Em vez de se encontrar com Merkel antes do início da cimeira União Europeia – Ásia em Milão como estava previsto, Vladimir Putin mandou avisar que ia passar primeiro pela Sérvia – onde pela primeira vez desde Tito um presidente russo foi recebido com parada militar – e só depois seguiria para Itália. Resultado: chegou a meio do jantar dos mais de 50 líderes de países europeus e asiáticos, perdendo o brinde de honra e atrasando a reunião com Merkel cerca de quatro horas.

No fim desta reunião, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que persistem “sérias divergências” entre o presidente russo, Vladimir Putin, e a chanceler alemã, Angela Merkel, relativamente à crise ucraniana.

“Ainda há sérias divergências relativamente à génese do conflito interno na Ucrânia e às causas de fundo do que está a acontecer atualmente”, disse o porta-voz, citado pelas agências noticiosas russas, após conversações entre os dois líderes.

A reunião terá terminado já de madrugada e em cima da mesa deve ter estado o abastecimento de gás por parte da Rússia à Europa, mais especificamente à Alemanha. Putin disse na Sérvia que iria baixar o fluxo de distribuição devido ao desvio de gás das condutas que atravessam a Ucrânia para chegar à União Europeia, pressionando assim os países europeus a repensarem o congelamento da construção do South Stream, um gasoduto que atravessaria o mar negro e entraria na UE pela Bulgária.

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“Há muitos riscos de trânsito. Se virmos que os nossos parceiros ucranianos começam a tirar ilegalmente gás do nosso gasoduto de exportação, como fizeram em 2008, vamos reduzir o abastecimento tal como fizemos esse ano”, disse Putin na Sérvia

O russo defende no entanto, que não faltará gás à Europa e que o seu país sempre foi um “parceiro estável” no fornecimento de energia. “Não vai haver qualquer crise na Europa por culpa de participantes russos na cooperação energética” assegurou então Putin, que deve ter explicado este argumento a Merkel, já que a Alemanha é o maior mercado para o gás russo.

Nesta cimeira, onde Portugal está representado com a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, haverá ainda lugar a uma reunião entre Putin e Petro Poroshenko, presidente ucraniano. Neste encontro deverá falar-se sobre o apaziguamento da fronteira entre a Ucrânia e a Rússia e alguns países como França, Alemanha ou Itália podem estar presentes para mediar o processo de paz.