A economia vai crescer em 2015, mas a forma como vai crescer pode colocar em causa a sustentabilidade do crescimento económico e das finanças públicas no futuro, alerta o Conselho das Finanças Públicas. Um dos principais objetivos do programa da troika era reajustar o modelo de crescimento da economia portuguesa, para um modelo mais sustentável, assente nas exportações e que permitisse reduzir o desequilíbrio externo. O Governo defende isso mesmo, e justificou parte das medidas difíceis com essa necessidade.

Agora, nota o Conselho das Finanças Públicas, comparando o cenário macroeconómico da proposta de Orçamento face ao que estava previsto no Documento de estratégia Orçamental apresentado no final de abril, constata-se que houve uma “inflexão significativa no respeitante à composição do crescimento económico previsto”.

As variações não são de grande dimensão, mas vão todas no mesmo sentido e esse sentido não é favorável à sustentabilidade do crescimento económico. Em primeiro lugar, isso verifica-se no crescimento do consumo privado, que volta a crescer mais que o PIB, contribuindo para a redução da taxa de poupança das famílias.

A tendência de crescimento do consumo privado acima do crescimento do PIB verificou-se na última década, mas esse consumo acaba por recair sobre importações e não sobre produtos nacionais, e era financiado por empréstimos do exterior. O resultado foi um grave desequilíbrio externo de Portugal.

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O aumento do consumo privado pode criar também a ilusão de bons tempos, uma vez que a economia está a crescer (em grande parte devido a esse aumento) e de cumprimento das metas orçamentais, já que o que mais contribui para o total da receita fiscal é o consumo privado.

Os restantes indicadores corroboram esta composição de crescimento menos saudável, diz o CFP, como é o caso da menor queda do consumo público, a perda relativa de peso do investimento e o menor excedente corrente com o exterior: “um conjunto de variações que não contribuem para a sustentabilidade do crescimento económico e das finanças públicas nacionais”, alerta a instituição.

Recorde-se que o Fundo Monetário Internacional e a Comissão Europeia já deixaram vários alertas para os riscos à sustentabilidade das melhorias nas contas externas de Portugal.