- Qual é a mais nova polémica do Facebook?
- Porque é que o Facebook fez este estudo?
- Mas há problemas éticos e legais?
- Mas isto não viola a política de privacidade do Facebook?
- Em que se baseia o modelo de negócio do Facebook?
- O que acontece às coisas que publicamos?
- Depois disto tudo, vale a pena continuar no Facebook?
- Como manter a privacidade no Facebook?
- Como apagar o histórico do Facebook?
- Como sair de vez do Facebook?
Explicador
- Qual é a mais nova polémica do Facebook?
- Porque é que o Facebook fez este estudo?
- Mas há problemas éticos e legais?
- Mas isto não viola a política de privacidade do Facebook?
- Em que se baseia o modelo de negócio do Facebook?
- O que acontece às coisas que publicamos?
- Depois disto tudo, vale a pena continuar no Facebook?
- Como manter a privacidade no Facebook?
- Como apagar o histórico do Facebook?
- Como sair de vez do Facebook?
Explicador
Qual é a mais nova polémica do Facebook?
Foi este mês revelado que em 2012 o Facebook realizou de forma secreta um estudo de grandes dimensões. Foram envolvidos, sem saber, 689 mil utilizadores. E o objetivo era perceber de que modo aquilo que é apresentado no mural individual influencia o estado de espírito de cada um.
A alguns utilizadores foram mostrados, de forma deliberada, posts conotados com emoções negativas (sobre amigos deprimidos, problemas mundanos como o mau tempo, notícias tristes, etc.); outros receberam o contrário, informações essencialmente positivas. E a verdade é que os resultados demonstram que o feed do Facebook — ou seja, as informações digitais a que acedemos — ajuda a determinar o estado de espírito dos utilizadores. Porque os que receberam mensagens negativas tinham tendência acima da média para postar também mensagens negativas e vice-versa para os que receberam mensagens positivas.
O trabalho foi conhecido agora porque foi publicado pelos académicos que estudaram os seus resultados. Esta publicação provocou um imenso coro de críticas — a grande maioria delas ocorrida no próprio Facebook, o que não deixa de ser irónico…
Porque é que o Facebook fez este estudo?
Desde logo, porque pode. Porque está a beneficiar do facto de ser líder incontestado a nível mundial nas redes sociais, usando e abusando da informação que lhe é dada todos os dias de forma voluntária pelos muitos milhões de utilizadores.
As redes sociais são plataformas privilegiadas para analisar o comportamento humano. Tenha em conta que existem mais de mil milhões de utilizadores ativos, que a esmagadora maioria dos perfis são reais e ilustram o que de facto as pessoas fazem e pensam. Ou seja: os nomes, géneros, fotografias de rosto, idades, locais de nascimento e residência, os gostos são verdadeiros. Somos tudo o que mostramos. E a informação que partilha — o local onde trabalha, o que jantou ontem, o último filme ou livro que viu ou leu e o seu próximo destino de férias — permitem traçar um perfil muito fidedigno com consequências importantes para a privacidade atual e futura.
Depois, porque precisa. A verdade é que o Facebook é um negócio. “Oferece” uma plataforma aos utilizadores em troca dos seus dados pessoais, que depois comercializa de forma muito lucrativa para que estes recebam publicidade que lhes é dirigida (não é a única, a Google e muitas outras centenas de empresas estão no mesmo negócio). Isto implica que faça tudo o que pode para captar o máximo possível de informação pessoal e analisar as reações dessas mesmas pessoas, de modo a conseguir ter melhores resultados junto dos anunciantes.
Este estudo demonstra que a informação que recebemos influencia o nosso estado de espírito, pelo que esse será mais um argumento importante nas vendas de espaço publicitário e na gestão dos feeds individuais.
Mas há problemas éticos e legais?
Há, claro. Eticamente há o problema da pesquisa anónima: como o trabalho foi feito em parceria com a Universidade de Cornell, rompeu-se uma tradição universitária de não conduzir experiências sem o conhecimento dos utilizadores. Na própria revista científica onde o artigo foi publicado exige-se que os autores de estudos adiram à Declaração de Helsínquia, que estipula que pessoas submetidas a testes sejam “adequadamente informadas” dos estudos a que estão sujeitas. Neste caso nada disso aconteceu.
