O comunicado do Presidente da República timorense com o elenco do próximo Governo coloca Rui Araújo, primeiro-ministro, à cabeça, e no final da lista quem muitos dizem poderá continuar a ter a última palavra: Xanana Gusmão.
Primeiro-ministro demissionário, Xanana Gusmão deixa o comando do executivo mas a sua influência, quer no Governo quer no país, vai continuar a fazer-se sentir. Ele que já foi Presidente da República (2002-2007), primeiro-ministro (2007-2014) e agora ministro do Planeamento e Investimento Estratégico.
O cargo é amplo – ministro do Planeamento e Investimento Estratégico – e o seu mandato – faltando ainda conhecer a lei orgânica da pasta que tutela – é de importância crucial para Timor-Leste nos próximos anos.
O Plano de Desenvolvimento é um elemento central quer do programa do V Governo, que agora termina, como do próximo, que começa segunda-feira e por isso a influência sobre as linhas mestras da política governativa permanece nas mãos de Xanana Gusmão.
E com elas a condução de grande parte do investimento público nos próximos anos num país que continua a ter 90% do seu PIB dependente do Orçamento de Estado e grande parte da economia a viver da obra pública e dos salários dos funcionários públicos.
Rui Araújo é o homem das finanças públicas – pelo menos do seu conhecimento técnico, como o próprio Xanana Gusmão explicou na carta em que justificou aos partidos a escolha do seu sucessor – mas o ainda primeiro-ministro demissionário é o homem forte da política.
O próprio elenco governativo é demonstrativo da estratégia com que Xanana Gusmão conduziu as negociações para o que Rui Araújo definiu hoje como “um governo de unidade nacional”. Sem que formalmente o seja.
Na prática conseguiu manter no seio do executivo membros de todos os partidos com representação parlamentar – o Orçamento de Estado já era aprovado há três anos com consenso – incluindo da que era, até aqui, a oposição da Fretilin (Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente).
A direção do partido insiste que esta configuração não marca a entrada da Fretilin, que os convites aos elementos do partido que estão no Governo são individuais mas, para o exterior, é difícil conseguir que essa mensagem seja aceite por todos.
Até porque além do primeiro-ministro estão da Fretilin no Governo outros nomes sonantes.
Estanislau da Silva acumula o cargo de ministro de Estado Coordenador dos Assuntos Económicos com o de ministro da Agricultura e Pescas, Hernâni Coelho assume o comando no Ministério dos Negócios Estrangeiros (onde substitui José Luis Guterres, que é líder da Frente Mudança, um dos três partidos que estava na coligação do Governo anterior) e Inácio Moreira, deputado, vai ocupar o cargo de vice-ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações.
Timor-Leste testa mais um modelo, com um Governo que une talentos partidários e vozes outrora concorrentes e onde pelo menos cinco elementos – um primeiro-ministro e quatro ministros de Estado – têm, pelo menos no organigrama, mais poder que o antigo chefe.
São dezassete os novos ministros timorenses, mas a lista contém ainda nove vice-ministros de várias pastas.