casos de funcionários vítimas de discriminação racial — além de insultos verbais, o caso sustenta que houve graffitis discriminatórios feitos nas instalações da Tesla. Vaughn trabalhou na fábrica de Fremont e foi despedido em outubro por “não ter uma atitute positiva”.
Contactada pela Bloomberg, a Tesla não comentou o caso.
O caso de Marcus Vaughn não é isolado, porém. Em outubro surgiram notícias de que três ex-funcionários da Tesla tinham processado a empresa por permitir um ambiente hostil para os afro-americanos. A Tesla despediu cerca de 700 pessoas em outubro, num processo de reavaliação ao desempenho dos funcionários.