O Banco Central Europeu (BCE) deverá nesta quinta-feira, no final da última reunião do Conselho de Governadores de 2014, reconhecer que a taxa de inflação irá permanecer bem longe do objetivo por mais tempo. As novas projeções trimestrais dos técnicos do banco central vão colocar mais pressão sobre a cúpula da autoridade monetária, mas os analistas acreditam que Mario Draghi irá esperar mais alguns meses antes de, finalmente, avançar com mais estímulos e, em especial, com o controverso programa de compra de dívida pública.
A taxa de inflação na zona euro voltou a descer em novembro, para 0,3%, segundo a primeira estimativa do Eurostat. É apenas uma fração dos “abaixo, mas perto de 2%” que corresponde ao objetivo do banco central. Uma inflação demasiado baixa é, ao mesmo tempo, uma causa e uma consequência de crescimento económico reduzido, cenário que tem sido comprovado pelos mais recentes indicadores. E a ausência de inflação também não vem nada a calhar às empresas e aos membros da zona euro, que teriam uma grande ajuda para acelerar a redução real da dívida, entre os quais Portugal.
Pelo facto de a inflação estar há vários anos longe do objetivo, Mario Draghi anunciou em junho um conjunto de medidas de compra de dívida privada. Estas já estão em curso mas os analistas duvidam, como duvidaram desde o anúncio, que estas sejam suficientes para fazer “inchar” o balanço do BCE na medida desejada por Mario Draghi. Um balanço maior significa maior quantidade de moeda a circular, um euro mais baixo face às outras divisas (o que torna as empresas exportadoras mais competitivas) e custos de financiamento mais baixos para os estados e empresas. O objetivo do BCE é elevar o balanço para mais de três biliões de euros, o que implicaria um aumento de cerca de 50% face aos valores atuais.
A 21 de novembro, Mario Draghi deixou a garantia: “Vamos fazer o que tivermos de fazer para acelerar a inflação e as expectativas de inflação o mais rapidamente possível, como nos obriga o nosso mandato de estabilidade de preços”. “Se a nossa atual trajetória de política não for suficientemente eficaz para conseguir isto, ou se se materializarem mais riscos para as perspetivas de inflação, iremos aumentar a pressão e alargar ainda mais os canais através dos quais intervimos, alterando a dimensão, intensidade e composição das nossas compras” no mercado, atirou Mario Draghi.
Dias depois, o vice-presidente do BCE, o português Vítor Constâncio, reiterou a mensagem: “Esperamos que durante o decorrer do programa, as medidas adotadas façam regressar a folha de balanço à dimensão que tinha no início de 2012″, os tais três biliões de euros. “Senão, teremos de considerar comprar outros ativos, incluindo obrigações soberanas no mercado secundário”, atirou o responsável.
É devido a declarações como estas que, para a reunião desta quinta-feira, “antecipamos que o BCE vai enviar uma mensagem clara de que anunciará mais estímulos monetários no início do próximo ano“, escreve Christian Schulz, economista do Berenberg Bank, em nota enviada aos clientes. “O ‘staff’ de técnicos do BCE vai cortar de forma acentuada as estimativas de inflação para o próximo ano e, mesmo assim, continuarão a existir riscos negativos [para essas novas projeções] devido à descida dos preços do petróleo”.
Também o banco Jefferies International antecipa, em nota de análise, que “Mario Draghi vai reforçar a mensagem de que a expansão monetária [através da compra de dívida pública] está em cima da mesa, mas a decisão sobre isso terá de esperar até ao próximo ano”. A taxa de juro de referência irá permanecer no mínimo histórico de 0,05%.
A próxima reunião de política monetária do BCE só acontece no dia 22 de janeiro, já que a partir de 2015 será reduzida a periodicidade das reuniões e das conferências de imprensa. Em contraste com as reuniões mensais que acontecem desde a criação do BCE, estes encontros passam a ocorrer de seis em seis semanas.