A Rússia de Vladimir Putin pode ter interesses internacionais, até porque é um importante jogador na política mundial, mas eles não devem restringir os direitos de países estrangeiros, nomeadamente no que diz respeito à adesão à NATO.

Depois da invasão da Geórgia (2008) e da anexação da Crimeia e de parte do Leste da Ucrânia (2014), os apetites do dirigente russo já transbordaram o espaço pós-soviético e chegam agora aos Balcãs. O Kremlin chama a si o direito de tentar impedir o Montenegro de entrar na Aliança Atlântica.

Em Março de 2014, Milo Jukanovich, primeiro-ministro deste pequeno Estado dos Balcãs, justificou o pedido da adesão com a invasão da Crimeia pelas tropas russas. No ano seguinte, o seu país foi formalmente convidado a aderir à NATO e, em Maio de 2016, foi assinado um protocolo entre as partes.

Este último documento foi levado a votação no Parlamento do Montenegro e retificado, em Abril passado, com os votos de 46 dos 81 deputados desse órgão. No dia 5 de Junho, esse país tornar-se-á o 29º membro da Aliança Atlântica.

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Porém, o Kremlin não aceita essa decisão soberana e tenta uma vez mais ditar condições a outros países europeus. Maria Zakharova, porta-voz da diplomacia russa, alegou que, “tendo em conta o potencial do Montenegro, a Aliança Atlântica dificilmente tirará uma “mais valia” significativa [desse passo]” . Se assim é, porque é que a adesão desse país tanto irrita Moscovo?

A diplomacia russa tenta desesperadamente manter ou alargar a sua área de influência nos Balcãs, onde desde há séculos que se procura afirmar. Não o conseguiu durante a existência da Jugoslávia, mas esforça-se por o conseguir em países da região como a Sérvia e o Montenegro.

No caso deste pequeno país, os serviços secretos russos muito têm tentado para afastar do poder as forças que lutam pela integração do país nas estruturas da NATO.

Em Fevereiro do ano passado, o procurador especial de Montenegro. Milivoi Katnic acusou as autoridades russas de prepararem um golpe de Estado nesse país, mas o Kremlin responde que semelhantes acusações são “absurdas”.

Ainda durante a sua visita a Paris, Vladimir Putin tentou convencer-nos de que o seu país não se ingere nos assuntos externos de outros Estados, mas as ameaças feitas por Maria Zakharova no mesmo dia aos dirigentes montenegrinos mostram que na Rússia já nem sequer preocupam com as contradições nos discursos oficiais.

Depois de criticar a decisão das autoridades montenegrinas, a extravagante porta-voz da diplomacia russa aconselhou os cidadãos do seu país a “pensarem duas vezes antes de irem passar férias ao Montenegro”. Tendo em conta que o turismo russo tem um forte peso na economia desse país da costa do Mar Adriático, trata-se claramente de chantagem e de sanções, política que o Kremlin diz repudiar e condenar.

No mesmo dia, a polícia russa deteve num dos aeroportos de Moscovo, sem qualquer tipo de explicação, Miodrag Vukovic, deputado do Partido Democrático do Montenegro, força que apoiou a adesão desse país à NATO. O Ministério montenegrino dos Negócios Estrangeiros apresentou uma nota de protesto, que ainda não teve resposta.

É este tipo de política de Vladimir Putin que continua a justificar cada vez mais a existência de uma Aliança Atlântica forte. Isto não obstante todas as “declarações de paz” do autocrata russo.