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O que é a Web Summit?

É a maior conferência de empreendedorismo, tecnologia e inovação da Europa, que decorre de 7 a 10 de novembro em Lisboa. É a primeira vez que o evento sai da casa-mãe, na Irlanda, para outro país. Os locais escolhidos para acolher as mais de 50 mil pessoas que se esperam na conferência foram a Feira Internacional de Lisboa (FIL) e o MEO Arena, na zona do Parque das Nações.

A Web Summit nasceu em 2010, em Dublin, na Irlanda – onde se manteve até 2015 – , pelas mãos de Paddy Cosgrave, o rosto que ainda hoje lidera o evento. Na altura, Paddy conseguiu reunir 400 pessoas da comunidade tecnológica local no Chartered Accountants House, em Dublin. No ano seguinte, triplicou de tamanho e este ano, em Lisboa, a organização espera 53.056 pessoas com entradas para os quatro dias.

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Porque é que a Web Summit saiu de Dublin?

Porque o governo irlandês não conseguiu garantir as condições que um evento desta dimensão precisa de ter asseguradas, em termos de infraestruturas, transportes públicos, wi-fi e de controlo aos preços praticados pelos hotéis.

De acordo com os emails que o fundador da Web Summit trocou com o governo irlandês antes do início da Web Summit de 2015 – e que Paddy Cosgrave divulgou no Twitter, em outubro do ano passado – a organização do evento queria que o executivo conseguisse assegurar “um plano básico” para que Dublin pudesse continuar a acolher o evento.

Nas 36 páginas que foram divulgadas, lia-se que Paddy Cosgrave queria “medidas de controlo de trânsito, aumento da frequência de transportes públicos, hotéis e internet de banda larga”. As respostas tardias que recebeu de Nick Reddy, do gabinete do primeiro-ministro irlandês, e a explicação “enganosa” que obteve – como escreveu – levaram-no a procurar outras cidades na Europa que conseguissem dar as condições que a Web Summit precisava.

A troca de emails revela que a organização do evento não esperava que o Governo investisse capital na Web Summit, mas que houvesse “um compromisso” que assegurasse um aumento da frequência de transportes públicos, um melhor acesso à internet e regras que permitissem que os hotéis não manipulassem preços.

Do governo irlandês, não saiu compromisso nem reunião marcada com os membros da Web Summit.

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Porque é que Lisboa foi a cidade escolhida?

Porque havia três cidades no radar dos irlandeses – Lisboa, Paris e Amesterdão – que já tinham mostrado interesse em receber a Web Summit. Mas o fator que Paddy Cosgrave diz ter sido decisivo para a escolha de Lisboa foi o entusiasmo da comunidade tecnológica.

Quando se soube que a capital portuguesa estava na mira dos irlandeses, a publicação digital Ship lançou o movimento “Let’s bring the Web Summit 2016 to Lisbon”, que envolveu todo o ecossistema. A ideia era encontrar várias razões e enviá-las a Paddy Cosgrave.

Na primeira entrevista que deu ao Observador, o fundador da Web Summit explicou que foi o otimismo dos empreendedores portugueses que o convenceu, depois de começar a receber emails e a ser identificado em publicações das redes sociais com pedidos para que o evento ocorresse em Lisboa.

“Existem talvez 15 cidades na Europa que podem receber o nosso evento. E fomos à procura dessas cidades. A lista ficou cada vez mais pequena e depois aconteceu algo quase mágico: esta campanha surpreendente pelo Facebook e o facto de cada vez que entrava no Twitter ter pessoas a dizer “vem para Lisboa”. E comecei a receber emails muito úteis de portugueses que queriam, por exemplo, ajudar-me a fazer uma visita à cidade”, explicou Paddy Cosgrave ao Observador.

Reconhecido o entusiasmo da comunidade empreendedora e tecnológica portuguesa, bastou à organização do evento confirmar se Portugal tinha as infraestruturas necessárias e se o governo português – na altura liderado por Pedro Passos Coelho – conseguia assegurar as condições que o executivo irlandês não conseguia garantir.

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Que investimento é que isto representa para o país?

O anúncio chegou a 23 de setembro de 2015. Foi nessa data que o vice-primeiro-ministro da altura, Paulo Portas, e o fundador da Web Summit anunciaram que tinham assinado o acordo para que a Web Summit se realizasse na Feira Internacional de Lisboa (FIL) e no MEO Arena em 2016, 2017 e 2018, com possibilidade de se estender por mais dois anos.

