Deixe de conversar com a sua mulher e desabafe com amigos, familiares e, sobretudo, com outras mulheres e “amigas”, aquelas queridas que só querem ser suas “confidentes” (mas que o levariam para a cama sem pestanejar). Pense que há coisas tão íntimas que o vão desmascarar e dar a parte fraca. Não confidencie com a sua mulher, nem pensar. Entregou a sua vida por ela, mas há muita gente à sua volta ávida de saber dos podres e a necessitar de conteúdos para conversas. Não os deixe sós. Depois, não é muito cómodo interromper a sua vida na ribalta ou a sua carreira de sucesso e mais dois bebés com coisas de somenos. Então não é o maior? Nunca conversa com a cara-metade? Há uma imagem para manter e muitas bocas para alimentar, seria um descalabro tentar mudar isto. Assim, facilmente a coisa deteriora-se e no dia em que falam, é tanta a porcaria que já não vai a tempo para consertar.

Saia muito com amigos (e amigas). Então porque casou, acabou a sua vida? É que nem pensar, não é nenhum chato. De vez em quando, é preciso sair à noite, vida louca, uns copos. Não mude assim tanto os hábitos de solteiro. Casa suja? Qual o problema? Ir ao parque a quinquagésima vez porque a cara metade quer? Nem pensar, pense pela sua cabeça. Assim, lentamente vai-se esquecendo da pessoa com quem casou e pensando cada vez mais em si. Vai chegar a um ponto que pensa que a pessoa já não lhe faz feliz. Meio caminho andado para acabar com tudo.

Deixe a família sempre para último. A sua carreira brilhante não se faz com um par de horas de trabalho. Às vezes é preciso ficar para depois das 18h e até para depois do jantar, mesmo que durante o dia esteja na palheta. Nem pense em vir para casa a horas, de ajudar a limpar e cozinhar, ouvir a mulher e ainda tratar dos filhos. Ao fim de semana, faça alguma ação social, há tanta gente a precisar de ajuda. Depois, não se esqueça dos amigos, ou sair ou jogar à bola. Amigos sempre. Depois ao domingo tem os escuteiros, não se esqueça que precisam. E assim vê que a sua vida é super-preenchida e dada aos outros e a coisas interessantes. Não fique em casa, é sempre mais do mesmo. Assim evita confrontações, rotinas e cedências. Fuja de casa.

Não realize atividades diferentes da rotina com a sua cara-metade, como por exemplo caminhadas, ir a museus e concertos, conversar longamente sobre tudo e nada. Nada disso, depois de uma semana estafante, meta-se no shopping a ver as montras, não se esqueça de estar sempre atento ao telemóvel e vejam também muita televisão juntos em casa. Está sol lá fora mas esqueçam, isso é para estrangeiros, o netflix acabou de chegar a Portugal.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Nunca reze, vá ao psicólogo, leia livros ou tenha hobbies. Isso é tudo veneno. Rezar é para beatos. Se casou pela Igreja, foi um proforma bonito, pois a capela era do Séc. XV, a mulher estava com um vestido de sonho, foi imensa gente e o copo de água de arromba. As promessas que fez, aquilo é tudo discurso de velhos, ninguém liga àquilo. Muito menos, rezar em casal, ir à Missa e aconselhar-se com um padre, isso é para beatos e retrógrados.
Depois, se se sentir em baixo, nunca vá a um psicólogo, é gente perigosa que faz com que nos conheçamos e consigamos ser mais felizes, nada disso. A verdade dá muito trabalho. Isso é para deprimidos e frustrados. Por fim, nem sequer pegue em livros. Ler umas “gordas” da bola e ver umas famílias perfeitas em revistas cor-de-rosa é mais fácil. Livros, que o fazem conhecer melhor o ser humano, sonhar e sair de si, nem pensar. Isso é para nerds e intelectuais. Então correr e ginásio? Não é para si. Alivia demasiado o stress e aumenta a sua autoconfiança, algo de bastante mau para acabar casamentos. E hobbies? Não há tempo.

Não faça amor com a sua mulher. Pode ter dois perfis, ou se acha um sex bomb e a chama já acabou ou acha que sexo é só para procriar e tudo é pecado. No primeiro caso, veja pornografia, masturbe-se de vez em quando, também. Assim, ainda mais se vai afastar da sua mulher e ter pena de não fazer acrobacias como aquelas mulheres perfeitas dos filmes. Além disso, assim pensa mais em si próprio do que na sua mulher e filhos. Bom caminho para acabar o casamento. Se for do 2º perfil, continue assim, pois tornará a coisa cada vez mais tabu e acabarão por deixar de fazer, começando a afastar-se um do outro progressivamente, afetando também a alegria da relação e a vida familiar. Bom caminho.

Seja dependente financeiramente do seu cônjuge. Se quer mesmo que o casamento se dificulte, não se esforce por ter um caminho profissional próprio. Ponha-se à sombra da bananeira e espere que tudo recaia sobre o seu cônjuge. Assim, como ele lhe paga tudo, vai começar a mandar em si e assim torna-se num inútil e pau mandado. Se a dependente for a mulher, será sempre a parte fraca pois estará a deprimir-se e a comparar-se com outras mulheres de sucesso a toda a hora. E se o marido começa a descambar, até a trair, a mulher não pode sair de casa, pois vai para a rua. Assim é a perfeita receita dos casamentos de fachada, mulher insatisfeita, homem insatisfeito, todos supostamente perfeitos mas a infernizar a vida de família e todos à volta. Se for homem, é perfeito ser a mulher a sustentar, pois este vai-se sentir ferido na sua posição de macho-alfa e cada vez mais pau-mandado, fartar-se-á nos seus complexos ou a mulher troca-o por um homem a sério. Se o casamento dura, a mulher chega à terceira idade e sente-se diminuída intelectualmente, pois o marido parou de trabalhar e ela chega à conclusão que só sabe limpar e cozinhar, não acompanhando as conversas das pessoas, complexando-se e descarregando nos outros.

Nunca ajude em casa. Lavar a loiça, limpar, pôr a mesa, levar o lixo, passar a ferro, cozinhar, buscar os filhos, divisão de tarefas? É que nem pensar. Isso é para emancipadas feministas que não sabem que quem manda é o macho. Vão mas é ler Simone de Beauvoir para a lavandaria que o meu amigo tem é de ir ler o Finantial Times e ver a bola. Nada de ajudar em casa e partilhar tarefas. Assim, progressivamente a sua mulher não vai aguentar com o triplo papel de mulher, mãe e trabalhadora. Meio caminho andado para começar a não aguentar, silenciosamente o começar a culpar, deixar de ter vontade para fazer amor ou rir com os filhos, acabando tudo como sabemos.

Boa sorte. Quero dizer, boa desgraça. No próximo episódio desenvolveremos o seguinte tema: como lidar com as dívidas depois do divórcio, as depressões dos filhos e a partilha dos fins de semana.

Co-fundador do site datescatolicos.org