Depois das eleições francesas de ontem e do caos que se instalou na política britânica após as eleições de 8 de Junho, a capa da mais recente edição de The Economist resume tudo: Emmanuel Macron caminhando sobre o mar, ao lado da afundada Theresa May (só com os tornozelos e os inconfundíveis sapatos à superfície).

Em editorial, a revista argumenta que Macron, em França, e Merkel, na Alemanha, (a chamada “dupla Merkron”) reúnem agora as esperanças dos “centristas” europeus. Mas a capa da revista emite uma dupla mensagem. Caminhar sobre as ondas não é propriamente uma faculdade humana. Se as retumbantes vitórias de Macron e do seu novíssimo partido fizerem esquecer os sérios problemas que a França, a Europa e o Ocidente enfrentam, esses mesmos problemas irão reaparecer em breve com maior intensidade.

Este é certamente um alerta contra o triunfalismo e a complacência. Mas é sobretudo um apelo para que os problemas euro-atlânticos sejam seriamente analisados e discutidos pelos euro-atlantistas — incluindo nesse diálogo as suas diversas disposições políticas, mais ao centro-direita e mais ao centro-esquerda.

Há duas semanas, dei aqui conta do chamado Apelo de Praga para a Renovação Democrática, que apelava exactamente nesse sentido. Vários dos subscritores — Marc Plattner, Larry Diamond, Christopher Walker, entre outros — estarão presentes na próxima semana no Estoril Political Forum, dedicado precisamente à defesa da “tradição ocidental da liberdade sob a lei”. Tratar-se-á de uma primeira concretização do Apelo de Praga para a re-união de diferentes sensibilidades dos defensores do Ocidente.

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O tema tem também estado no centro de vários livros recentes que serão certamente citados no Estoril. Bill Emmot, ex-director de The Economist, acaba de publicar The Fate of the West: The Battle to Save the World’s Most Successful Idea (Economist Books). Edward Luce, cronista do Financial Times, publicou The Retreat of Western Liberalism (Atlantic Monthly Press). Os dois autores convergem no diagnóstico: a democracia liberal ocidental enfrenta a crise mais grave desde a II Guerra.

Opinião talvez ainda mais drástica é defendida por Douglas Murray, colaborador da revista The Spectator, no seu livro mais recente: The Strange Death of Europe: Immigration, Identity, Islam (Bloomsbury). O diagnóstico é aqui centrado no declínio demográfico europeu, nas vagas crescentes de imigração, sobretudo de origem muçulmana, e no estranho fenómeno que parece incapacitar os europeus para a defesa das suas próprias instituições e dos seus valores ocidentais.

Não é provável que estes três autores e os mais de 60 subscritores do Apelo de Praga concordem entre si no diagnóstico e, sobretudo, na terapêutica. Mas é visível que todos concordam com a gravidade dos desafios que a ideia ocidental hoje enfrenta. Reconhecer essa gravidade é o primeiro passo para a defesa da tradição ocidental da liberdade sob a lei.

A tragédia do incêndio de Pedrógão Grande enlutou todos os Portugueses. Será certamente necessário vir a esclarecer as condições que terão permitido tão elevado número de vítimas. Mas a tragédia não deve agora dar lugar a recriminações. O momento é de luto, solidariedade e compaixão.