Várias entidades estão a estudar se de alguma forma ocorreu uma violação à lei, entre as quais se conta o governo Britânico e uma organização da sociedade civil norte-americana ligada à defesa da privacidade. A Comissão Europeia também está a estudar eventuais represálias ao gigante digital norte-americano.
Mas isto não viola a política de privacidade do Facebook?
Não. Nas “letras pequenas” está escrito que o Facebook pode “usar a informação que recebemos sobre ti (…) para as operações internas, incluindo a resolução de problemas, a análise de dados, o teste, a pesquisa e o melhoramento de serviços.”
Na prática, nenhum utilizador tinha de ser avisado previamente. Quando abriram a conta no Facebook, todos concordaram e deram permissão à empresa para aceder a estes dados e inclusivamente para alterar os princípios da política de privacidade. De facto, quatro meses antes de realizar este estudo o Facebook alterou a política de utilização, passando a contemplar a pesquisa e investigação.
Mesmo assim já antes o Facebook tinha feito outros estudos semelhantes. Em 2010 aproveitou as eleições americanas para mostrar mensagens de apelo ao voto, que o próprio Facebook admitiu terem resultado em maior participação eleitoral. Já na altura este estudo provocou indignação pelo potencial para manipular facilmente resultados eleitorais, mas não houve consequências legais.
Em que se baseia o modelo de negócio do Facebook?
Não tenha ilusões: o negócio do Facebook somos todos nós. Há um ditado americano que diz qualquer coisa como isto: “se você não está a pagar pelo produto, então você é o produto”. A rede vende a nossa privacidade, sob forma dos nossos dados digitais, aos que a compram pelo preço mais alto. Como diz o professor de Media Digitais Jay Rosen: “Você quase não tem direitos. Você quase não tem controlo. Você nem sabe quem recebe aquilo que você publica, nem nunca saberá.” Nem mesmo aqueles que não têm conta na rede social estão “a salvo”. Quando publica uma foto de alguém que não tem conta nesta rede e lhe associa o rosto ao nome, o Facebook fica a saber quem é.
Com o que publica a rede fica a conhecer os seus hábitos, onde está e com quem, e de cada vez que faz “gosto” numa publicação de um amigo fica a saber do que gosta, a frequência com que se relaciona com essa pessoa, etc. Toda a sua atividade é escrutinada por poderosos algoritmos informáticos que traçam o seu perfil para refinar, por exemplo, a publicidade que lhe é apresentada. Podemos dizer com certeza que toda a informação que lhe é apresentada no mural é constantemente manipulada.
Outra fonte importante de lucro do Facebook são as empresas. O investimento no marketing digital é crescente e porque cada vez há mais gente na rede e menos espaço nos murais, as marcas acabam por ter de pagar ao Facebook para se fazerem notar. E não estamos a falar de formas de publicidade paga, mas das páginas que os utilizadores seguem deliberadamente. Já reparou que há páginas em que fez “gosto” que nunca aparecem no seu mural?
O que acontece às coisas que publicamos?
Tudo o que partilha no seu mural, mesmo que para um grupo restrito de pessoas, é usado pelo Facebook para traçar o seu perfil. Uma foto ou um comentário, mesmo que apagado segundos depois de ser publicado, permancerá por tempo indeterminado nos arquivos da empresa. Inclusivamente, há suspeitas que até aquilo que escreve e depois acaba por não publicar (um comentário ou post), fica registado.
As comunicações por mensagem privada ficam também registadas, bem como o histórico do seu browser. Sempre que a empresa consiga relacionar consigo um IP (endereço individual de internet) ou um aparelho (como um computador, um smartphone ou um tablet), vai usar os seus poderosos algoritmos para juntar a informação que tem de si e dos seus de modo a qualificar e quantificar os dados.
Depois disto tudo, vale a pena continuar no Facebook?
