Juncker está farto de pedir aos líderes europeus que nomeiem comissárias, mas até agora só tem quatro mulheres na equipa. O novo presidente da Comissão ameaça que assim serão as mulheres a ficar com cargos de destaque, ao mesmo tempo que os liberais, essenciais para a aprovação da Comissão no Parlamento Europeu, abandonaram o compromisso do apoio a Juncker devido à falta de igualdade de género.
“Como liberais, não podemos apoiar uma Comissão com tão poucas mulheres”, defendeu esta segunda-feira o líder desta ala no Parlamento Europeu, Guy Verhofstadt, em comunicado. Claro que esta não é a única razão para os liberais quebrarem o pacto de apoio a Juncker feito após as eleições. A forte presença de comissários vindos de partidos de centro-direita europeus também contribuiu para o receio de uma Comissão que “não reflete apropriadamente as forças pró-europeias”.
Embora esta pareça uma ameaça vã, já que o ex-primeiro-ministro luxemburguês conta com o apoio dos maiores grupos dos Parlamento Europeu para aprovarem a sua equipa – o PPE, integrado pelo PSD e pelo CDS, tem 221 eurodeputados e os socialistas europeus, onde estão os representantes do PS, têm 191 -, há a possibilidade de alguns eurodeputados dentro destes partidos não votarem favoravelmente a Comissão e comprometerem a necessária maioria.
Também os socialistas já se manifestaram contra o desequilíbrio entre homens e mulheres, avisando que isto torna difícil manter o compromisso de apoio a Juncker. Já os liberais avisaram mesmo o sucessor de Durão Barroso que caso não haja alterações, a sua Comissão vai ser “rejeitada”.
Poucas, mas cargos de destaque
Este domingo em entrevista ao jornal austríaco Der Kurier, Juncker admitiu que caso a falta de mulheres continue, vai ter de fazer discriminação positiva, atribuindo aos países que nomearam comissárias, pastas com maior relevo. “Comissárias mulheres têm certamente muito boas hipóteses de conseguir uma pasta importante ou o cobiçado posto de vice-presidente”, admitiu na entrevista.
Conhecido pela sua frontalidade, o sucessor de Durão Barroso afirma que do seu ponto de vista “uma comissão em que não existe um número significativo de comissários do sexo feminino seria pouco legítima e pouco representativa”. Até agora, Juncker só conta com Federica Mogherini (Itália), Vera Jourova (República Checa), Kristalina Georgieva (Bulgária) e Cecilia Malmström (Suécia) e o prazo está a esgotar-se.
Depois do Conselho Europeu do próximo sábado, onde vai ser escolhido o próximo presidente deste órgão e o cargo mais importante do colégio da Comissão, o Alto-Representante para as relações externas – o novo presidente considera que a concorrer ao lugar estão a nomeada italiana, o nomeado da Polónia e a nomeada búlgara -, Juncker fará a distribuição das restantes pastas na semana seguinte.
As prioridades de Juncker para o seu mandato são “investimento, crescimento, estabilidade monetária, um verdadeiro mercado único para os serviços digitais e de energia, regras mínimas para os trabalhadores que operam além fronteiras, uma política comum de imigração e mais transparência em acordos de livre comércio internacionais”, o que pode levar à criação de duas novas pastas na Comissão: sistema financeiro/supervisão bancária e imigração.