Assunção Cristas é deputada pelo CDS à Assembleia da República; e também é candidata pelo CDS à presidência da câmara de Lisboa. Por vezes, estes dois registos cruzam-se. Como aconteceu no debate quinzenal com o Governo, na Assembleia da República, no início do mês. A líder centrista usou parte do tempo que tinha disponível para a sua intervenção para fazer campanha eleitoral: Cristas puxou de um cartaz com o esquema das linhas do Metro de Lisboa onde constavam algumas alterações: novas estações (20, ao todo), que, avançou logo de seguida o Observador, o CDS admite que sejam construídas até 2030.
“Ou há rasgo, horizonte e ambição para o metro de Lisboa ou os problemas da área metropolitana não se vão resolver (…) A nossa proposta são 20 novas estações para o metro de Lisboa e espero que possam ser estudadas, planeadas, financiadas e tratadas”, defendeu Assunção Cristas.
O que está em causa?
Foi dessa intervenção que António Costa partiu para lançar o contra-ataque. Aproveitando o facto de a presidente do CDS ter assumido funções no anterior Governo, o primeiro-ministro acusou a deputada-em-modo-campanha-eleitoral de ter contribuído para a perda de passageiros nas empresas de transportes da capital. Mais concretamente, uma perda de 100 milhões de passageiros no período em o anterior Governo esteve em funções.
Para o caso, importa perceber se, entre 2011 e 2015, a Carris e o Metro perderam os tais 100 milhões de passageiros.
Quais são os factos?
O Governo de Pedro Passos Coelho tomou posse a 21 de junho de 2011 e a legislatura terminaria a 26 de novembro de 2015. Ora, se nesse período a Carris e o Metropolitano de Lisboa viram o universo global de passageiros cair em 100 milhões — segundo o primeiro-ministro e ex-presidente da Câmara de Lisboa –, quais eram, então, os números de passageiros nestas empresas antes de junho de 2011 e quais passaram a ser esses valores depois desse momento?
O Observador contactou a Carris e o Metro de Lisboa, solicitando que fossem disponibilizados os dados de circulação nos anos já mencionadas.
No que diz respeito à Carris, em 2010, a empresa registou um total de 184,4 milhões de passageiros transportados. No ano seguinte, 2011 — o primeiro ano que pode ser contabilizado como já refletindo o fator austeridade nos seus números, ainda que PSD e CDS só tenham chegado ao poder a meio desse ano –, a empresa transportou 183,7 milhões de passageiros. Apesar de já aqui se registar uma quebra face ao ano anterior (com uma perda, em números redondos, de 700 mil passageiros), essa tendência acentua-se na comparação com o ano seguinte e até 2014 os números continuam a baixar.
Quando o calendário chega a 2015, a Carris tem um volume de passageiros de 144,8 milhões de pessoas. Subtraindo este valor ao que se verificava em 2011, no início do mandato, constata-se uma perda de 38,9 milhões no número de passageiros que tinham utilizado a Carris.
No caso do Metro, só foi possível aceder aos dados a partir de 2011, ficando por isso de fora uma análise (de contextualização) que inclua o universo de passageiros antes da entrada em funções do executivo liderado por Passos Coelho. A tendência é idêntica para as duas empresas no período em questão, apesar de a recuperação do número de passageiros no Metro começar ainda em 2014.
O Metro fecha as contas de 2011 com 149,5 milhões de passageiros transportados. No final de 2015, esse universo tinha caído para os 142,7 milhões. Ou seja, na comparação entre o primeiro e o último ano em que Cristas esteve no Governo, a empresa perdeu 6,8 milhões de passageiros.
Feita a análise de ambos os casos em separado, há que somar as perdas registadas pelas duas empresas para determinar o valor total de passageiros que deixaram de usar aqueles transportes durante a legislatura em que Assunção Cristas foi ministra.
Considerando o período de governação PSD/CDS, o resultado a que se chega não se aproxima minimamente daquele que foi enunciado pelo primeiro-ministro na Assembleia da República. Entre 2011 e 2015, Carris e Metro de Lisboa perderam, em conjunto, 45,7 milhões de passageiros — menos de metade dos 100 milhões a que se referiu Costa na sua réplica à líder do CDS.
Conclusão
Os números são claros. Por um lado, é verdade que as empresas de transportes da capital sofreram uma redução significativa do número de utilizadores em boa parte dos anos de austeridade, uma redução para a qual contribuiu a situação económica do país nesse período (com quebra na taxa de emprego, aumento do desemprego e uma consequente redução da mobilidade na capital).
Por outro lado, na reta final da anterior legislatura começou a notar-se uma inversão do número de passageiros que utilizaram os serviços da Carris e do Metro de Lisboa. No balanço final, os valores apresentados por António Costa quando se referiu à quebra no número de passageiros em ambas as empresas foi manifestamente exagerado.
Correção: Foram retiradas todas as referências a uma eventual tutela dos transportes por parte da Assunção Cristas. Essa pasta esteve sempre no Ministério da Economia. Foi também alterado o prazo das contas, que inicialmente foi apenas feito para os anos de 2011 e 2013. Ainda assim, o resultado do fact-check não se altera.