A resposta depende de si. O Facebook é uma ferramenta extremamente valiosa para chegar a outras pessoas, para congregar grupos comuns de interesses comunitários e para aceder a informações e notícias. Se está disposto a abdicar de alguma privacidade para o fazer, tudo bem — mas esteja, por favor, consciente das consequências da sua escolha.
Como manter a privacidade no Facebook?
– Escolha os seus amigos
A média de “amigos” na população adulta é de 300 por utilizador, e há quem tenha milhares. Mas quantos amigos tem na vida real?
Não aceite um pedido de “amizade” a não ser que conheça essa pessoa. Tal como na vida real, não se sinta desconfortável por não aceitar na sua rede alguém que não conhece.
Do mesmo modo, não hesite em bloquear um “amigo”. Se o fizer, essa pessoa deixará de ter acesso total à sua conta. Tem uma opção menos radical, que é a de a colocar na chamada “lista restrita” (vá a Definições > Bloquear > Lista Restrita); essa pessoa passa apenas a poder ver as suas publicações públicas.
Mas pode acontecer que receba um convite de alguém que conhece e não tem coragem de recusar (um familiar mais distante ou o seu chefe) e este é um bom argumento para que:
– Crie grupos restritos
Acrescente ou adicione à lista de Amigos as pessoas que lhe são mais próximas (os amigos reais) e todos os outros nos Conhecidos. Assim pode selecionar com que grupos quer partilhar o que publica, e pode ainda refinar estes grupos criando Listas. Este processo pode demorar algum tempo, mas vai ver que compensa. Quando escrever um post, escolha cuidadosamente o grupo de pessoas que o podem consultar.
– Edite as definições de privacidade
O Facebook tem ferramentas que lhe permitem manter a sua conta mais ou menos oculta:
1) desligue a possibilidade de o encontrarem através do seu endereço de correio eletrónico, e restrinja os novos pedidos de amizade, quando muito, aos amigos dos seus amigos.
2) desligue a opção de indexação dos motores de busca, para evitar que o Google ou o Bing leiam as suas publicações, evitando assim que eles tornem públicas as suas produções.
3) desligue a opção “seguidores”. É possível que alguém o siga sem se tornar seu amigo, embora neste caso apenas tenha acesso ao que publicar em modo “público”.
4) atenção que o Facebook muda estas definições com relativa frequência, e quando o faz “abre” o seu perfil. Mantenha-se atento às alterações, de tempos a tempos verifique o estado das suas definições de privacidade.
– Proteja as suas fotos, ou melhor ainda, não publique nunca uma foto que o comprometa, nem que o esteja a fazer para um grupo restrito. E não se esqueça: proteja as suas crianças. Mostrar uma fotografia em papel é muito diferente de o fazer num mural, ainda que restrito.
– Desligue a sua identificação nas fotos, ou selecione a opção “rever para publicação”.
– Na dúvida, desligue tudo o que não compreende, ou caso esta opção não seja apresentada, altere a visibilidade para “apenas eu”.
– Como ponto de partida, assuma que tudo o que partilha (nas redes sociais) nunca mais de lá sai. Mesmo que decida apagar uma foto ou um comentário segundos depois de o publicar, ninguém lhe garante que não só este foi visto, como alguém o copiou (usa-se muito o termo screenshot, ou seja, “captura do ecrã”).
Como apagar o histórico do Facebook?
O processo é trabalhoso porque obriga a ocultar da sua cronologia, uma a uma, cada publicação, ligações (“tags”) e até cada “gosto”. Vá ao “registo de atividade” e escolha a opção “eliminar”.
Antes de apagar a sua informação, tem hipótese de guardar o seu histórico, descarregando para o computador tudo o que partilhou (textos, fotos, vídeos e mensagens). Vá a Definições > Geral e escolha a opção “transferir informação”.
Como sair de vez do Facebook?
Para apagar definitivamente a conta, siga esta ligação, no final da página encontra uma opção para apagar a sua conta. 90 dias depois de pedir para ser eliminado, todos os seus dados serão apagados.
Se ainda não está absolutamente decidido mas quer fazer uma “pausa”, vá a Definições > Segurança e suspenda a conta. Deste modo desaparecerá da rede, mas a sua atividade continuará acessível para os utilizadores que o seguem.