O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou um decreto que proíbe a publicação nos órgãos de informação e na Internet de informações sobre baixas das tropas russas em operações especiais. A partir de agora, trata-se de mais um “segredo de Estado”.

Semelhante lei existiu na era comunista e foi revogada em 1993.

A oposição apressou-se a acusar o dirigente russo de, com essa lei, tentar encobrir a participação militar russa na Ucrânia.

“Esta lei reflecte e é consequência  do medo perante a verdade. Esta verdade tornou-se evidente para todos os que compreendem o que está a acontecer nas relações entre a Rússia e a Ucrânia, entre a Rússia e o mundo” – declarou Lev Chlosberg, deputado regional russo que denunciou as primeiras baixas entre comandos russos no país vizinho.

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Segundo a oposição russa, desde o início do conflito no Leste da Ucrânia que já morreram pelo menos 200 soldados e oficiais russos.

O Kremlin desmente essa versão. Segundo Dmitri Peskov, porta-voz do Presidente Putin, a “lei sobre o segredo de Estado” não está ligada à situação na Ucrânia, mas trata-se de “melhorar a legislação no campo dos segredos de Estado” e para que “o regime de secretismo corresponda melhor aos interesses do Estado”.

Se esta lei não tem nada a ver com a guerra da Ucrânia, que operações especiais as Forças Armadas da Rússia poderão vir a realizar?

Há algumas semanas atrás, as tropas ucranianas capturaram dois oficiais que reconheceram estar no activo ao serviço da GRU (espionagem militar) e que participavam numa “operação de reconhecimento”, mas Moscovo insiste em que eles tinham passado à reserva no início do ano passado. Volta-se a repetir a história dos militares russos que vão combater para o Leste da Ucrânia durante “as suas férias”.

Além de encobrir as baixas militares russas no Leste da Ucrânia, esta lei poderá ser útil se o conflito se alastrar à Transdnistria, território separatista russófono na Moldávia.

Na Transdnistria encontra-se instalado um forte contingente militar russo que serve de garantia do cessar de fogo entre os separatistas e as tropas moldavas. Até à semana passada, a Rússia podia enviar novos soldados e oficiais por via férrea, através do território da Ucrânia, que faz fronteira com a Transdnístria, ou por via aérea, através de Chichinau, capital da Moldávia, mas os dois países decidiram proibir a passagem de tropas e armamentos russos pelos seus territórios.

Moscovo respondeu com a reabertura de um antigo aeródromo militar que existe na Transdnístria para transportar, por via aérea, armamentos e homens para lá, mas a Ucrânia respondeu com a instalação de sistemas de defesa antiaérea S-300 e ameaça abater os aviões que entrem no seu espaço aéreo sem autorização.

Ora isto poderá levar os separatistas pró-russos, com o apoio militar de Moscovo, a conquistarem um corredor terrestre entre a Rússia e a Transdnístria através do Leste da Ucrânia.

As televisões e analistas políticos russos já começaram a preparar a opinião pública para esse cenário, tanto mais que o Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, decidiu dar mais um passo que irritou solenemente Moscovo: nomeou governador da Região de Odessa, que faz fronteira com a Transdnístria, Mikhail Saakachvili, antigo Presidente da Geórgia que dirigia esse país em 2008, quando as tropas russas invadiram esse país e apoiaram a criação de dois novos “Estados independentes”: Abkhásia e Ossétia do Sul.

Saakachvili tornou-se cidadão ucraniano para poder ocupar esse cargo.

Normalmente, o Kremlin suporta mal este tipo de “afrontas”.

Seja como for, o conflito no Leste da Ucrânia continua, embora com menor intensidade, e as conversações de paz estão praticamente congeladas. Por isso, o reacender do conflito pode acontecer a qualquer momento.

P.S. Porque será que Vladimir Putin veio em defesa do seu amigo Joseph Blatter, Presidente da FIFA? O dirigente russo deu uma entrevista especial para sublinhar a coragem de Blatter e criticar os EUA por tentarem alargar a sua legislação a todo o mundo. A julgar pelos comentários numerosos da televisão russa, até parecia que Blatter era mais “uma vítima do imperialismo norte-americano”.