É fã dos fundos de investimento, mas duvida que os gestores dos seus produtos mereçam tudo o que lhes paga? Os 62 fundos que recentemente recomendámos são um bom ponto de partida para otimizar a sua carteira. Todavia, se procura uma solução semelhante ainda mais barata, estude os fundos cotados.

Os fundos cotados na bolsa – conhecidos por trackers, exchange-traded funds ou, simplesmente, ETF – funcionam exatamente como um fundo tradicional: um conjunto de investidores entrega as suas poupanças a um gestor profissional que as gere em troca de comissões. Só que, nos fundos cotados, a gestão tende a ser mais simples, mais barata, mais transparente e mais estável:

  • Mais simples. A maioria dos fundos cotados replicam índices de mercado. Os investidores têm, a qualquer momento, uma ideia muito concreta sobre a sua exposição.
  • Mais barato. Há fundos cotados cujos custos anuais não ultrapassam 0,03% dos ativos dos investidores. Em média, a taxa global de encargos correntes – que inclui os custos de gestão, depósito, supervisão e outras despesas correntes – é de 0,47% do património por ano. Nos 3.764 fundos tradicionais comercializados pela banca nacional, é de 1,94%.
  • Mais transparentes. Regra geral, os fundos tradicionais publicam a carteira dos investidores uma vez por mês ou por trimestre. Têm uma política de investimento que, muitas vezes, é muito lata. Em Portugal, os relatórios semestrais e anuais de cada fundo são escritos maioritariamente do ponto de vista do negócio da sociedade gestora e não dos aforradores. Na maioria dos fundos cotados é possível saber diariamente os títulos no património. A maioria dos sítios na Internet das gestores de fundos cotados tem informação detalhada e importante para a decisão de investimento.
  • Mais estável. Como são mais baratos e mais simples, os fundos cotados tendem a ser muito grandes quando comparados com os fundos tradicionais, o que fornece mais tranquilidade aos investidores. É mais difícil mudar um fundo como o SPDR S&P 500 ETF, o maior fundo cotado que vale mais de 200 mil milhões de euros, do que o Caixagest Liquidez, que tem menos de um centésimo dessa dimensão, apesar de ser o maior fundo mobiliário português.

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É o número de fundos de investimento mobiliário que desapareceram em Portugal desde 1999, o equivalente a 34 por ano. A maioria é liquidada ou absorvida por outros fundos.

Não menospreze a estabilidade, em particular se for um investidor de longo prazo. Pode ser muito aborrecido quando uma sociedade gestora muda a política de investimento de um fundo: se o novo modelo não combinar com os seus objetivos, terá de resgatar e procurar uma nova solução, o que pode ter impacto nos seus custos e na sua tributação.

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Ao absorver o “irmão” Caixa Fundo Monetário em meados de janeiro, o Caixagest Liquidez foi um dos últimos a mudar as suas regras, o que incluiu um aumento do perfil de risco. A operação permitirá à Caixagest fazer “uma gestão mais eficiente da carteira conjunta”, de acordo com a carta que a sociedade gestora da Caixa Geral de Depósitos enviou aos investidores dos fundos.

Também no arranque do ano, o IMGA Rendimento Mensal deixou de distribuir dividendos mensais para fazer pagamentos semestrais, mudando o nome para IMGA Rendimento Semestral. O objetivo da IM Gestão de Ativos foi “ajustar a sua oferta de fundos de investimento às necessidades dos seus clientes, mitigar o atual ambiente de reduzidas taxas de juro e do rendimento dos ativos que compõe a carteira do fundo e ajustar a capacidade de distribuição de rendimentos face à expetativa de recebimento por parte dos seus subscritores”.

A grande desvantagem dos fundos cotados é a necessidade de adquirir as unidades de participação na bolsa. Além de envolver comissões de bolsa, é um grande entrave para os investidores menos experientes. Mais à frente mostramos como negociar na bolsa. Não é assim tão difícil.

Como escolhemos os fundos cotados

Há mais de cinco mil fundos cotados nas várias bolsas espalhadas pelo mundo. Como eleger o certo para o seu dinheiro? O Observador segue principalmente os seguintes critérios:

Harmonizado para baixar a tributação

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Embora possa ser feito o englobamento aos restantes rendimentos, as mais-valias e os dividendos de fundos cotados são alvo, à partida, de uma tributação de 28%.