O investimento, financiado pelo Turismo de Lisboa, Turismo de Portugal e pela AICEP – Portugal Global, foi de 1,3 milhões de euros para cobrir a logística do evento e infraestruturas, mas, segundo explicou na altura o secretário de Estado Adjunto da Economia, Leonardo Mathias, o retorno esperado para Portugal ronda os 175 milhões de euros.

De acordo com o que o secretário da Indústria João Vasconcelos avançou ao Dinheiro Vivo, o verdadeiro retorno da Web Summit só se sentirá daqui a cinco ou dez anos.

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Mas vai ter um impacto no longo prazo ou só nestes três dias?

O Governo quer que a Web Summit marque um ponto de viragem no ecossistema de empreendedorismo português, colocando Lisboa definitivamente na rota das capitais tecnológicas e atraindo cada vez mais startups e investidores estrangeiros para o país. O objetivo não é, por isso, que o evento se esgote nestes quatro dias, mas que seja a porta de entrada dos grandes players do universo tecnológico no mercado tecnológico.

Para que isso aconteça, o Governo tem vindo a anunciar medidas que prometem tornar o país mais amigo do empreendedorismo, com condições mais atrativas para investidores (nacionais e internacionais) e mais apoios a quem quer lançar empresas no país. E incluiu-as numa estratégia nacional para o empreendedorismo que se chama Startup Portugal.

Uma das medidas que vai ser apresentada do início da Web Summit é um fundo de investimento de 200 milhões de euros que vai financiar startups em parceria com investidores privados (que investem outros 200 milhões), perfazendo um total de 400 milhões de euros.

Segundo o que o secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos, explicou ao Jornal de Negócios e à Antena 1, esta linha de financiamento de 400 milhões vai privilegiar sociedades gestoras de capital de risco portuguesas e estrangeiras com know-how em áreas específicas.

“Nós queremos atrair os melhores investidores. E não só investidores de capital de risco. Pela primeira vez, nós valorizamos os investidores que tenham ‘know-how’ da indústria, especialização”, afirmou João Vasconcelos ao Jornal de Negócios.

O programa 200M é anunciado na segunda-feira e a linha de 200 milhões vai ser financiada por fundos do Portugal 2020, de acordo com a mesma publicação. Além desta, o executivo lançou o Programa Semente, que vai permitir aos investidores particulares obterem benefícios fiscais quando investirem entre 10 mil e 100 mil euros em empresas

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Como é que Lisboa entrou no radar da Web Summit?

Quando Jaime Jorge, fundador da Codacy, subiu ao palco principal da Web Summit, em 2014, para disputar a final do principal concurso de startups do evento, e saiu de lá vencedor. Em novembro de 2014, Jaime Jorge disse ao Observador que tinha ganho “os óscares das startups europeias”.

Paddy Cosgrave contou ao Observador que, na altura, questionou-se como é que era possível que entre tantas startups de Silicon Valley, Berlim e Londres a vencedora fosse portuguesa. Aliado a esse facto, outro: a notícia de que uma startup luso-britânica liderada pelo português José Neves – a Farfetch – tinha entrado para o clube dos “unicórnios” e valia agora mais de mil milhões de dólares.

Estes dois acontecimentos fizeram com que o fundador da Web Summit conversasse com o irmão, que vive em Berlim, sobre Lisboa. O irmão estava de malas feitas para vir morar para a capital portuguesa e Paddy cada vez mais curioso. Hoje, além de receber a Web Summit, a capital portuguesa também é a primeira a ter um escritório da empresa fora de Dublin.

Paddy Cosgrave revelou ao Observador que, antes de escolher Lisboa, havia várias coisas que o preocupavam. Apesar do entusiasmo da comunidade, a cidade tinha capacidade para receber tanta gente, tinha uma boa cobertura de internet de banda larga, tinha uma boa rede de transportes públicos?

“Mas depois vimos os planos [da candidatura] tão detalhados e foi tão impressionante perceber como tudo funcionaria”, explicou em setembro de 2015 ao Observador.

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O que se vai passar na FIL e no MEO Arena?

