Uma mulher despida por debaixo de um chador transparente, o corpo nu revelado enquanto se debruça e reergue em oração. Na sua pele estão escritos alguns versos do Corão. Submission, a curta-metragem feita em 2004 pelo realizador e jornalista político holandês Theo van Gogh (parente distante do pintor) foi a causa direta da morte do polémico cineasta com fama de provocador às mãos de Mohammed Bouyeri, um holandês de origem marroquina de 26 anos, que deu a defesa de Alá como justificação para o facto de ter alvejado e degolado Theo van Gogh a 2 de novembro de 2004.

Um país conhecido pela tolerância mergulhado num debate sobre a fronteira entre a liberdade de expressão e o discurso do ódio e sobre a autocensura, como lembrou o New York Times em outubro de 2014, na data em que se assinalaram os dez anos do homicídio.

Theo van Gogh cultivou a fama de provocador excêntrico ao criticar cristãos, judeus e muçulmanos de forma grosseira na televisão e na escrita. Em 2004, juntamente com Ayaan Hirsi Ali, – uma muçulmana de origem somali que pediu asilo na Holanda depois de fugir de um casamento forçado, trabalhou como empregada de limpeza, estudou Ciência Política e acabou por tornar-se deputada – decidiu fazer um filme sobre a forma como as mulheres são oprimidas pela cultura muçulmana. Ayaan Hirsi Ali, vítima de mutilação genital, escreveu o argumento. Depois de o filme ser exibido, a equipa recebeu ameaças de morte, mas só Ayaan aceitou proteção policial. “Ninguém mata o bobo da corte”, disse van Gogh, segundo o New York Times.

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