Se não forem considerados instrumentos financeiros complexos, as mais-valias alcançadas após dois anos de investimento podem beneficiar de um fator de correção monetária, que é calculada automaticamente pelo Fisco. Grosso modo, a correção monetária traduz-se numa tributação apenas sobre o ganho acima da inflação.

Se for classificado como complexo, a tributação não beneficia do fator de correção monetária. A declaração é feita no quadro 13 do anexo G do Modelo 3 de IRS em vez do quadro 9. Investir num fundo harmonizado é meio caminho para não ser considerado como complexo.

  1. Bolsa. Os custos de negociar na bolsa são normalmente mais baixos se o fizer em Lisboa. Depois, Amesterdão, Bruxelas e Paris são os destinos mais económicos para o seu dinheiro. Confirme no preçário do seu intermediário financeiro. Por isso, regra geral, optamos por fundos cotados nestas quatro praças, que conjuntamente formam a Euronext.
  2. Harmonizados. Os fundos registados no seio da União Europeia seguem regulamentos semelhantes. Para os investidores, participar num fundo harmonizado é uma garantia que as sociedades gestoras seguem as mesmas regras que a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários procura que os fundos portugueses cumpram. Normalmente, os fundos estrangeiros harmonizados incluem na sua designação “UCITS”, as iniciais de Undertakings for Collective Investment in Transferable Securities Directive, a diretiva que permite aos fundos harmonizados serem comercializados nos vários estados-membros na União Europeia.
  3. Replicação. Preferimos fundos que compram realmente os ativos, fazendo o que se chama de replicação física. A alternativa, a replicação sintética, consiste em investir através de instrumentos e contratos derivados. Embora possa ficar mais económica, a replicação sintética pode adicionar uma ou várias camadas de risco, nomeadamente o risco de contraparte. Na bolsa de Lisboa, há 14 fundos cotados, como o ComStage PSI 20 UCITS ETF e o ComStage MSCI World TRN UCITS ETF, mas são todos sintéticos.
  4. Índice de referência. Opte por índices muito conhecidos, como o MSCI World, o Euro Stoxx 50 ou o Standard & Poor’s 500. Se é um investidor de longo prazo, compre fundos que repliquem simplesmente o índice. Evite os fundos alavancados e os fundos que amortizam a volatilidade.
  5. Dimensão e liquidez. Procure fundos cotados de grande dimensão e com um elevado volume negociado por dia. Investir em fundos pequenos e com pouca liquidez reflete-se em piores negócios para os investidores.
  6. Dividendos. Se não precisa de um rendimento periódico (para compensar a pensão de aposentação, por exemplo), não invista em fundos que distribuem dividendos. Mesmo que precise de um rendimento periódico, não exclua os fundos sem distribuições: pode sempre vender na bolsa à medida que for precisando.
  7. Empréstimos. À partida, a sociedade gestora poder fazer empréstimos de títulos na carteira não é uma boa notícia. No entanto, não desista de um fundo se a gestora partilhar os rendimentos do empréstimo com os investidores e se tiver garantias sobre uma grande parte (90% ou mais) dos títulos emprestados. Veja o caso do iShares Core MSCI World UCITS ETF, que o Observador recomendou múltiplas vezes: tem emprestado entre 4% e 5% da carteira, o colateral protege mais de 100% dos empréstimos e 62,5% das receitas dos empréstimos são para os investidores, o que aumentou a rentabilidade anual em cerca de 0,02 pontos percentuais nos últimos 12 meses.

Não quebre estas regras a não ser que tenha uma razão muito forte para o fazer. Atualmente, há uma febre entre os investidores em fundos cotados: os fundos inteligentes. Resumidamente, estes fundos seguem um índice cujos componentes são selecionados por regras algorítmicas. É o caso, por exemplo, do iShares Russell 1000 Value ETF: a carteira é composta pelas ações das principais empresas norte-americanas consideradas subavaliadas de acordo com alguns indicadores bolsistas, tal como o rácio preço-lucro. Excluímos os fundos inteligentes deste artigo.

Ideias para investir seguindo índices

A partir dos critérios anteriores – e de outros mais técnicos –, o Observador compilou uma lista com alguns fundos cotados que podem satisfazer um grande número de investidores portugueses.

