Os portugueses tiveram um bom escape para o entretenimento preferido: moralizar sobre os maus comportamentos alheios (sem qualquer reflexão sobre os maus comportamentos próprios), proclamar como as gerações mais novas estão perdidas (ah, e gerações com mais acesso a educação e bem estar económico, os meliantes ingratos) e confirmar como ‘os outros’ não sabem educar os filhos (que os nossos rebentos são sempre primorosos).
A finalidade destas minhas linhas não é dissecar se os jovens de Torremolinos se portaram mal ou se apenas fizeram disparates de juventude, se os mil foram arrastados nos maus atos de meia dúzia, se o hotel se locupletou com as cauções indevidamente ou não. Aparentemente houve claros excessos intoleráveis de alguns. Mas, por outro lado, nunca vou compreender esta compulsão de declarar que as gerações mais novas estão perdidas e que, com elas, segue-se o apocalipse. Nem os felizes militantes daquela que Vicente Jorge Silva sobranceiramente etiquetou de ‘geração rasca’ parecem questionar-se se afinal os epítetos aos jovens podem ser injustos. (E não esqueçamos que a geração de Vicente Jorge Silva fez um festim com o saque do Estado e dos contribuintes, tratou de se presentear com imensos ‘direitos adquiridos’ e com privilégios que a sua geração nunca produziu para pagar, deixando a conta do seu modo de vida para as gerações mais novas que, ainda assim, insulta.)
Adiante. O mais divertido em toda este drama dos finalistas de Torremolinos foi a origem dos escândalo. Claro que se percebe que os jovens bebam uns copos a mais e se enrosquem com o sexo oposto (ou com o mesmo sexo, conforme as preferências). Mas que vandalizem o hotel? Horror. Que danifiquem a propriedade privada alheia? É enviar os jovens finalistas para a galé, para aprenderem.
Confesso que me têm proporcionado umas boas gargalhadas este escândalo pelos danos materiais no hotel. Claro que concordo inteiramente que copos e sexo, tudo com as devidas precauções, não preocupa, mas a destruição da propriedade de outro, sim, é grave e condenável. Desconfio, contudo, que os escandalizados não concordam consigo próprios. Durante uns dias Portugal assemelhou-se a um país decente e civilizado onde a propriedade privada e os direitos de propriedade são muito respeitados. (Gargalhadas, não é?) Puro engano: enquanto se escandalizam com a destruição da propriedade do hotel espanhol, aplaudem com intenções de voto um governo (mais satélites) que destrói a propriedade privada dos portugueses.
Há que assumir: os finalistas que vandalizaram o hotel em Espanha estão apenas a seguir o exemplo pedagógico da esquerda nacional em geral e da geringonça em particular. Afinal foi esta peculiaridade governativa do PS, PCP e BE que há poucos dias aprovou o prolongamento do congelamento das rendas anteriores a 1990. (Diga-se que o disparate das rendas das lojas históricas foi aprovado também com ajuda daquela esquerda mais suave conhecida como CDS e PSD. Enfim.)
É este governo que sobe os impostos sobre a propriedade imobiliária, ao mesmo tempo que impede os proprietários de usufruírem legitimamente dessa propriedade. Em que é que esta política tem resultado? Está ainda (mesmo com o frissom imobiliário dos últimos anos) à vista nas zonas históricas das cidades portuguesas: prédios devolutos e degradados. Esta destruição e degradação forçada (pelos governos) da propriedade privada de uns não compara nada mal com estudantes parvos a arrancarem mosaicos de um hotel. Na verdade, os finalistas de Torremolinos não passam de uns pálidos aprendizes perante a geringonça, no que toca a gerar destruição catastrófica de propriedade. De resto, para promover prédios desfazendo-se aos pedaços, a geringonça dificultou os despejos quando o objetivo é a reabilitação total de um prédio. O terramoto de 1755 é uma boa competição para o nível destruidor do governo. Os adolescentes portugueses que se vão embriegar para Espanha, não.
Sempre se disse que a melhor forma de educação é o exemplo. Não podemos esperar que jovenzinhos do secundário respeitem os direitos de propriedade quando o governo do seu país se vê, qual pasionaria em guerra civil, imbuído da missão de atacar a propriedade privada dos portugueses. Por cá, ser proprietário é algo que, segundo a moral da esquerda, merece punição. Pois bem: os nossos estudantes apenas aplicaram na prática o castigo que PS, BE e PCP têm recomendado neste último ano e meio. Os valdevinos de Torremolinos, em boa verdade, deviam ter bonificação na entrada na universidade, tal a capacidade de aprenderem com os mestres.
Também não podemos levar a mal que portugueses escolham ir cobrir-se de ridículo no estrangeiro. Mais uma vez, os estudantes portugueses foram buscar os exemplos de cima. Veja-se Mourinho Félix, o secretário de estado que decidiu – ou foi mandado pelos seus superiores governativos, Centeno e Costa – embaraçar-se a si e aos seus ascendentes até à quinta geração, em frente às câmaras televisivas, dando conta da ofensa portuguesa com Dijsselbloem pelas suas já eternas palavras de ‘copos e mulheres’.
Em suma: os estudantes que se não se sabem portar quando em viagem devem ser criticados, mas não somente por serem uns vândalos e destruírem um hotel. A maior crítica que se lhes deve fazer é a de serem bons alunos da geringonça.