Negociar. Nem sempre é fácil, seja-se homem ou mulher. Chegar a acordo, persistir, manter-se convicto/a na luta pelo que acha que merece e saber transmitir essa convicção. Quem cede primeiro? As mulheres, diz a Fast Company, com base em estudos recentes. Estará o sexto sentido, tão frequentemente associado ao universo feminino, a falhar como arma de negociação? Uma coisa é certa: os cargos de chefia ainda estão longe de ser igualitários no género.

Os conselhos de administração das empresas continuam a pautar-se mais pelo masculino do que pelo feminino e a desigualdade salarial continua a ser um problema. Segundo o Índice Global das Diferenças de Género do Fórum Económico Mundial, citado pelo Público, Portugal melhorou no ranking da igualdade – está na 39º posição num total de 142, quando, em 2013, ocupava a 51ª, em 136 países – mas mantém ordenados significativamente desiguais entre homens e mulheres. No ranking de 142 países, Portugal está abaixo de meio e é o 97º país onde as diferenças na conta bancária ao final do mês são mais notórias.

Melhor arma para a mudança? A educação, que começa em casa. Ensinar as meninas a negociar ou a enfrentar desafios pode ajudar a mudar o paradigma, seja-se pai ou mãe. E o caminho é percorrido tendo em conta o desenvolvimento pessoal da criança ou adolescente, segundo Linda Hoke-Sinex, professora do departamento de Psicologia e Neurociências, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos da América (EUA), que dá seis dicas sobre como educar as meninas para negociarem melhor no futuro:

1. Estimule a autoconfiança. O maior valor é o interno

Uma das maiores crises de autoconfiança pode acontecer na puberdade, entre os 12 e os 14 anos, diz a especialista. Mantenha-se alerta, mesmo que até então a sua filha não tenha demonstrado ter problemas de segurança ou autoestima. Nesta idade, as meninas deparam-se com uma nova realidade na escola e nos media, a sexualização, o que faz com que percam alguma segurança. “A literatura chama-lhe o momento em que ‘perdem a voz’. Nessa idade, as raparigas tendem a ficar relutantes no que toca a falar por si próprias”, explica.

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Por isso, evite críticas, quando perceber que perderam alguma confiança. Melhor: encoraje-as a defenderem o que pensam, explica Elizabeth Daniels, outra professora de Psicologia da Universidade de Colorado, nos EUA. E dá uma sugestão: porque não incluí-las em programas que estimulem a liderança, como os escuteiros?

2. Discuta as adversidades. Fale abertamente sobre os desafios do futuro

O segredo está na franqueza. Fale com as suas filhas sobre as adversidades que podem encontrar no futuro e inclua a carreira e os salários na conversa. Mesmo que fiquem tristes, a experiência de Hoke-Sinex leva-a a afirmar que rapidamente passam da desilusão para a procura de soluções. Se isto acontecer, evita que fiquem desiludidas mais tarde, quando entrarem no mercado de trabalho. Mais prevenidas, podem estar mais bem preparadas para reagir.

3. Palavra de ordem: assertividade. Discurso ativo, não passivo

A dica é de Erin Rajca, que trabalha num instituto para crianças em risco, em Toronto, no Canadá. A especialista explica que as raparigas são frequentemente bombardeadas com mensagens sobre o que significa ser mulher e os pais e educadores devem estar atentos e tentar perceber o que transmitem. Até porque é frequente ensinar-lhes que para se ser uma “boa mulher”, é preciso ser-se politicamente correta e adotar um estilo de comunicação passivo. E passividade não rima com negociar.

4. É importante acreditarem nelas. E convencerem-se disso

Na adolescência, é habitual que os monólogos sejam mais pessimistas do que otimistas. Ou seja, as raparigas tendem a acreditar mais nas coisas negativas que pensam sobre si do que nas positivas. Mostre-lhes o contrário, que é importante terem um pensamento e discurso positivo e que devem redirecionar o negativismo. Pode demorar algum tempo, mas Erin Rajca acredita que pode ter impacto na autoestima. Aproveite e explique-lhes que não devem ser tão exigentes com elas próprias.

5. Para negociar também é preciso estilo próprio. É preciso encontrá-lo

As abordagens à negociação são diversas. Se há mulheres que se sentem mais confortáveis ao adotar um estilo de negociação mais colaborativo, há outras que preferem a objetividade e rudeza do discurso. Elizabeth Daniels acredita que a melhor abordagem será aquela em que se sentirem mais confortáveis. Descoberta a forma de intervenção ideal, é preciso treinar as competências de liderança. Fale com elas sobre os objetivos que estão a tentar alcançar, que se ponham no lugar do outro e qual a melhor forma de chegar a um acordo.

6. A negociação, tal como o resto, também pode e deve começar cedo

Negociar não é exclusividade da idade adulta. Incentive as suas filhas a participarem em programas escolares, nos quais seja preciso lutarem ou pedirem algo, mesmo que isso acarrete uma responsabilidade extra. Poderá ser bom para que entendam que, sempre que peçam ou lutem por algo, devem saber justificá-lo e ter em conta que a outra parte também vai obter mais-valias com essa decisão. Ou seja, demonstrar que todos podem sair a ganhar.