Nove fundos cotados para começar a investir
Estes fundos estão entre os mais líquidos nas bolsas Euronext. A replicação é física, embora, por vezes, seja de uma forma otimizada, isto é, os fundos não detêm diretamente uma pequena parte dos ativos do índice de referência. Nenhum distribui dividendos.
Fundo
(Código de negociação)
Categoria
(Índice de referência)
Taxa global de encargos correntes Património
(milhões de euros)
Valor médio negociado por dia
(3 meses)
Principais títulos
iShares MSCI Europe UCITS ETF EUR (Acc)
(Amesterdão: IMAE)
Ações da Europa
(MSCI Europe)
0,33% 570 751.579€ Nestlé, HSBC Holdings, Roche
iShares Core Euro Stoxx 50 UCITS ETF
(Amesterdão: CSX5)
Ações da zona euro
(Euro Stoxx 50)
0,10% 2.280 2.395.191€ Total, Siemens, Bayer
iShares Core MSCI Emerging Markets IMI UCITS ETF
(Amesterdão: EMIM)
Ações de mercados emergentes
(MSCI Emerging Markets Investable Market)
0,25% 4.039 990.181€ Samsung Eletronics, Tencent Holdings, Taiwan Semiconductor Manufacturing
iShares Core MSCI World UCITS ETF
(Amesterdão: IWDA)
Ações do mundo
(MSCI World)
0,20% 8.378 4.872.730€ Apple, Microsoft, Exxon Mobil
iShares Core S&P 500 UCITS ETF
(Amesterdão: CSPX)
Ações dos EUA
(Standard & Poor’s 500)
0,07% 18.959 2.694.946€ Apple, Microsoft, Exxon Mobil
Lyxor EuroMTS 1-3Y Investment Grade (DR) UCITS ETF
(Paris: MTA)
Dívida pública da zona euro de curto prazo
(EuroMTS 1-3Y)
0,165% 764 1.672.043€ Dívida pública de França, Itália e Alemanha
Lyxor EuroMTS 5-7Y Investment Grade (DR) UCITS ETF
(Paris: MTC)
Dívida pública da zona euro de médio prazo
(EuroMTS 5-7Y)
0,165% 518 1.633.862€ Dívida pública de França, Itália e Alemanha
Lyxor EuroMTS 10-15Y Investment Grade (DR) UCITS ETF
(Paris: MTE)
Dívida pública da zona euro de longo prazo
(EuroMTS 10-15Y)
0,165% 78 429.761€ Dívida pública de Itália, França e Alemanha
Lyxor EuroMTS Inflation Linked Investment Grade (DR) UCITS ETF
(Paris: MTI)
Dívida pública da zona euro indexada à inflação
(EuroMTS Investment Grade Eurozone Inflation-Linked Bond)
0,20% 934 624.418€ Dívida pública de França, Itália e Alemanha
Fonte: Bloomberg, entidades gestoras. 30 de janeiro de 2017

Naturalmente, a eleição do melhor ou dos melhores fundos cotados para si depende unicamente do seu perfil e dos seus objetivos. A lista anterior é apenas um ponto de partida. Existem alguns motores de pesquisa de fundos cotados na Internet que facilitam a descoberta de novos produtos, como o justETF para fundos europeus e o etf.com para os norte-americanos.

Como investir em fundos cotados

Depois de saber qual o fundo certo para a sua carteira, reúna o dinheiro que quer aplicar e avance para a compra na bolsa através do seu intermediário financeiro.

O primeiro passo para investir num fundo cotado é decidir o preço a que está disposto a comprar. Evite transmitir ordens ao melhor, em que o intermediário procura o melhor preço para a sua operação. Nem sempre o resultado é satisfatório, especialmente em títulos pouco negociados.

Para baixar os custos de negociação, opte pela negociação pela Internet e pelo investimento de mil euros ou mais em cada operação. Se o seu intermediário de bolsa não lhe oferece cotações em tempo real, não pague para as ter. A maioria das bolsas de valores faculta essa informação. Mesmo que não faculte, é possível encontrar noutros sítios.

Por exemplo, para decidir o preço de compra do iShares Core MSCI World UCITS ETF, procure pelo código de negociação “IWDA” no sítio da Euronext. Encontrará a página de cotação do fundo, que inclui informação como a que está em baixo.

Excerto da página da Euronext sobre o iShares Core MSCI World UCITS ETF às 11h05 de Lisboa do passado dia 30 de janeiro (12h05 em Amesterdão).

