Portugal é um país pobre. Com escassos recursos naturais, nunca fomos capazes de criar uma indústria capaz de evoluir ao ponto de se tornar uma verdadeira referência internacional. A nossa marca não tem prestígio, por isso a única coisa que as empresas Portuguesas podem fazer para se tornarem competitivas é fazer o mesmo que os outros fazem, mas a um preço mais reduzido. Devido a isso, a nossa economia nunca cresceu o suficiente para que fosse possível pagar bons salários aos trabalhadores, uma vez que isso sacrificaria o preço dos produtos, tornando as empresas inviáveis. Vivemos num país em que milhares de empresas vivem no limiar da sobrevivência, lutando ano após ano para que o barco não afunde, uma realidade que nitidamente passa ao lado de muita da nossa opinião pública.

Mas nós adotamos a realidade alternativa de que tínhamos as condições para viver como se fossemos um país com uma economia forte, e endividámo-nos ano após ano para artificialmente criar um sistema impossível de suportar. O problema é que este processo gera um ciclo vicioso, dado que para suportar um sistema já por si insustentável, é necessário acumular cada vez mais dívida, o que por sua vez aumenta os juros que o país fica obrigado a pagar anualmente, reduzindo-se o orçamento disponível para as áreas que são realmente importantes. Solução? Cobrar mais impostos e aumentar o ritmo de endividamento. Porque é que se considera então que aumentar a dívida e deficit é defender os direitos dos trabalhadores? Não deveria ser óbvio que é precisamente o contrário?

Então chegámos a um ponto em que para além de termos uma indústria sem qualquer capacidade de competir, temos um monstro que asfixia qualquer iniciativa empreendedora. E o que é que alguns discutem em Portugal? De quantos dias de férias deveríamos ter e de quantos salários mínimos pagam os patrões exploradores da Padaria Portuguesa. Até do único setor pujante no país, o turismo, se fala que é demais. Demasiado emprego, demasiado sucesso!

É frequente ouvir-se que na verdade isto funciona ao contrário, primeiro dão-se bons salários, boas pensões e regalias ao povo, e só depois é que se pode esperar que o país cresça. Se para perceber o quão errada é esta ideia não fosse suficiente o facto de nenhum país na história da humanidade ter conseguido aplicar com sucesso esta fórmula, aqui em Portugal isto já foi tentado múltiplas vezes, invariavelmente com o resultado precisamente oposto ao pretendido. Então porque é que esta é ainda uma ideia popular? Será que algum dia deixará de o ser? Tenho imensas dúvidas. A discussão deprime qualquer um que perceba que estamos a uma brisa internacional de deixarmos de nos poder financiar para pagar o nosso deficit.

Realmente é triste observar esta realidade. Portugal, um país em que a sua gente demonstra ter tanto talento e qualidade, segue em velocidade cruzeiro na auto-estrada da mediocridade.

Engenheiro de Software

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