“Presidente, queremos votar nos próximos três meses!” A mensagem não podia ser mais clara e saiu da boca de Carme Forcadell, líder da Assembleia Nacional Catalã (ANC), o movimento que mais tem batalhado pela independência da Catalunha nos últimos meses e que esteve na base da ação “Ara és l’hora” (“Está na hora”), cuja manifestação de 11 de setembro juntou quase um milhão de pessoas nas ruas de Barcelona.
"President, volem votar en els propers 3 mesos!" Ara és l'hora de fer un pas endavant! https://t.co/Md6phivkwG #FemUnPasEndavant
— Catalangate (@catalangate) October 19, 2014
Desta vez, a manifestação teve menos expressão – segundo as contas da polícia, 110 mil pessoas concentraram-se em plena Plaça Catalunya, no centro de Barcelona -, mas a motivação era a mesma: exigir a independência. Depois de Artur Mas, o presidente da Generalitat (autoridade regional da Catalunha) ter trocado o referendo previsto para 9 de novembro por um “processo participativo” cujos contornos ainda não são exatamente conhecidos, a ANC marcou a sua posição, deixando claro que só apoiará essa consulta se houver eleições para o parlamento local.
“Comprometemo-nos a ser os garantes do processo”, afirmou Carme Forcadell, exigindo no entanto “unidade política e que haja eleições” rapidamente.
“Damos apoio se o 9-N [9 de novembro] for uma mobilização para denunciar a involução do Estado espanhol, se se garantir que se poderá fazer em todo o território e que sirva para denunciar perante os organismos internacionais que o Estado espanhol proíbe os nossos direitos nacionais e não nos deixa exercer o nosso direito de expressão”, afirmou a presidente da ANC, que, em seguida, deixou o repto aos líderes políticos catalães: “Demonstrem que são dignos representantes do povo que votou em vocês”.
https://twitter.com/CataloniaYes/status/523820060914499584
A decisão de Artur Mas de substituir o referendo por um “processo participativo” deu-se depois de o Tribunal Constitucional espanhol ter considerado que um plebiscito à independência violava a Constituição. “No dia 9 de novembro haverá consulta, haverá boletins de voto e caixas para os votos”, afirmou o presidente do governo catalão aquando do anúncio da nova modalidade, que recusou tratar-se de um recuo “Pelo contrário. Este governo está comprometido em celebrar um referendo a 9 de novembro”, disse.
Mas os partidos pró-independência não estão convencidos. “É verdade que esta não era a consulta que queríamos, não é a que nos disseram que fariam, não é a nossa consulta”, admitiu Carme Forcadell. Também o líder da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Oriol Junqueras, pediu a Artur Mas que convoque “eleições o mais depressa possível” e defendeu que a região deve declarar a independência unilateralmente, assim que haja uma maioria parlamentar que apoie essa pretensão. “Apenas quando Espanha e o mundo constatarem a vontade de ser um país independente e de trabalhar como tal poderemos negociar de igual para igual” com o governo de Madrid, defendeu.
Entrevistado este domingo pelo jornal El Punt Avui, Artur Mas rejeitou a ideia de marcar eleições, dizendo que isso “é o mais irrelevante” deste processo, que, asseverou, está em andamento, apesar das divergências entre as diferentes forças políticas.