Da reunião deste sábado dos 28 chefes de Governo e de Estado dos países da União Europeia devem sair os nomes dos próximos presidente do Conselho Europeu, Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança e presidente do Eurogrupo. Depois de um encontro frustrante em julho, onde nada foi decidido, os países de Leste parecem estar a ganhar força à mesa das negociações com a possibilidade do primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, assumir a liderança do Conselho Europeu.

Para além dos 28 se juntarem para debaterem medidas conjuntas sobre a Ucrânia (o Presidente Petro Poroshenko vai falar aos líderes europeus em Bruxelas), Iraque e Gaza, alguns dos lugares mais importantes da governação europeia também vão estar em discussão. Apesar de existir sempre a possibilidade de nada ser decidido, já que efetivamente estes cargos só deverão mudar em novembro, há indícios de que o puzzle dos cargos de topo da liderança europeia se vai começar a resolver já este fim-de-semana:

  • Presidência do Conselho Europeu

Depois de vários nomes já terem sido apontados nas semanas após as eleições europeias, Donald Tusk, primeiro-ministro da Polónia e um dos opositores das transgressões da Rússia nos últimos anos contra os países que a rodeiam, está a destacar-se para suceder a Van Rompuy. Esta semana, o líder de direita fez saber através do seu gabinete que vários governantes da UE têm tentado persuadi-lo a assumir novas funções.

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“O primeiro-ministro está a analisar esta proposta de forma muito séria, está a analisar as consequências para a Polónia e para a segurança do país, especialmente após a crise na Ucrânia”, disse Malgorzata Kidawa-Blonska, porta-voz do governo polaco, à Reuters.

Ao seu lado tem David Cameron, primeiro-ministro inglês, que fez saber esta semana através do seu porta-voz que o Reino Unido quer alguém com quem possa negociar. “O nosso objetivo no debate de sábado no Conselho Europeu é ter a certeza que temos um candidato que esteja disposto a trabalhar com o Reino Unido e a dar atenção às nossas preocupações nos próximos anos”, disse o porta-voz.

O primeiro-ministro britânico estará tão empenhado que falou na quinta-feira com Matteo Renzi, primeiro-ministro italiano, para em conjunto defenderem esta posição na reunião de sábado. Terá sido Angela Merkel que lançou o nome de Tusk há uns meses para o cargo, mas até agora o primeiro-ministro polaco parecia estar interessado em concorrer a um terceiro mandato como líder do seu país.

Os países de Leste, que procuram assumir funções de relevo dentro da UE, também apoiarão Tusk nesta pretensão, esperando pulso firme contra a Rússia nos próximos anos. Contra si, Tusk tem o problema de falar com pouca fluência o inglês e não falar mesmo francês.

A outra candidata é Helle Thorning-Schmidt, primeira-ministra da Dinamarca. A sua nomeação tem vindo a perder apoiantes, especialmente porque deve haver equilíbrio entre esquerda e direita e a possibilidade de uma socialista ocupar o lugar de Alta Representante da UE torna cada vez mais difícil a sua conquista.

  • Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança

Em entrevista ao jornal austríaco “Der Kurier”, Juncker apontou que os três possíveis candidatos a principais representantes da política externa da União Europeia são: Federica Mogherini, ministra dos Negócios Estrangeiros italiana, Kristalina Georgieva, comissária búlgara (atualmente responsável pela cooperação internacional) e Radoslaw Sikorski, ministro dos Negócios Estrangeiros polaco.

Esta escolha tem de ser feita dentro dos nomeados pelos 27 Estados-membros a comissários europeus (o presidente é do Luxemburgo, por isso o país já está representado), já que este cargo faz parte do colégio chefiado por Jean-Claude Juncker. O nome da ministra italiana foi falado na última reunião e criou um impasse pois Renzi tentou forçar a sua nomeação, mesmo com a oposição de vários países do Leste — que a consideram demasiado próxima de Moscovo.

Mais uma vez é a Polónia a baralhar as contas, já que com a nomeação de Donald Tusk, Sikorski vê muito reduzidas as suas possibilidades de aceder a este cargo, mas fica em aberto a hipótese de uma pasta de peso na área da Economia. Se o ministro polaco conseguir uma pasta de relevo, o governo desiste das relações externas e vai passar a apoiar a candidata búlgara para o cargo, sendo possivelmente seguido pelos restantes países de Leste, que têm vindo a ganhar peso nas decisões do Conselho.

  • Presidente do Eurogrupo

Depois da visita de Merkel a Santiago de Compostela na semana passada para apoiar as reformas de Rajoy, parece claro que o ministro da Economia espanhol, Luis De Guindos, está muito bem posicionado para suceder ao holandês Jeroen Dijsselbloem.

  • As pastas da Comissão

Ainda não é agora que as pastas dos vários comissários vão ser atribuídas aos países – isto só deverá ser conhecido para a semana -, mas vai ser neste Conselho Europeu que o jogo de influências vai determinar a quem vão calhar os principais temas da política europeia.

A grande novidade é que afinal a Alemanha não parece assim tão interessada em manter a pasta da Energia, e o seu atual comissário, que continuará nos próximos cinco anos, Günther Oettinger, disse publicamente que estaria aberto a outros desafios. “O melhor seria um dos campos que interessam tanto a mim como a Alemanha, algo com um foco económico, mas que também estivesse ligado à energia, ao comércio e ao mercado interno”, disse em entrevista à televisão ARD.

Oettinger parece estar a descrever a pasta do comércio internacional que nos próximos anos vai ganhar relevo devido à conclusão do acordo de parceria para comércio livre com os Estados Unidos. Uma posição que vai coincidir com o interesse de outros países como a Finlândia que enviou para Bruxelas como comissário o seu ex-primeiro-ministro Jyrki Katainen.

Mas a Alemanha não se pronuncia apenas sobre a sua pasta, insistindo junto de Bruxelas que não deve ser dado um cargo económico a França, especialmente depois de serem conhecidas as dificuldades do país. Pierre Moscovici, ex-ministro das Finanças de François Hollande, tem os olhos postos na pasta dos Assuntos Económicos, o que daria algum equilíbrio de poder a uma comissão maioritariamente de direita.

Wolfgang Schäuble já se tinha manifestado contra esta escolha, dizendo numa conferência que a economia da Europa não pode ser confiada a um país que não consegue cumprir as suas próprias responsabilidades. Mais tarde, o ministro alemão retratou-se, mas a posição de Berlim já estava marcada. Fontes do gabinete de Schäuble disseram ao jornal “Süddeutsche Zeitung” que a luta contra Moscovici faz-se nos corredores comunitários.

Já a Roménia, que tinha indicado o seu atual comissário, Dacian Cioloș para continuar em Bruxelas com a pasta da Agricultura, está a pensar voltar atrás na nomeação. Na corrida para esta pasta está o ministro espanhol, Miguel Arias Cañete, que pode ficar com o lugar. Assim, a Roménia pensa nomear Cioloș caso não consiga ficar com a Agricultura e enviar outra figura de peso para lutar por uma pasta de primeira linha.