O Tesouro português financiou-se esta quarta-feira à taxa mais baixa de sempre, num leilão de dívida a 10 anos que não terá sofrido a mínima perturbação associada à incerteza em torno da Grécia. Os títulos, a reembolsar em outubro de 2025, foram emitidos junto dos investidores com uma taxa média de 2,5%, quase meio ponto percentual a menos do que numa operação realizada há cerca de um mês. A procura superou em quase duas vezes o montante colocado, que foi de 1.250 milhões de euros.
No primeiro leilão de obrigações do Tesouro (dívida de longo prazo) de 2015, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) emitiu 1.250 milhões de euros, o máximo do montante previsto para esta operação. Os títulos foram emitidos a um preço que pressupõe uma rendibilidade anual (yield) de 2,506%, que compara com os 3,18% pagos no último leilão comparável de dívida a 10 anos, que foi feito em meados de novembro.
O Tesouro português fez, entretanto, uma emissão de dívida a 10 anos mas esta realizou-se através de uma colocação sindicada, ou seja, gerida por um conjunto de bancos contratados para o efeito. Foi a 13 de janeiro, o mesmo dia em que foi inaugurada uma nova linha a 30 anos. Nesse dia, o Tesouro emitiu dívida a 10 anos com uma yield de 2,92%. Ou seja, a emissão desta quarta-feira, dia 11 de novembro, teve um custo inferior em quase meio ponto percentual apesar de se tratar de um leilão, uma operação tendencialmente mais ousada do que uma emissão sindicada.
O que mudou entre 13 de janeiro e 11 de fevereiro? Se, por um lado, já se adivinhava uma vitória do Syriza nas eleições gregas (de 25 de janeiro), um fator que tem introduzido alguma volatilidade nos mercados europeus, foi neste período – especificamente, a 22 de janeiro – que o Banco Central Europeu (BCE) anunciou um plano inédito de expansão monetária que vai incluir a compra de dívida pública dos países da zona euro. Este programa, que arranca em março, tem gerado uma procura elevada por este tipo de ativos, fazendo estreitar a rendibilidade implícita, contribuindo para que não sejam discerníveis sinais de contágio da crise grega.
Com BCE no mercado, não há contágio da crise grega
“Portugal nunca pagou um juro tão baixo no mercado, o que é muito vantajoso para a intenção de amortizar antecipadamente o empréstimo do FMI”, assinala Filipe Silva, diretor de gestão de ativos do Banco Carregosa. “A procura não teve problemas”, sinal de que “os investidores continuam a manter a confiança em Portugal”, acrescenta o especialista, em nota enviada às redações. “Claro que uma taxa de 2,5% a 10 anos em termos absolutos não é muito interessante para os investidores mas, em termos relativos, se virmos que há países que oferecem taxas negativas a cinco anos, acaba por ser atrativo investir em dívida portuguesa”, conclui Filipe Silva.
Já Steven Santos, gestor da corretora XTB Portugal, diz que “a falta de concorrência no vencimento a 10 anos e a caça por rendimento suportaram a operação, com as obrigações do Tesouro a serem o título de dívida com juros mais altos emitido hoje no mercado primário”, ou seja, nas operações em que os títulos são emitidos pela primeira vez junto dos investidores. O mercado secundário diz respeito ao mercado gerado por estes títulos quando estes, uma vez emitidos, são negociados entre os investidores.