Na FIL e no MEO Arena não vai decorrer uma só conferência, mas um conjunto de conferências. Além do palco principal, que recebe os nomes mais sonantes da comunidade tecnológica mundial, há palcos secundários onde se discutem, simultaneamente, 21 temas, como música, indústria automóvel, tecnologia financeira, saúde na era digital, marketing, robótica, desporto, entre outras. Pode conhecer as 21 conferências em detalhe aqui.

Além das intervenções e debates em palco, as startups escolhidas pela organização do evento “como as mais promissoras” vão poder exibir o seu produto durante um dia inteiro num espaço próprio para o efeito. É aqui que muitos empreendedores e investidores vão ter oportunidade para trocar contactos e darem-se a conhecer.

Simultaneamente, vai estar a decorrer um concurso de pitch em quatro palcos diferentes – para saber mais sobre esta iniciativa, leia a pergunta seguinte.

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Vai haver um concurso para startups?

Sim. Durante a Web Summit, há 200 startups que vão estar a disputar o “PITCH 2016” em quatro palcos diferentes. Chegadas à reta final, as três finalistas sobem ao palco principal da Web Summit, no último dia do evento, para apresentarem a sua ideia. Os investidores que compõe o painel de jurados decidem, nesta fase, quem é o vencedor do concurso, ou seja, qual é o projeto que vence “os óscares das startups europeias”.

Só concorrem ao “PITCH 2016”, as startups que tenham recebido menos de 3 milhões de dólares de investimento e que não tenham sofrido nenhuma mudança de maior no seu modelo de negócio nos três anos anteriores.

Entre os vencedores das edições passadas, encontra-se a portuguesa Codacy, a irlandesa Connecterra ou a britânica BaseStone.

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Quanto custa ir à Web Summit?

Os preços foram aumentando à medida que o evento se aproximava, sendo que nos últimos dias os passes custavam mais de 1200 euros. Há cerca de duas semanas, o Governo lançou uma iniciativa, “Inspire Portugal”, para jovens entre os 16 e os 23 anos, e disponibilizou mais de 6 mil bilhetes a 9 euros cada – 1% do valor do bilhete na altura: 900 euros.

Contudo, a organização do evento já adiantou que os bilhetes estão esgotados. A Web Summit espera, de acordo com a agência Lusa, 53.056 pessoas na FIL e no MEO Arena, com entradas que dão acesso aos quatro dias do evento.

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A conferência vai mexer com o resto da cidade?

Vai, sobretudo à noite. “Não estava a pensar em dormir, pois não? A Web Summit não acaba às 17h”.

Este é o mote de arranque da Web Summit para todos os meetups que vão acontecer na cidade de Lisboa à noite, onde a comunidade local e internacional vai poder debater temas que vão do marketing à internet, saúde, design ou ambiente. Cada painel é moderado por um convidado e aberto a todos os interessados. Pode conhecer a lista dos meetups aqui.

No Pavilhão de Portugal, o Governo também vai promover várias regiões do país com concertos de artistas portugueses como Noiserv, Gisela João ou Lucas & Medeiros, e mostras de gastronomia típica. Para assistir aos concertos das Sunset Summit não é obrigatório ter bilhete para a Web Summit.

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Quem são estas 50 mil pessoas que vão estar em Lisboa?

São empreendedores, investidores, programadores, políticos, empresários, atletas, celebridades, estudantes, voluntários. De acordo com a Web Summit, vão estar na FIL e no MEO Arena mais de 7 mil líderes de empresas, 2 mil jornalistas e cerca de 15 mil empresas representadas.

Portugal é a nação líder, com 7.787 portugueses a marcar presença na Web Summit, de acordo com a agência Lusa. Segue-se o Reino Unido, com 7.486 inscrições, a Alemanha com 4.175, a Irlanda com 4.058, os EUA com 3.764 participantes e França, com cerca de 2.000. Ao todo, vão estar representadas 166 nacionalidades.

Esperam-se ainda mais de mil participantes vindos da Holanda, Polónia, Dinamarca, Suíça, Espanha e Itália.

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Quantos são os oradores portugueses?

Aos palcos da Web Summit vão subir 31 oradores portugueses como o primeiro-ministro António Costa, Durão Barroso, Carlos Moedas, Luís Figo, Bruno de Carvalho, Miguel Santo Amaro, Jaime Jorge, José Neves, Patrícia Mamona ou Tiago Pires.

