A Marinha portuguesa justificou o lançamento ao mar das cinzas de Alpoim Calvão, a partir de um navio da Armada, como uma homenagem merecida a “um exemplo de combatente e de oficial”. E revela que, só este ano, já foram realizadas outras três cerimónias com apoio dos meios navais.
Em resposta a um requerimento do Bloco de Esquerda no dia 16 de outubro, o Chefe do Estado-Maior da Armada, Luís Manuel Fourneaux Macieira Fragoso, sublinhou os “feitos de excecional bravura praticados” por Alpoim Calvão, “bem como os atos heróicos de extraordinária bravura, abnegação e valentia, com comprovado perigo de vida”. Nesse sentido, a Marinha portuguesa achou por bem homenagear alguém com uma “notável carreira militar”.
A polémica rebentou quando, a 16 de outubro, as cinzas de Alpoim Calvão foram lançadas ao mar numa cerimónia a bordo da fragata “Corte Real”. O BE insurgiu-se contra a decisão e interrogou o Governo sobre a utilização de meios públicos, questionando ainda o facto de se tratar de uma figura polémica que os bloquistas recordam como “figura chave do movimento bombista” após o 25 de abril, tendo “liderado um grupo bombista responsável por ataques terroristas contra pessoas e sedes partidárias”.
A Marinha, por sua vez, lembrou que o diploma que expulsou Alpoim Calvão e outros autores do golpe contrarrevolucionário de 11 de março das fileiras das Forças Armadas foi considerado “inconstitucional”, como tal, Alpoim Calvão foi reintegrado nos quadros. Além disso, recorda a Marinha, a fragata Corte-Real estava em “missão de fiscalização dos espaços sob soberania” portuguesa e de prevenção no caso de ser necessário acionar meios de salvamento marítimo. Assim, a cerimónia de lançamento das cinzas do comandante não representou a utilização de recursos que não estivessem previstos, de acordo com o Chefe do Estado-Maior da Armada.
Desde 1999 que a Marinha ajuda as famílias de pessoas com ligações ao mar a homenagear os falecidos. Esta ajuda da Marinha pode traduzir-se na presença de um oficial da Armada na praia para a cerimónia de lançamento das cinzas “resultantes de cremação” ou no transporte da urna num navio até alto-mar para aí serem lançadas, tal como aconteceu no caso de Alpoim Calvão.
O BE queria ainda saber se o ministro da Defesa teve conhecimento e concordou com a cerimónia, a bordo do navio Corte-Real, mas sobre isso não houve resposta.