Não foi só a António José Seguro que Passos Coelho não quis falar de nomes. Também ao núcleo duro do Governo e à direção do PSD, Passos pediu para gerir o processo de escolha do próximo comissário português sozinho, sem partilha de informação. Nos meios mais próximos de Passos, ficou tudo a zeros. Ou quase: há quem saiba quem Passos não quer. Nem Maria João Rodrigues, a eurodeputada eleita nas listas do PS, nem Silva Peneda, atual presidente do Conselho Económico e Social. Pedro Passos Coelho já tem nomes pensados para propor em Bruxelas, mas o próximo comissário não vai ser nenhum dos que já se ofereceu publicamente. Socialistas dizem ter razão para ficarem “incomodados” caso a figura apontada pelo Governo para a Comissão tenha “grande proximidade” à maioria.

Segundo o que apurou o Observador, o que Passos disse há semanas sobre a escolha dos juízes do TC vai ser aplicado na escolha do comissário. Pelo que o perfil traçado em São Bento é o de alguém que partilhe a sua ideia de país e de Europa: reformista, aberta aos desafios da globalização. O que não quer é, garantem fontes ouvidas pelo Observador, alguém preso ao passado ou de lógica puramente partidária.

Nas conversas que agora vai iniciar com Jean-Claude Juncker, que deverá ser aprovado como presidente da Comissão Europeia para a semana pelo Parlamento Europeu, o primeiro-ministro vai discutir a pasta de Portugal, mas também a possibilidade do nome indicado pelo país ficar com a vice-presidência da Comissão – uma troca que pode resultar numa pasta pior para Portugal, mas uma posição reforçada dentro da instituição.

António Rodrigues, vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, considera que mais do que conhecimento sobre a Europa e experiência em Bruxelas, o próximo Comissário Europeu deve ter “conhecimento específico sobre o que Portugal precisa neste momento” disse ao Observador. Em relação à proveniência política do próximo comissário português, o deputado defende que o PSD não teria problemas com uma figura com pendor socialista, mas avisa que “o nome terá de ser consensualizado dentro da maioria”, referindo-se à importância do CDS no processo.

Já Vitalino Canas, socialista vice-presidente da Comissão dos Assuntos Europeus, defende que o PS tem razões para ficar “incomodado” caso a figura escolhida pelo primeiro-ministro não seja da sua área política. “Deve haver uma retribuição da maioria já que em 2009 o governo socialista apoiou a reeleição de Durão Barroso. Especialmente nas áreas onde há divergências entre o PS e o Governo – como a flexibilização das metas do Tratado Orçamental -, o próximo comissário terá de ser mais flexível”.

Desde 1986, data da entrada de Portugal na União Europeia, o país teve apenas um comissário socialista, António Vitorino que tinha a seu cargo a pasta da Justiça, Liberdades e Direitos (1999-2004). António Cardoso e Cunha foi o primeiro comissário português e esteve em Bruxelas entre 1986 e 1992, tendo a seu cargo primeiro a pasta das Pescas e depois da Energia. A seguir, João de Deus Pinheiro, ex-ministro de Cavaco, ficou encarregue das relações com os parlamentos nacionais, cultura e audiovisual entre 1993 e 1995, permanecendo na Comissão até 1999 como comissário europeu das relações com África, Caraíbas e países do Pacífico. Os dois mandatos de Durão Barroso à frente da Comissão impediram que Portugal tivesse comissário, já que detinha a presidência desta instituição

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