Por causa da iniciativa Road2WebSummit, lançada pelo Governo, há ainda 66 startups portuguesas que vão esta na FIL a representar o país. Pode conhecê-las aqui.

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Qualquer pessoa pode ir às conferências?

Sim, desde que tenha bilhete. A Web Summit é uma conferência aberta a qualquer pessoa que queira participar no evento, seja empreendedor, investidor, estudante, profissional de qualquer área, português ou estrangeiro. Não há nenhum pré-requisito para poder entrar na FIL e no MEO Arena.

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Porque é tão importante para as startups estarem presentes neste evento?

Porque é uma oportunidade única para se encontrarem com líderes empresariais e investidores de topo, que vão estar excecionalmente – e muitos pela primeira vez – em Portugal nessa semana, bem como para fazer networking com empreendedores de outros países, de onde podem nascer eventuais parcerias. Sem esquecer o concurso PITCH 2016, não pelo prémio em si mas pela visibilidade e credibilidade que dá à startup vencedora.

Cinco empreendedores portugueses deram alguns conselhos a quem vai à Web Summit este ano neste vídeo publicado no Observador. E os investidores dizem o que devem ou não fazer para captar a sua atenção neste segundo vídeo. O importante é tirar o maior proveito possível dos contactos que se podem fazer dentro e fora do recinto.

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Quem são os principais oradores?

São mais de 600 os nomes que vão pisar os vários palcos da Web Summit (e 31 são portugueses). Destaque para o responsável tecnológico do Facebook, Mike Schroepfer, para o presidente da CISCO, John Chambers, para o ator Joseph Gordon-Levitt, o músico Ne-Yo, Sean Rad, cofundador do Tinder, Eric Wahlforss, cofundador do SoundCloud, Werner Vogels, responsável tecnológico da Amazon.

Do lado do desporto, marcam presença nomes como Luís Figo, Rui Costa, Bruno de Carvalho, Patrícia Mamona, Tiago Pires, Ronaldinho Gaúcho, Louis Saha, Mathieu Flamini ou Garret McNamara.

A política também não fica de fora, com o primeiro-ministro António Costa, o secretário de Estado da Indústria João Vasconcelos, o comissário europeu Carlos Moedas, o presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, Mogens Lykketoft, membros do governo francês, o presidente da Câmara da cidade de Pittsburgh, Bill Peduto, ou o ex-primeiro-ministro grego George Papandreou.

Conheça os restantes oradores aqui.

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É por isso que vão estar cá dois mil jornalistas internacionais?

Sim, mas não só. O ecossistema de empreendedorismo português – sobretudo o lisboeta – tem sido muito falado lá fora. O The Guardian diz que é a próxima capital tecnológica, para a Bloomberg é a próxima Silicon Valley e nem Berlim escapa a esta escala das comparações. O que é certo é que, pela primeira vez, Lisboa entrou no mapa das cidades mais sexys para lançar uma startup, de acordo com a revista Wired.

A imprensa internacional está de olho no que se faz de tecnológico e inovador no país. Mas, para evitar comparações, o Governo lançou uma campanha específica para a semana da Web Summit, a “This is Portugal”. O lançamento ocorreu durante este fim de semana na Ericeira, na abertura da Surf Summit, o evento que juntou líderes de empresas e surfistas em areia e mar português.

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Como vão funcionar os transportes em Lisboa?

O Metro de Lisboa vai ter um passe especial para os participantes da Web Summit, que custa 25 euros e dá acesso, durante nove dias, aos serviços do metropolitano, da Carris e da CP, de acordo com a agência Lusa.

Segundo o jornal Público, a Carris reforça o serviço com carreiras até às 5h da manhã, a 736 e a 728, que vão partir de 15 em 15 minutos do Cais do Sodré para o Campo Grande e Oriente.

Já o metro vai circular durante toda a noite com seis carruagens em todas as linhas. Para que isto seja possível, uma vez que nem todas as estações da linha verde têm capacidade para comboios tão grandes (costumam ter apenas três carrguagens), a estação de Arroios encerra às 21h.

 

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Para o ano há mais?

Há, sim. E para 2018 também. Se tudo correr dentro do que está previsto, há ainda a possibilidade de estender o contrato com a Web Summit por mais dois anos. Mas até à data nada foi dito publicamente. Vamos ter de esperar para ver.