No dia da morte de Vladimir Lénine, que ocorreu a 21 de Janeiro de 1924, o Presidente russo, Vladimir Putin, acusou o líder da “revolução proletária” de Outubro de 1917 de ser o culpado da “destruição da Rússia histórica”.

“É correcto dirigir a corrente do pensamento, mas é necessário que esse pensamento leve a resultados correctos, e não como fez Vladimir Ilitch [Lénine]. No fim de contas, o [seu] pensamento levou à destruição da União Soviética, eis o resultado. Havia muitas ideias: autonomia, etc. Colocaram uma bomba atómica debaixo do edifício que se chama Rússia e ela explodiu depois. E também não precisamos da revolução mundial”, declarou Putin ao encerrar uma reunião do Conselho Presidencial da Rússia.

Esta não é a primeira vez que o Presidente Putin lança um ataque tão forte contra o primeiro dirigente comunista da Rússia, mas é de salientar que o momento para estas novas declarações parece ter sido especialmente escolhido. Mais uma vez, em lugar de discutir a grave crise económica no país, a queda vertiginosa do rublo, o aumento do custo de vida, etc., o dirigente russo tenta desviar as atenções dos cidadãos russos.

A resposta do Partido Comunista da Federação da Rússia, o maior partido da oposição controlada pelo Kremlin, não se fez esperar.

Serguei Obukhov, deputado comunista, declarou: “Penso que, por exemplo, Barack Obama nunca falaria de forma tão dura contra o seu antecessor George Washington”. Acrescentou também que “as bombas atómicas que o país tem apareceram graças aos líderes soviéticos”.

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Mas aqui é de salientar que Guennadi Ziuganov, dirigente do Partido Comunista da Federação da Rússia, não comentou as palavras de Putin, como esperavam muitos dos seus apoiantes. E este silêncio tem uma explicação. Embora a política económica e social de Putin vá contra a ideologia comunista, Ziuganov mantém uma união táctica com Putin devido ao consenso existente face à política externa agressiva do Kremlin. Nesse campo, Ziuganov ultrapassa qualquer nacionalista russo.

O extravagante “nacionalista” Vladimir Jirinovski, líder do Partido Liberal-Democrático, aproveitou esta oportunidade para exigir que o corpo de Lénine seja retirado do Mausoléu da Praça Vermelha e seja enterrado num cemitério como qualquer outro mortal.

“A Praça Vermelha é para celebrações, para festas e paradas. Quem está lá sepultado? Muitos criminosos. Lénine é o organizador da destruição da Rússia dos Czares. Ele lançou os princípios da futura queda da URSS. É por causa dele que hoje corre sangue na Ucrânia”, declarou o “nacionalista” indignado.

Em 2001, a imprensa russa escreveu que Vladimir Putin tencionava resolver esse problema, mas não o fez até agora e não o deverá fazer nos tempos mais próximos, pois não quer virar contra si parte do eleitorado russo. Sobretudo em ano de eleições parlamentares, marcadas para Setembro de 2016.

Entretanto, este tipo de discussões dá muito jeito num momento extremamente difícil para Vladimir Putin: desvia as atenções dos russos dos problemas reais pelo menos durante algumas semanas. Depois, algo mais se poderá inventar…

P.S. As autoridades britânicas concluíram que Alexandre Litvinenko, antigo agente do KGB, foi envenenado em Londres por dois colegas seus e avançam a probabilidade da ordem para matar tenha partido de Vladimir Putin. A julgar pela tradição dos serviços secretos russos, essa probabilidade tem forte fundamento. Esses dois agentes não ousariam realizar uma operação dessas sem o comando de Nikolai Patruchev, então dirigente do FSB/KGB, e este certamente que também não o faria sem autorização do seu patrão: Vladimir Putin. Basta recordar a operação que levou ao assassínio de Trotski no México por agentes secretos soviéticos. A ordem partiu de Estaline.