No Público do passado dia 5 de Janeiro noticia-se, em artigo de página inteira, a visita que, na véspera, o ministro da Educação e o secretário de Estado João Costa fizeram à Escola Secundária da Baixa da Banheira, por ocasião do início do segundo período lectivo. A acompanhar o texto, consta uma fotografia em que se podem ver, ao fundo, os governantes e comitiva junto à porta aberta da sala onde, em primeiro plano, aparecem quatro presumíveis alunos daquela escola.

Não deixa de ser curioso que a presença dos membros do governo não tenha despertado, ao que parece, qualquer interesse aos referidos quatro estudantes, dois sentados de costas para os visitantes e outros dois, um de pé e o outro sentado, virados para os colegas e de lado para os governantes e seus acompanhantes.

Contudo, o que mais prende a atenção é o facto de três dos ditos quatro alunos estarem de cabeça coberta, em plena sala de aula. Um, decerto o mais friorento, não se contentou com um simples gorro, porque enfiou o capuz do seu blusão impermeável que, ao tapar-lhe as orelhas e a boca, indicia um total alheamento. Os outros dois ficaram-se por uns mais discretos bonés, que um deles usa com a pala para trás. Ora, ter a cabeça coberta, dentro de uma sala, é objectivamente uma falta de respeito, tanto em Bragança como em Faro, ou na Baixa da Banheira, salvo algum muito discutível modismo local que me esteja a escapar.

Talvez alguém pense que a questão dos bonés é relativamente secundária, tendo em conta os enormes desafios a que devem fazer frente as escolas em zonas mais sensíveis, como é o caso. Não ponho em causa as intenções daqueles adolescentes, nem o mérito dos seus professores e da sua escola, mas a educação, ou é integral ou não é nada. Educar não é despejar um conjunto de conteúdos nas cabeças de uns quantos indivíduos, na esperança de que depois os saibam debitar. É, sobretudo e principalmente, formar cidadãos livres e responsáveis, que amanhã possam contribuir validamente para o bem comum. Para tal, precisa-se certamente de alguma bagagem cultural e técnica mas, mais ainda, de aprender a conviver, o que não se pode fazer sem um mínimo de educação. De boa educação, entenda-se!

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Uma escola que não educa, porque desvaloriza as questões comportamentais, é uma escola que, na realidade, aposta no desfavorecimento dos mais carenciados, porque os não ajuda a superar as deficiências que trazem de casa e que impedem a sua plena integração social e laboral. Uma escola que transige em questões de males menores está a semear, a médio ou longo prazo, males maiores.

Está provado, na teoria por James Q. Wilson e George Kelling, e na prática pela política do antigo mayor de Nova Iorque, Rudolph Giuliani, e pelo seu comissário da polícia, William Bratton, que não se combate a grande criminalidade com o permissivismo em relação ao vandalismo urbano ou aos pequenos delitos. Pelo contrário, foi com uma política de tolerância zero para estes actos que, em Nova Iorque, se logrou combater e prevenir a delinquência.

Se um jovem estudante não se dá ao trabalho de se descobrir quando, na sua sala de aula, entram dois membros do governo, acompanhados por representantes da direcção da sua escola, não é provável que, mais tarde, respeite as leis ou as autoridades públicas ou laborais. A impunidade em relação a estas atitudes favorece futuros comportamentos de risco, de desobediência civil, de desrespeito pela autoridade e, até, de violência, também doméstica. São actos que têm, como sempre acontece, um efeito boomerang porque, quem não respeita os outros, não se respeita a si mesmo nem é, por regra, respeitado.

Para quebrar esse círculo vicioso, é preciso que a escola não se demita da sua principal missão: educar e educar bem, ou seja, dar boa educação. Por isso, não é de menor importância a questão do boné. Um aluno que não aprende a comportar-se correctamente, terá mais dificuldade em se realizar pessoal, familiar e profissionalmente. E, como desadaptado e marginal, corre sérios riscos de passar a sua vida a … apanhar bonés!

Sacerdote católito