Alternativa: a pesquisa certa no Google também dá informação básica sobre títulos, incluindo fundos cotados. No caso do iShares Core MSCI World UCITS ETF, procure por “AMS:IWDA” (“AMS” é o código da bolsa de Amesterdão para o Google; “EPA” é o de Paris). Pode aprofundar a informação no Google Finance.

Todavia, no caso de negociação nas bolsas de Amesterdão, Bruxelas, Lisboa e Paris, o sítio da Euronext é suficiente quando conjugado com a plataforma de negociação do intermediário financeiro.

Se não tem em mente um preço máximo a pagar na compra, há três elementos que o podem ajudar:

  1. Preste atenção à cotação da última operação, o maior número da página informativa da Euronext. No exemplo anterior, o último negócio foi efetuado a 42,43 euros por ação.
  2. Descubra o INAV (indicative net asset value): tal como a maioria dos fundos tradicionais tem uma cotação de fim de dia que reflete o valor do património, os fundos cotados também têm, mas é calculado muitas vezes por dia, normalmente de 15 em 15 segundos ou a cada minuto. Resulta da divisão do valor do património pelo número de títulos. Na página da Euronext, está na última linha da caixa principal. No exemplo, anterior, o INAV era de 42,47 euros.
  3. Analise o livro de ordens, que mostra as propostas de compra e de venda mais próximas de serem satisfeitas, incluindo o preço e a quantidade. No caso do fundo da iShares, poderia encontrar a melhor proposta de compra e de venda logo em baixo da cotação (370 títulos para serem comprados a 42,415 euros e 3.000 títulos para serem vendidos a 42,43 euros), o que poderia ser complementado com mais informação no fundo da página. Ao contrário do último preço e do INAV, a informação do livro de ordens tem um atraso de 15 minutos no sítio da Euronext.

Quanto mais urgente for a sua compra, mais elevado tem de ser o preço a propor ao mercado. (Se é um investidor de longo prazo, raramente deverá ter urgência.) No exemplo anterior, às 11h05 do passado dia 30 de janeiro, o investidor sabia que a última operação efetuada sobre o iShares Core MSCI World UCITS ETF tinha sido a 42,43 euros cerca de 15 minutos antes, que o valor patrimonial de cada título era, no momento, de 42,47 euros, mas que, segunda a última informação, a melhor proposta de compra era a 42,415 euros. Com esta informação, poderia lançar uma ordem de compra a 42,42 euros, colocando-se potencialmente no primeiro lugar do livro de ordens do lado dos compradores.

Não há regras perfeitas para definir o preço de compra (e de venda). Porém, os indicadores anteriores são um bom ponto de partida para definir os seus critérios.

Uma compra a 42,42 euros seria sensata para um investidor de longo prazo, porque, a concretizar-se, seria abaixo do valor patrimonial do fundo, que estava a 42,47 euros. Obviamente, ao longo de cada sessão de bolsa, os vários preços de referência alteram-se.

Como efetivar a ordem de compra? Depois de decidir o preço é preciso calcular o número de títulos a adquirir. Basta dividir o montante a aplicar substraído da comissão de bolsa pelo preço. No caso anterior, se o investidor tivesse dois mil euros para aplicar, poderia comprar 47 títulos: (2.000€ – 5€) ÷ 42,42€ = 47,03. Este cálculo assume uma comissão de bolsa de cinco euros, que é o montante cobrado pelo Banco Carregosa através do serviço GoBulling Pro, que o Observador já indicou como sendo o mais barato para investir via Euronext.

A eleição do intermediário financeiro é crucial para o sucesso de uma estratégia de longo prazo com fundos cotados. Ao contrário do Banco Carregosa, a maioria dos bancos cobra comissões de custódia de títulos e de pagamento de dividendos, além das comissões de negociação.

Através da plataforma de Internet do GoBulling Pro, a ordem de bolsa teria este aspeto:

Excerto da página de negociação do serviço GoBulling Pro do Banco Carregosa às 11h06 do passado dia 30 de janeiro.

Os investidores de longo prazo devem sempre optar por ordens de bolsa simples. Se a sua ordem não for executada ao longo do dia, não desespere: regresse no dia seguinte. Pode ser que consiga um preço mais baixo. Volte as vezes que forem precisas, porque a experiência que ganhar valerá para todo o seu futuro como investidor de bolsa.

David Almas é analista financeiro independente registado na CMVM com o número oito. O autor trabalha subordinado ao Código Deontológico dos Jornalistas. O autor detém unidades de participação do iShares Core MSCI World UCITS ETF.