Apanhei ontem um texto da Sábado de Bruno Faria Lopes sobre os acumuladores de lugares de administradores não executivos nas empresas portuguesas. Excluindo os acionistas – a quem só fica bem acompanharem a administração das suas empresas – um grupo restrito de pessoas é administrador não executivo de um rol de grandes empresas. Aparentemente é uma carreira onde só custa entrar: entra-se para o conselho de administração de uma empresa como não executivo e logo a seguir as demais, carregadas de inveja, também querem e convidam quem já foi convidado.
E porque são convidados, inquire o curioso leitor. Por enorme competência? Por indiscutível visão estratégica deste mundo incerto? Por incalculável talento empresarial? Não sabemos. Em alguns casos, certamente haverá competência e mais-valia nestes administradores não executivos compulsivos. Mas olhemos para o referido texto. Lá se diz que é frequente os administradores não executivos não saberem dos assuntos e da documentação até chegarem às reuniões dos conselhos de administração (segundo fonte anónima). Mais se informa que os administradores que são simultaneamente acionistas dos grupos familiares que controlam as empresas não apreciam que estes administradores não executivos (em série) coloquem demasiadas questões e obstem às decisões tomadas. É como quem diz: foram escolhidos para dizerem que sim sem assomos de irreverência que lhes desvalorizem as senhas pagas por cada reunião.
E, claro, para fazerem contactos com o poder político – e com os reguladores e com as outras grandes empresas –, para facilitarem negócios, para fornecerem informação privilegiada vinda diretamente dos círculos políticos. Têm de ser poucos, um clube restrito de senhores de fato risca de giz, afinal o país não é grande e convém não deixar temas e negócios e informações espalharem-se excessivamente por cabeças e mãos menos manobráveis.
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