A direção da associação sem fins lucrativos Raríssimas reagiu, este domingo, às denúncias sobre a gestão dos dinheiros feita pela presidente Paula Brito Costa, afirmando que “todas as acusações apresentadas nesta reportagem [da TVI] são insidiosas” e baseadas em documentação “apresentada de forma descontextualizada”. No entanto, não explicita qual é o contexto que deveria ter sido em conta em relação a faturas que dão conta de compras de vestidos de marcas de luxo, deslocações de casa para o trabalho num carro topo de gama e compras em supermercados. Diz apenas: “Para o exercício da função de representação institucional da Instituição, é essencial uma imagem adequada da sua representante”.
A Raríssimas alega que “toda a documentação, designadamente despesas efetuadas pela Presidente da Raríssimas em deslocações e em representação da Instituição, está registada contabilisticamente e auditada, tendo sido aprovada por todos os órgãos da direção”.
Em relação ao vencimento da presidente da Raríssimas, que a TVI diz ser de 3 mil euros, mais 1500 em deslocações, a Raríssimas diz que “os valores dos vencimentos apresentados na peça televisiva foram artificialmente inflacionados” e que “a Raríssimas tem por base a tabela salarial definida pela CNIS (Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social) para a definição dos vencimentos dos seus colaboradores”, não referindo em concreto qual é afinal o vencimento da presidente da instituição.
Levanta por fim suspeitas quanto às motivações dos intervenientes da reportagem, nomeadamente os ex-funcionários da instituição. “Esta reportagem integra diversas gravações áudio e vídeo de reuniões internas ocorridas há meses, o que demonstra que houve um trabalho planeado de ex-colaboradores enquanto ao serviço da Instituição. As gravações não transmitem a realidade dos factos, mas antes são descontextualizadas e foram obtidas de forma ilícita, sem autorização dos intervenientes como previsto na regulamentação referente à recolha de imagem”, refere o texto assinado pela direção, que diz ter sido alvo de “um jornalismo de emboscada”, sem qualquer oportunidade de contraditório. De referir que na parte final da reportagem a presidente da Raríssimas recusa prestar esclarecimentos à jornalista sem que lhe fossem enviadas as perguntas previamente.
E conclui: “Todas as acusações de que a Direção da Raríssimas na pessoa da Dra. Paula Brito e Costa e restantes visados foram alvo, serão devidamente retratadas seguindo os procedimentos legais previstos, nomeadamente o direito de resposta”, que será emitido dentro de 48 horas.
Assessor chama “pulha” a jornalista autora da reportagem
Na parte final da reportagem, é explicado como a presidente da Raríssimas chegou a aceitar, por duas vezes, conceder uma entrevista à TVI. Na primeira ocasião, Paula Brito Costa cancelou a entrevista. Na segunda, exigiu que estivesse presente um assessor. Trata-se de Salvador da Cunha, CEO da consultora de comunicação Lift, que é filmado a pedir à jornalista da TVI, Ana Leal, as perguntas que esta pretendia colocar à presidente da Raríssimas. Naquele momento, que foi filmado, a jornalista recusa revelar as questões com antecedência. A entrevista é novamente cancelada, com Salvador da Cunha a chamar “pulha” à jornalista da TVI à saída.
Depois da reportagem ser exibida, Salvador da Cunha foi confrontado com perguntas de vários utilizadores do Twitter, respondendo a algumas delas. “A TVI faz emboscada, tem a faca e queijo na mão e faz o frete de uma parte numa guerra de poder”, escreveu. Além disso, volta a repetir o insulto à jornalista Ana Leal, acusando-a de fazer “jornalismo de treta” e de filmar à revelia. “Ela foi pulha, só de filmar sem autorização uma conversa combinada para contextualizar a reportagem”, escreveu no Twitter. Além disso, também sugeriu que os documentos apresentados durante a reportagem são “montagens”.
Contactada pelo Observador, a jornalista Ana Leal garante que “eles sabiam perfeitamente que estavam a ser gravados” e que “o país inteiro assistiu às provas irrefutáveis que foram apresentadas”, recusando tecer mais comentários. “Eu não respondo a esse tipo de gente”, explicou.
Em baixo, leia algumas das respostas que Salvador da Cunha deu às pessoas que o interpelaram no Twitter. O Observador tentou entrar em contacto com o presidente da Lift, mas até agora não obteve resposta.