Uma empresa norte-americana lançou uma aplicação móvel destinada a “esclarecer” o sexo consentido. Chama-se Good2Go e, segundo os seus criadores, foi pensada para acabar com a má comunicação entre as partes, evitar más surpresas e abusos (sexuais). Dirigida a jovens estudantes universitários (dos “campus” dos EUA), baseia-se na comunicação direta, ou seja, foi concebida não para trocar mensagens entre smartphones mas para ser apresentada “em mão”. Confuso?

A Good2Go funciona apenas com dois ecrãs. Vamos usar o exemplo homem-mulher, para facilitar. Imagine que está numa festa, conhece uma rapariga e pensa em convidá-la a subir ao quarto. Mas antes de se pôr a caminho, pega no smartphone, abre a aplicação e mostra-a em mão à rapariga (os papelinhos da escola primária podia ser escondidos dentro dos cadernos, eram mais discretos). O primeiro ecrã pergunta “estás pronta para ir?” e apresenta três opções de resposta:

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– Não, obrigado

– Sim, mas… precisamos de falar

– Sim, estou pronta

Um “não” acaba com a conversa. O “sim, mas…” sugere isso mesmo, que há um “mas” e finalmente o “sim”, claro e explícito, é para arrepiar caminho. Se for essa a resposta, aparece o segundo ecrã, onde se assinala o estado de sobriedade (álcool e/ou drogas — estamos num contexto de festa, ok?). Há quatro opções de resposta, de “sóbrio” a “estou de rastos”.

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A última opção também acaba com o esquema, mas qualquer uma das restantes exige um OK como confirmação e obriga a que ela registe o número de telefone para validar a sua identificação e, dizem os criadores da aplicação, o consentimento. Deste modo, fica “registado” que A quis ter sexo com B.

E a privacidade?

Nas FAQ (perguntas frequentes) do sítio Good2Go pode ler-se que esta plataforma pretende evitar o desconforto que possa surgir de um mal-entendido ou, motivo mais importante, evitar situações que levem a relações contra vontade (recorde-se que esta aplicação foi pensada para jovens adultos universitários). Mas porque se trata de uma aplicação móvel que tem por objetivo fazer dinheiro, Caitlin Dewey alerta no The Washington Post para aquilo que quase ninguém faz quando subscreve um serviço online: ler as letras pequenas da política da privacidade. A empresa afirma que não, mas o texto diz que a Good2Go se apropria do número de telefone, nome completo e email, e que pode fazer com isso o que quiser (leia-se, ceder ou vender).

Caitlin Dewey sublinha: esta empresa está a construir uma base de dados sobre a vida sexual e hábitos de consumo (drogas/álcool) dos seus subscritores e, mais que isso, estabelece relações diretas entre as partes. Trata-se, uma vez mais, de um caso de violação da privacidade autorizada por quem utiliza uma aplicação.

A Good2Go diz que pretende esclarecer a concordância entre os jovens e com esse registo evitar as relações abusivas, ou seja, servir como meio de prova do sexo consentido. Por outro lado, é uma aplicação para não perder tempo. E não se perde o romantismo? Isso já é outra conversa.

https://www.youtube.com/watch?v=X-MoGRKXkqw