Imagine que chegava a um restaurante, fazia o seu pedido, comia e bebia calmamente e, no fim, quando lhe trouxessem a conta, esta incluísse um desconto de 15% por “rezar em público”. Estranho mas agradável, não? Era o que um restaurante no estado norte-americano da Carolina do Norte fazia até há poucos dias. Agora já não faz, mas já lá vamos.

“Pode ser qualquer coisa – apenas um momento de afastamento do mundo”, explica Mary Haglund, proprietária do Mary’s Gourmet Diner, em Winston-Salem, à BBC. “Nem sequer é uma política [aplicar o desconto]. É apenas algo que fazemos quando nos sentimos compelidos a tal”, explica, acrescentando que nunca perguntou a ninguém a quem é que estava a rezar, quando os clientes o faziam. “Seria parvo”.

O desconto de fé ganhou fama no fim de julho quando uma cliente que rezou antes da refeição partilhou no Facebook uma fotografia da conta onde se mencionava um desconto de seis dólares por “rezar em público”. Essa fotografia foi posteriormente partilhada por uma rádio cristã da Flórida, tornando-se imediatamente viral.

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“Não havia publicidade em nenhum local ao desconto de fé. Apenas pedimos a nossa comida e orámos”, conta Jordan Smith, a cliente que partilhou originalmente a fotografia e que se diz surpreendida com a atenção mediática que a situação alcançou. “Como cristã, é excitante ver tanta gente a falar de oração”, disse.

Também Mary Haglund, filha de um missionário que diz ser uma pessoa espiritual que acredita num poder superior – não necessariamente um deus – ficou surpresa com tudo o que se passou, até porque já praticava o desconto há cerca de quatro anos.

Neste momento, contudo, quem vá ao Mary’s Gourmet Diner rezar à espera de receber um desconto de 15% na sua refeição, desengane-se: o desconto foi cancelado depois de uma organização ateísta ter alertado Mary Haglund para a ilegalidade da prática e de ameaçar recorrer à Justiça para travar a aplicação da redução de preço. “Como se trata de um local público, o Civil Rights Act [legislação americana relativa aos direitos civis] estabelece que o restaurante forneça bens e serviços, que nós interpretamos como incluindo descontos, sem distinção de religião, raça ou nacionalidade”, lê-se na carta enviada por Elizabeth Cavell, da fundação Freedom from Religion, a Mary Haglund.

Após receber a carta, a proprietária do restaurante acabou imediatamente com o desconto e disse que não havia “más intenções” nessa prática. Mary Haglund colou um cartaz na porta do seu estabelecimento a pedir desculpa por “alguma ofensa que o desconto possa ter causado”.