Quando alguém monta um negócio dispensa uma grande dose de energia para a escolha do nome. Não pode falhar. Tem de ter o dom de ser forte, fácil de dizer e de se entranhar na mente das pessoas. “ISIS” era até há bem pouco tempo um nome como tantos outros, que até homenageava a deusa egípcia do amor. Agora já não é bem assim…

A jihad do Estado Islâmico, conhecido pela sigla ISIS, mudou para sempre a face desses negócios, conta a AP. Aeren Brent, dona de uma pequena loja chamada Isis Bridal and Formal, está cansada de ouvir perguntas sobre a origem do nome e de ver pessoas a fotografar o estabelecimento. “Eu entendo o que se passa, mas será que conseguem ver que é uma loja?” A proprietária do espaço, situado no sul da Califórnia, quer mudar o nome do negócio para evitar confusões com o grupo jihadista.

São cerca de 270 produtos, serviços e negócios registados com o nome “Isis” nos Estados Unidos, de acordo com o Gabinete de Marcas e Patentes norte-americano. Os negócios não têm de ser registados, pelo que o número real poderá ser bem maior.

Em New Jersey, o CEO da Take Isis Collections Inc. está de cabeça perdida com esta história. “É tão stressante”, começou por dizer Philip Shin, que explicou à AP estar há 20 anos a construir a reputação da empresa. “Perdi todo o benefício da imagem da marca.” Shin, que escolheu para o negócio de perucas o nome da tal deusa do Egito, acha que os clientes não vão comprar o produto por verem lá escrito “Isis”. Embora esteja reticente, já deu início ao processo de retirar o nome de alguns produtos.

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No Reino Unido, por exemplo, há empresas concorrentes que exploram precisamente esse novo handicap: um nome associado a terroristas. E o que mais deseja? Que os media norte-americanos e europeus tratem o grupo fundamentalista por outro nome, lembrando que na Coreia do Sul, por se referirem ao grupo como “Estado Islâmico”, não registou nenhuma quebra nas vendas.

Mas há mais. A empresa Isis Wallet anunciou em setembro que vai alterar o nome para Softcard. “Ainda que seja coincidência, não desejamos partilhar o nome com este grupo, e o nosso coração/sentimentos vão para aqueles afetados por esta violência”, disse Michael Abbot, o CEO da empresa. Neste caso, o nome voltou a ser escolhido para homenagear a deusa egípcia. “Não quisemos colocar ninguém numa situação má”, explicou Cie Nicholson, o vice-presidente da área de marketing.

Escolher o nome não é coisa fácil. Escolher pela segunda vez é ainda mais complicado. “Eu não vou almoçar uma pizza ao almoço e rapidamente volto com uma alternativa”, desabafou Allen Adamson, um dos diretores de marca da empresa Landor Associates.

Mas há casos em que nada vai mudar. É o caso da Isis Pharmaceuticals Inc., por exemplo, que não vai mudar o nome escolhido há 25 anos. Esta decisão explica-se com o facto de não trabalharem diretamente para o público em geral. A empresa vende medicamentos e drogas para outras empresas, que posteriormente as vendem às pessoas. Por essa razão o nome não é assim tão determinante, mas não se livraram de algumas perguntas por parte de alguns investidores. “Estamos nisto há algum tempo. Eles sabem distinguir facilmente entre nós e o grupo terrorista do Médio Oriente”, explicou Wade Walke, o vice-presidente para as comunicações.

Na música é o mesmo fado

No final de agosto, o Observador deu conta de uma banda de pós-metal criada em 1997 que teve de alterar o nome. “Fomos apanhados de surpresa”, reagiu à ABC News o antigo baterista da banda, Aaron Harris. A solução encontrada foi alterar o nome da página oficial de Facebook de “ISIS” para “Isis the band”.

Um representante da Ipecac, editora da banda, disse então à ABC que a situação era lamentável. “(…) Pessoas pouco menos do que esclarecidas não estão a ver a diferença entre uma banda inativa de músicos e um bando de terroristas”, explicou, adiantando que a má publicidade não estava na altura a causar uma diminuição nas vendas de merchandise da banda. No entanto, o baterista Aaron Harris contou que andava a receber e-mails de alguns fãs que se sentiam relutantes em usar t-shirts com o nome ISIS estampado, depois de terem sido alvo de comentários pouco simpáticos.