António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, considera que o atual sistema de vigilância do Mediterrâneo é insuficiente para lidar com o constante fluxo de imigrantes ilegais vindos do norte de África e que o principal objetivo da União Europeia devia ser salvar vidas em vez de patrulhar as fronteiras. Esta declaração é feita depois de a agência divulgar que terão morrido mais 300 pessoas afogadas junto à Líbia – tentando chegar a Itália – no início desta semana.
“Não pode haver dúvidas depois dos acontecimentos desta semana que a Operação Tritão da União Europeia é lamentavelmente desadequada para substituir a Operação Mare Nostrum levada a cabo pelas autoridades italianas”, disse Guterres em comunicado publicado na página da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). O antigo primeiro-ministro português refere-se à substituição da operação italiana Tritão em outubro do ano passado, por uma operação conjunta da União Europeia apelidada Tritão.
“O foco principal deve ser salvar vidas. Precisamos de uma força robusta e de uma procura e salvamento no Mediterrâneo Central, não só no controlo de fronteiras”, diz António Guterres.
Enquanto a operação italiana Mare Nostrum vigiava uma área vasta, procurando embarcações ilegais e resgatando imigrantes oriundos de países como Egito, Síria ou Líbia, a operação Tritão, coordenada pela Frontex – agência europeia que controla as fronteiras externas -, vigia apenas a costa italiana e o seu mandato primordial não é o salvamento de imigrantes, mas sim patrulhamento de fronteiras. A operação Mare Nostrum terminou depois de Itália ter pedido repetidamente aos parceiros europeus ajuda para financiar os mais de 9 milhões de euros gastos anualmente nesta missão. A operação Tritão custa cerca de 2,9 milhões de euros por ano.
Ainda segundo o comunicado da ACNUR, o número de pessoas que arriscam a ida para atravessar o Mediterrâneo subiu “dramaticamente” devido ao conflito na Síria, à instabilidade no Corno de África – Somália, a Etiópia, o Djibouti e a Eritreia – e em outras regiões africanas, afirmando que mais de 218 mil pessoas arriscaram a passagem e cerca de 3500 morreram.