Globalização. Futebol. A cada quatro anos, ou melhor, sempre que há um campeonato do mundo, a ocasião prova que estas duas palavras andam juntas. Ontem, as 32 seleções que vão estar no Mundial do Brasil enviaram à FIFA a lista definitiva dos seus 23 convocados para a competição. Era a data limite estipulada pela entidade. E houve de tudo – surpresas, confirmações e desilusões entre os nomes que foram sendo apresentados. Dos 736 jogadores escolhidos para visitarem os relvados brasileiros, 15 partilham uma coisa: não são portugueses mas foram exportados de Portugal.

Sete seleções vieram pescar nomes ao campeonato português – e houve quem usasse mais a cana de pesca. É o caso da Argélia. A seleção do Magrebe incluiu na sua lista Islam Slimani, Halliche e Nabi Ghilas, jogadores que passaram a época com o Sporting, Nacional da Madeira e Porto. E graças ao sorteio, os argelinos até podem nem ficar muito tempo sem falarem português. Mas não são os únicos.

Argélia: Islam Slimani (Sporting) Halliche (Académica) e Nabil Ghilas (Porto).

A Argélia está no grupo G. Portugal ficou no H. A equipa africana, portanto, pode surgir no caminho da seleção nacional logo nos oitavos de final do Mundial. Para que tal aconteça, a prestação dos argelinos terá de os deixar em 1.º ou 2.º na fase de grupos, após os duelos com a Bélgica, Rússia e Coreia do Sul. Do outro lado, e caso ambas as equipas se qualifiquem, Cristiano Ronaldo e companhia teriam de terminar o grupo com Alemanha, Gana e EUA na posição inversa à da Argélia. Ou seja: se os africanos terminam em primeiro, Portugal terá de ficar em segundo, ou vice-versa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Argentina: Ezequiel Garay, Enzo Pérez (ambos do Benfica) e Marcos Rojo (Sporting)

Depois vem a Argentina. No número de jogadores, não no sorteio. A seleção sul-americana levará Ezequiel Garay, Enzo Pérez (ambos do Benfica) e Marcos Rojo (Sporting) ao Mundial organizado pelo seu arqui-rival do continente. Se a presença de Garay e Rojo no avião para o Brasil já era esperada, a reserva do bilhete para Enzo Pérez fez-se à última hora. Apesar de, pela segunda época consecutiva, ter sido o motor do meio campo do Benfica, o argentino não pisa um relvado com a camisola da seleção desde setembro de 2012 – no total, conta seis internacionalizações e um golo marcado. A Argentina está no grupo F, com a Bósnia, o Irão e a Nigéria.

Colômbia: Jackson Martínez e Juan Quintero (ambos do Porto)

Os restantes nomes que habitam no campeonato português espalham-se por outras quatro seleções. A primeira é a colombiana. Los cafeteros – assim apelidos devido à enorme produção de café no país – vieram a Portugal roubar Jackson Martínez e Juan Quintero, ambos do Porto. O avançado há muito que sabe o que é apanhar um avião para acudir a uma chamada da seleção. Com Falcao operacional, contudo, e a preferência de José Pekerman, treinador, por Teófilo Gutiérrez, avançado do River Plate, Jackson ganhou o hábito de passar muito tempo no banco de suplentes da seleção. Com a ausência do goleador do Mónaco (lesionado), o homem do Porto já só terá Carlos Bacca (Sevilha), Adrián Ramos (Borussia Dortmund) e o tal Teófilo Gutiérrez a correrem ao seu lado por um lugar no onze da seleção.

Quanto a Juan Quintero, o problema é outro – e chama-se James Rodríguez. O ex-Porto, hoje no Mónaco, é o artista que desenha os caminhos que a bola segue na seleção colombiana, e difícil será para Quintero espreitar a titularidade no Brasil. Os colombianos ficaram no grupo C, com a Grécia (de Fernando Santos), a Costa do Marfim e o Japão.

França: Eliaquim Mangala (Porto)

Já os franceses vieram caçar um gigante ao Porto. Aos 23, Eliaquim Mangala estará no primeiro Mundial da carreira. Não é o mais novo dos quatros defesas centrais gauleses (os 21 anos de Raphaël Varane, do Real Madrid, roubam-lhe a proeza), mas é o que menos jogos soma na seleção – apenas três, contra os 18 de Mamadou Shako (Liverpool), os 17 de Laurent Koscielny (Arsenal) e os cinco de Varane. A França está no grupo E com a Suíça, o Equador e as Honduras.

México: Hector Herrera e Diego Reyes (ambos do Porto)

O Porto gosta mesmo de exportar. O México foi outra das seleções que pediu dois jogadores emprestados aos dragões. O médio Hector Herrera e o defesa Diego Reyes foram ambos convocados. Ambos chegaram no verão passado a Portugal, sendo Herrera o que terá mais hipóteses de ser titular e cantar o hino mexicano no relvado. A 6 de junho, próxima sexta-feira, farão parte da seleção que defrontará Portugal em Boston, num encontro de preparação. O México ficou no grupo A, com o Brasil, a Croácia e os Camarões (que a seleção nacional venceu por 5-1, em Março).

Uruguai: Maxi Pereira (Benfica) e Jorge Fucile (Porto).

E chegamos aos uruguaios. Não é novidade que a seleção comandada por Óscar Tabarez tenha o campeonato português na mira – em 2010, para o Mundial da África do Sul, levou Álvaro Pereira, Maxi Pereira e Jorge Fucile. Quatro anos volvidos e os dois últimos voltam a constar nos 23 preferidos do seleccionador para um campeonato do mundo. E a surpresa, aqui, é Fucile. O lateral acabou a temporada com apenas 231 minutos de futebol nas pernas, em parte fruto das más relações que tem hoje com o Porto – em Novembro, por exemplo, Paulo Fonseca colocou-o a treinar à parte da equipa principal. O Uruguai ficou no grupo D, com a Costa Rica, a Itália e a Inglaterra.

Bélgica: Steven Defour (Porto)

Tem 26 anos, mas tendo em conta o que o rodeia, é experiente. Steve Defour é belga e viajará para o Brasil no meio do plantel que juntou uma geração de jogadores que, de craques, já têm muito. Há Eden Hazard (23), Romelu Lukaku (21), Axel Witsel (25), Kevin De Bruyne (22), Adnan Januzaj (19) Dries Mertens (27), Vincent Kompany (28), Jan Vertoghen (27), Thibault Courtois (21) e mais nomes que cansam a lista com tanta qualidade. Doze anos depois, foram estes nomes que ajudaram a levar a Bélgica de volta a um Mundial e talvez nenhuma seleção concentra tanta expetativa como esta. A Bélgica está no grupo H, com a Argélia, a Rússia e a Coreia do Sul e, portanto, Defour também poderá cruzar-se com Portugal logo nos oitavos de final do campeonato do mundo. Veremos.

Irão: Alireza Haqiqi (Sporting da Covilhã)

Eis o nome menos conhecido deste lote – que trouxe Carlos Queiroz a Portugal para escolher os 23 convocados do Irão. O treinador, que orientará a seleção asiáticac no Mundial, convocou Alireza Haqiqi, guarda-redes que, esta época, esteve emprestado pelo Rubin Kazan, da Rússia, ao Sporting da Covilhã. Fez 12 jogos na segunda liga, sofreu 19 golos e agora vai acompanhar Queiroz até ao Brasil. O Irão está no grupo F, com a Bósnia, a Nigéria e a Argentina.