No Colorado, são vários os chefs que estão a abandonar os seus antigos trabalhos para se dedicarem a outro negócio mais lucrativo — cozinhar alimentos com cannabis. Mas o Colorado não é o único estado norte-americano a seguir esta nova tendência. Um pouco por todo o país, a história repete-se: em Washington, um dos quatro estados que permite a venda da droga para uso recreativo, uma nova pastelaria promete oferecer aos clientes bolos menos convencionais e, em Nova Iorque, são várias as editoras que estão a ponderar envolver-se em livros de cozinha relacionados com cannabis. É oficial: a marijuana chegou à cozinha.

Ken Albala, diretor do programa de estudos alimentares da Universidade do Pacífico em São Francisco, não hesitou em afirmar ao New York Times que “não demorará muito até que [a cannabis] se torne parte da haute cuisine e da cultura culinária”. Contudo, para que isso aconteça, é necessário resolver algumas questões.

Um dos problemas de cozinhar cannabis tem a ver com o sabor. Apesar dos seus potenciais culinários, a planta não tem um sabor muito agradável. Muitos cozinheiros comparam o uso de cannabis com cozinhar com vinho ou bebidas espirituosas. Contudo, o uso de álcool para cozinhar fornece um componente aromático importante, enquanto na cannabis o objetivo é esconder o sabor.”Tenho a certeza de que alguém vai conseguir fazer crescer alguma que é realmente deliciosa e todos vamos aprender com isso”, afirmou Ruth Reichl, antiga editora da revista Gourmet. “Quem é que iria adivinhar que a couve ia ser o alimento verde mais comum num prato ou que as pessoas iriam fazer fila para provarem gelado de queijo azul?”, questionou.

Outro problema diz respeito à dificuldade em conseguir controlar o efeito da planta quando esta é digerida. Cozinhar com marijuana requer saber controlar os canabinóides, como o tetraidrocanabinol, uma substância que altera o humor e as sensações. Para que o efeito seja consistente, a cannabis deve ser comida quente e combinada com gorduras, como a manteiga ou o azeite. Os efeitos são também mais controláveis se a planta for cozinhada com chocolate, porque pode ser distribuída de forma mais uniforme. Por outro lado, adicionar a dose certa em pratos salgados pode ser mais complicado.

Apesar das dificuldades, são muitos aqueles que garantem que o futuro da cozinha está na cannabis. Para o autor Michael Ruhlman não há dúvidas: cozinhar cannabis irá tornar-se banal, mas só quando “alguém o conseguir fazer sem ser ridicularizado”.

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