O professor Marcelo Rebelo de Sousa defendeu este domingo que o PSD e o CDS devem definir o que se vai passar com a coligação. “O PSD, ou seja Passos [Coelho] quer saber se [Paulo] Portas fica e se o CDS alinha numa coligação para o futuro. E o CDS quer ganhar tempo”, disse no seu comentário semanal do telejornal da TVI, conduzido excepcionalmente por José Alberto Carvalho.
“Mas isto está escrito nos livros: o partido mais forte quer entalar o mais fraco, o mais rápido possível. E o mais fraco quer ser entalado, o mais tarde possível”, disse. E o “problema de fricção”, afirma, agrava-se quando o primeiro-ministro diz numa entrevista ao Expresso que “estaria aberto a falar sobre soluções governativas com o PS”. Ora, prossegue, “na cabeça do CDS surge logo a necessidade de fazer um acordo com o PSD com uma cláusulazinha que garanta que o PSD não vai buscar o PS. Como já percebeu, este é o tipo de cláusula que não é fácil incluir no acordo. Há aí um problema para o CDS, não quer ser utilizado antes para ser deitado fora a seguir.”
Outro dos “cavalos de batalha” do CDS, segundo o professor, é o IRS. “Isto é um ponto de fricção”, repete. Espanha anunciou uma baixa de 12,5% de impostos. O CDS defende que não se deve continuar a aumentar os impostos dos portugueses. “É bom olhar para a Espanha. Continuar duradouramente a ideia de aumento de impostos, para os próximos anos, não me parece muito sensato. Sendo certo que é necessária uma boa execução orçamental”.
Crise no PS
“As pessoas estão fartas da guerra do PS e ainda faltam três meses e meio para as primárias. Já viu o absurdo?”, disse Marcelo, repetindo o que disse, há semanas, quando criticou o facto de uma campanha de um partido demorar mais tempo que uma campanha para as legislativas. O professor lembrou que dos 25 dos 35 fundadores do PS que apoiam António Costa, muitos estavam já afastados, da política ou criticavam o PS. “Eu sou o número três do PSD e não acho que haja militantes de primeira e de segunda, qual a diferença de terem chegado antes ou depois?”, disse.
Conselho de Estado
Ao contrário do que defendeu, este sábado, Luís Marques Mendes, Marcelo Rebelo de Sousa (também membro do Conselho de Estado) não espera grandes consensos na reunião de quinta-feira. “Não me parece fácil haver um consenso entre PS, CDS e PSD, até porque o PS não sabe quem é o seu líder em setembro. E caso se pense em antecipar as legislativas, Passos será contra”.
Banca
Marcelo Rebelo de Sousa garante não estar preocupado com a banca.
“Não estou preocupado porque a banca portuguesa está blindada e está segura. E, à frente do Banco de Portugal está uma pessoa [governador Carlos Costa] que garante a nossa segurança, viu-se no BPI, agora no BES.”
Quanto ao Banco Espírito Santo, o comentador lembrou aquilo que já tinha dito e “que ninguém acreditava”. “O que aconteceu foi que terminou um ciclo de décadas pela gestão da família Espírito Santo. Era inevitável que tivesse repercussão. O simples facto de haver esta mudança em relação ao passado, explica os valores da bolsa”, defende. “O mercado reagiu imediatamente porque é um novo ciclo”, reforça.
Luto
Antes de o comentário habitual de Marcelo Rebelo de Sousa, José Alberto Carvalho disse que se pensou em cancelar a intervenção do professor dada a ausência de Judite Sousa, por causa da morte do seu único filho. Mas, “apesar de momentos difíceis, a vida continua”, disse o jornalista.
Marcelo lembrou o filho de Judite Sousa, André, que foi seu aluno. “Só soube que ele era filho da Judite quando ele terminou a cadeira de Introdução ao Direito. Aquele rapaz de energia serena”, descreveu. “O André iniciou a sua passagem a caminho da eternidade”, disse, mostrando que “a dor é mais forte” quando se trata de “pessoas que conhecemos”.
O professor lembrou, também, a morte do seu colega Luís Fontoura, com quem partilhou “vários caminhos” e de quem utiliza, muitas vezes, uma frase que ele dizia muito. “Não é do mesmo ramo do negócio”, para se referir a um “político aselha”.
Por isto, Marcelo justificou-se por não ser tão “contundente” como costuma ser nos seus comentários semanais.