Paulo Bento não comunicou à Federação Portuguesa de Futebol (FPF) qualquer intenção de abandonar o cargo de seleccionador nacional, caso Portugal não consiga o apuramento para os oitavos de final do Mundial. A garantia é de Humberto Coelho, vice-presidente da entidade, que esta tarde, em Campinas, no Brasil, falou numa conferência de imprensa convocada pela FPF. “O que tenho a dizer é que, a nós, não nos chegou qualquer indício de que o Paulo Bento vá por o lugar à disposição. E direção não tem intenção que isso aconteça”, sublinhou o dirigente.
O evento, onde também esteve Henrique Jones, responsável pelo departamento médico da federação, foi convocado devido a “algumas notícias que não têm correspondido à realidade”, explicou Humberto Coelho. O vice-presidente da FPF, depois, sublinhou que “não sabe o que” Paulo Bento “está a pensar”, lembrando, porém, que a federação renovou contrato com o treinador com o objetivo de ir “até ao Europeu de 2016” e para “manter a estabilidade na seleção”.
E se Paulo Bento apresentar a demissão do cargo? “Não posso dizer. Mas iremos analisar e decidir”, disse apenas Humberto Coelho, dirigindo as prioridades para quinta-feira, na partida frente ao Gana, onde a seleção vai “lugar pelo apuramento” para os oitavos de final da Copa do Mundo. Questionado sobre uma eventual cláusula no vínculo com Paulo Bento, semelhante à que, alegadamente, existia antes do Europeu de 2012 — que livraria a FPF de pagar qualquer indemnização ao treinador, caso a seleção falhasse o apuramento –, Humberto Coelho tudo negou. “Neste contrato não há cláusula nenhuma, e no primeiro também não havia”, respondeu.
A “falta de peso” de Portugal nas “instâncias internacionais”
A sala onde se realizou a conferência de imprensa estava repleta de jornalista e, antes de Henrique Jones tomar a palavras, quase 20 questões foram dirigidas a Humberto Coelho. O vice-presidente justificou a escolha por Campinas, como local de estágio, com o “hotel que está a 15 minutos do centro de treinos”, além dos também “15 minutos” de tempo de distância para o aeroporto.” A questão logística foi importante e aqui a equipa está tranquila e em segurança”, argumentou. Sobre a derrota (4-0) com a Alemanha e o empate (2-2) frente aos EUA, o antigo seleccionador nacional (entre 1997 e 2000), disse que Portugal “não esteve ao seu melhor”.
Ao comentar as declarações de Cristiano Ronaldo — que, após o jogo com os norte-americanos, apelidou de “fictícia” a ideia de que a seleção poderia vencer o Mundial –, o vice-presidente da FPF frisou que “Portugal tem de ter mais peso nas instâncias internacionais”. Na FIFA e na UEFA? O dirigente não especificou. “O que queremos é ter a mesma protecção que alguns clubes e federações têm. Temos que nos preocupar em sermos igualmente tratados face às seleções mais fortes”, enalteceu, fintando as questões sobre o calor e a humidade à hora dos jogos da seleção, passando essa bola para o departamento médico da seleção.
“Índices lesionais” superiores ao Euro-2012
Finda a intervenção de Humberto Coelho, foi a vez de Henrique Jones. O responsável pelo departamento médico da FPF começou por realçar que, “sem dúvida alguma”, os “índices de suspensão lesional” dos 23 convocados para este Mundial era “superiores” a “anos anteriores. Depois, claro, as perguntas sobre Cristiano Ronaldo sucederam-se.
E o médico da seleção tentou explicar tudo. “O Cristiano Ronaldo tem a primeira lesão a 6 de março [ou seja, quatro dias após um jogo contra o Atlético de Madrid, para a liga espanhola] e, depois, começou-se a omitir um pouco o que era uma lesão do tendão rotuliano”, defendeu Henrique Jones. “Ronaldo praticamente não treinava, só jogava”, realçou, antes de dizer que, no Real Madrid, o avançado “nunca esteve a treinar diariamente” como o tem feito na seleção nacional.
Henrique Jones quis ainda desmentir as notícias que avançaram com uma ressonância magnética, realizado ao joelho esquerdo de Ronaldo, dois dias antes do jogo contra a Alemanha. “Fizémos a única ressonância magnética no dia em que Portugal jogou contra o México, que nos tranquilizou”, defendeu. O médico, depois, lamentou ainda os problemas físicos que alguns dos 23 convocados enfrentarem durante a época. “Se reparerem, temos nesta seleção três jogadores que tiveram lesões nos ligamentos cruzados anteriores, e oito ou dez com lesões musculares”, enumerou.
Depois, Henrique Jones insistiu em falar de “um mito” — o do calor e da humidade que têm sido registados à hora dos encontros desta Copa do Mundo. “O jogo mais quente do Mundial teve 29.ºC de temperatura e 87% de humidade. As condições meteorológicas não são de modo nenhum graves para afetar o desempenho desportivo”, apontou, focando antes o problema na “recuperação posterior” dos jogadores. “Se normalmente demorar entre 48 a 72 horas, se jogar a 28 ou 30.º e a humidade a 75%, o tempo de recuperação prolonga-se muito mais”, resumiu.
Por último, e abordando o problema da adaptação às condições climatéricas nos locais das partidas, o responsável médico da FPF explicou que a seleção demoraria “pelo menos um mês a aclimatizar-se a Manaus” e “nunca menos de 15 dias” para o fazer em relação a Salvado da Bahia — cidades onde realizou os dois primeiros encontros do Mundial.