Este ano vai haver oito eleições legislativas na União Europeia que não a deixarão igual, tanto do ponto de vista económico como político. O ano político começou há dias em França e já está a afectar as prioridades partidárias dos governos europeus em termos da segurança – ou antes, da falta dela – perante os ataques que continuarão a vir bater-nos à porta, seja de Sul ou de Leste. E daqui a pouco mais de uma semana começará o ano económico com as eleições gregas, que serão as primeiras de seis que terão lugar na zona euro e se adivinham como uma verdadeira roleta.
Será que o Syriza sempre vai ganhar as eleições, surgindo como o primeiro partido com aparente credibilidade eleitoral a desafiar abertamente a cura de «austeridade» imposta pela dívida externa? Será que, ganhando, o Syriza conseguirá fazer governo? E se o conseguir, irá finalmente desafiar a receita da UE? E se o fizer, ganhará a sua aposta ou será confrontada com a iminência da saída do euro? Ou acabará a Grécia por encontrar uma solução de continuidade governamental que lhe permita manter um módico indispensável de contenção da despesa? Ou, em derradeira hipótese, irá o país de novo a votos, aumentando a série de eleições na UE para nove? Portugal será o último da série, o que pode ser bom ou mau, conforme o resultado desta roleta eleitoral onde o económico afecta o político e vice-versa.
Vale a pena acrescentar que o ano começou discretamente com a adesão de mais um membro da zona euro, a Lituânia; no ano passado, fôra a Estónia. Entretanto, em 2013 a Croácia aderira à UE. Subiu assim a dezanove o número de países (entre 28 membros da UE) que optaram pela moeda única e não deixa de ser relevante perguntar por que razão os novos países do alargamento a leste continuam a aderir ao euro enquanto alguns mais antigos vacilam a esse respeito? Neste sentido, as primeiras questões que se levantam a propósito das eleições gregas e do desempenho do novo partido saído da contestação à «austeridade», estão obviamente interligadas: o futuro económico da moeda única e o seu papel crucial na construção política da UE.
Ora, no passado dia 4, um dos gurus do «Financial Times», Wolfgang Münchau, escreveu um artigo com um título bizarro: «Os extremistas políticos podem ser os salvadores da zona euro». Primeiro declara que «este será o ano em que a zona euro conhecerá o seu momento da verdade» e de imediato afirma ser muito alta a probabilidade de pelo menos um dos três países do sul (a Grécia, a Espanha e Portugal) causar uma «dissabor político». Segundo ele, a escolha da Grécia reside numa «reestruturação da dívida» ou na «saída do euro»; para os países ibéricos, a situação não é diferente.
Estranhamente ou não, este conhecedor da finança internacional crê que «o Syriza tem razão acerca da reestruturação da dívida» mas esquece que isso já aconteceu na Grécia sem resolver os problemas de fundo da dívida. Acha, pois, que a vitória do Syriza seria o melhor para o país, a qual poderia ser seguida pela do novo partido espanhol contra a «austeridade», o tal Podemos. Não deixa de ser picante ver um opinador do «Financial Times» a torcer pela «esquerda dura», como ele lhe chama, mas não tenho a certeza que esta o seja de verdade e não mera aliada conjuntural dos soberanismos. Em suma, segundo Münchau, sendo a reestruturação das dívidas impossível no quadro da zona euro, esta tornar-se-á «insustentável» e, daí, o fim do euro a prazo. Portanto, quando ele afirma no título que a salvação da zona euro está nos extremistas do sul, o que isso quer dizer é o fim da moeda única…
E se não for? E se o Syriza não ganhar ou não conseguir fazer governo? Será a deflação política do Podemos, para não falar dos minis-Podemos portugueses e, quem sabe, se o fim das próprias excentricidades do PS com a sua sistemática denegação de que há um seríssimo problema da despesa pública a resolver em Portugal rapidamente, passando por difícil que seja pelas reformas, a função pública e as empresas estatais.
O mais provável, porém, é que a situação não se resolva logo e se prolongue, para gáudio dos especuladores financeiros e partidários, fazendo-nos agonizar a todos até se encontrar um meio-termo qualquer. A seguir, votarão a Finlândia e a Estónia, que não irão conceder facilidades à Grécia, nem tão pouco à Espanha que votará a seguir. Depois, será a vez da Polónia onde não se pensa senão em aderir ao euro logo que a situação se clarifique, substituindo os consumidores do sul da UE, como já sucede hoje, conforme sabem as empresas portuguesas. E antes de nós, votarão a Dinamarca e o Reino Unido que estão fora do euro e, conforme os eleitorados anteriores se terão pronunciado, forçarão mais ou menos as suas agendas soberanistas a favor da segurança máxima e da coesão mínima. Portugal será o último da lista. Já não terá nada de substancial para acrescentar mas poderá ao menos beneficiar das lições que entretanto receberá. Vamos ficar suspensos da roleta a rolar como no casino.