A Polícia Judiciária (PJ) suspeita de uma viagem do presidente do Instituto dos Registos e Notariado (IRN), António Figueiredo, e do ministro demissionário Miguel Macedo, em junho, a Espanha, por considerar que pode estar relacionado com o processo dos vistos gold e com uma eventual fuga a escutas em território português.
Segundo avança o Correio da Manhã, quando António Figueiredo soube que era suspeito por corrupção no caso de atribuição dos vistos gold, ainda antes do verão, contactou o amigo e ministro Miguel Macedo, alegadamente para discutirem o caso. E pensando que o presidente do IRN podia estar sob escuta, os dois foram então passar um fim de semana a Espanha, junto à fronteira, onde as escutas ambientais da PJ não chegavam. Esta viagem à zona de Ayamonte, junto a Vila Real de Santo António, que de acordo com o mesmo jornal está documentada na investigação da PJ, pode estar a implicar Miguel Macedo no caso dos vistos gold no sentido em que o torna conhecedor da investigação.
Para além da conhecida proximidade a Figueiredo, e da alegada viagem à fronteira para fugir às escutas da Polícia Judiciária, o Correio da Manhã lembra ainda um bilhete para a Champions que o ministro terá pedido para o empresário chinês Zhu Xiaodong, sócio da filha de Figueiredo na Golden Vista Europe, que agora é um dos 11 presos no âmbito da Operação Labirinto.
Miguel Macedo não é suspeito no caso, mas admitiu ter relações próximas com várias pessoas visadas no processo, e por isso, por entender que a sua “autoridade política ficou diminuída”, apresentou a demissão. “Apesar de não ter qualquer responsabilidade pessoal no que está a ser investigado, não desconheço que no plano político as coisas se passam de maneira diferente e são de natureza distinta os critérios da tomada de decisão”, disse Miguel Macedo, numa declaração lida ontem no Ministério da Administração Interna.
Entretanto, os arguidos começaram a ser ouvidos ontem no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, sendo que a audição de António Figueiredo, prevista para ontem acabou por ser adiada. Manuel Jarmela Palos, diretor do serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) foi um dos primeiros a ser ouvido, e admitiu ter agilizado alguns processos para a concessão dos golden visa, escreve o Diário de Notícias.
Segundo o DN, Manuel Palos acelerava os processos a pedido especial, não só de António Figueiredo como de outros “altos funcionários do Estado”, mas sem receber contrapartidas financeiras, diz. Palos terá afirmado que o fazia por ter “instruções políticas para fazer tudo para dinamizar os vistos gold” ou as autorizações de residência. Uma “instrução política” que não terá vindo do gabinete de Paulo Portas, grande impulsionador da medida, segundo escreve o mesmo jornal. “Daqui não houve certamente nenhuma instrução política”, descartou fonte do gabinete do vice-primeiro-ministro ao Diário de Notícias.