Imagine-se num elevador. Na sua companhia está um casal que começa a discutir. A discussão sobe de tom e a violência física também. O que faz? Intervém ou olha para o lado como se nada fosse e foge do elevador assim que consiga? Das 53 pessoas submetidas a esta experiência apenas uma reagiu, conforme noticia El Mundo.

A “experiência social” conduzida por um grupo de suecos – STHLM Panda – tem o objetivo provocar reações (ou não) nas pessoas perante situações extremas. Neste caso foi a violência doméstica, mas já fizeram o mesmo tipo de experiência com um homem a pedir na rua e outro a urinar em cima de um sem-abrigo. As pessoas que participam involuntariamente na experiência são filmados e os vídeos divulgados nas redes sociais.

No elevador, dois casais de atores simulavam, à vez, situações violentas – palavras, empurrões e outros abusos físicos. Os restantes passageiros olhavam para o lado como se nada fosse ou limitavam-se a olhar de soslaio e não perdiam a oportunidade de sair do elevador assim que possível. Houve mesmo uma senhora idosa que disse: “Também estou aqui. Deixem-me sair primeiro”. Das 53 pessoas que entraram no elevador apenas uma se insurgiu: “Se lhe tocares outra vez vou chamar a polícia”.

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“Falámos com quase todas as pessoas do elevador depois. A maior parte delas disse sentir-se envergonhada por não ter reagido e disseram estar contentes de ser apenas uma experiência”, contou ao The Independent Konrad Ydhage, co-criador do grupo STHLM Panda e um dos atores do vídeo. “Estávamos à espera que cerca de 50% das pessoas interviesse. Estava preparado para ser agredido pelos rapazes maiores que entraram no elevador. Mas infelizmente não ligaram [ao que estava a acontecer] à rapariga.”

Em Portugal, só no primeiro semestre deste ano morreram 24 mulheres vítimas de violência familiar e 27 foram vítimas de tentativas de homícidio. Os números cresceram em relação ao período idêntico de 2013, onde morreram 20 mulheres e 21 foram vítimas de tentativa de homicídio. As forças de segurança receberam 13.071 queixas, mais 291 do que no mesmo período em 2013, segundo um relatório da Direção-Geral da Administração Interna (DGAI). A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) presta apoio neste e noutros casos de violência.

Polly Neate, diretora do Women’s Aid, no Reino Unido, disse ao The Independent que quem assistir a casos de violência deve chamar de imediato a polícia. Não se deve envolver diretamente, mas não quer dizer que ignore. “A violência doméstica raramente é um incidente único – é um padrão de comportamentos abusivos -, portanto se vir um ataque é provável que tenha começado antes de o ter visto e mais provável é que continue”, explica. “Se vir um incidente de violência doméstica, chame sempre a polícia em vez de intervir, porque pode ficar exposta ao risco. Também pode agravar o abuso ou se a vítima tiver medo do abusador também se pode virar contra si com o medo. Contudo, lá porque não se deve envolver diretamente não quer dizer que deva ignorar.”