O ministro dos Negócios Estrangeiros português escusou-se a comentar se Portugal se opôs a um compromisso do Eurogrupo com a Grécia, afirmando que “os problemas foram numa fase anterior das negociações”, enquanto o homólogo espanhol rejeitou essas críticas.

Questionado sobre notícias de que Portugal e Espanha se opuseram a um compromisso com a Grécia na reunião do Eurogrupo na sexta-feira, Rui Machete apenas afirmou tratar-se de “problemas que já passaram” e que dizem respeito a “uma fase anterior das negociações”. “Estamos numa nova fase. Não me vou pronunciar”, disse, numa referência ao acordo alcançado na sexta-feira na reunião do Eurogrupo (que junta os 19 ministros das Finanças da zona euro) que permitiu à Grécia receber financiamento durante mais quatro meses.

O governante falava numa conferência de imprensa no final de um encontro com o ministro dos Assuntos Exteriores e da Cooperação de Espanha, José Manuel García-Margallo, que realiza esta segunda-feira uma visita oficial a Lisboa, onde foi também recebido pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e o vice-primeiro-ministro, Paulo Portas. O chefe da diplomacia espanhola negou as notícias: “Essas afirmações não são exatas”.

O Governo espanhol reclama que “o cumprimento das condições, das reformas e dos compromissos que se adotem [num acordo final com a Grécia] deve ser conhecido pela totalidade dos membros do Eurogrupo e não só pelas instituições até há uns dias conhecidas como troika”, declarou García-Margallo. Antes, o ministro espanhol destacara as “posições muito comuns” de Lisboa e Madrid.

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“São ambos governos reformistas e progressistas. Os números demonstram que os países onde fizemos reformas — Portugal, Irlanda e Espanha -, em circunstâncias muito difíceis, começam a recolher os frutos e os dividendos desse esforço. Falta um longo percurso, mas estamos convencidos de que estamos no bom caminho”, destacou.

O chefe da diplomacia espanhola avisou que “em política, e muito menos na política europeia e muito menos numa situação de crise, os atalhos não conduzem a nenhum sítio”. Os dois governantes defenderam a necessidade de a Grécia pagar as dívidas e aplaudiram o acordo alcançado na semana passada com o Eurogrupo, salientando que permite a manutenção de Atenas na moeda única.

Rui Machete salientou que Portugal “congratula-se com esse acordo, que visa o prosseguimento das negociações entre os países do euro e a Grécia”. “O problema da Grécia é um problema da zona euro e nós, portugueses e certamente os espanhóis, tal como todos os europeus, pretendemos que se chegue a uma solução satisfatória o mais rapidamente possível”, destacou, escusando-se a comentar as propostas que Atenas deverá apresentar esta segunda-feira a Bruxelas. O ministro espanhol alertou que “não se podem adotar políticas independentes e heterodoxas que possam contribuir para dificultar a saída do euro”.

O acordo obtido na semana passada “representa o triunfo da sensatez, o que não é pouco nestes tempos”, permitindo à Grécia obter “o financiamento de que necessitava” e que os parceiros mantenham “o espírito de solidariedade com os gregos, em tempos muito difíceis”. “Preserva-se o princípio de que as dívidas devem pagar-se, os compromissos devem honrar-se e o financiamento deve estar ligado ao cumprimento de condições que assegurem a sua devolução. Reforça-se o princípio de que a União Europeia e o Eurogrupo se regem por regras que foram tomadas por todos e que, portanto, se devem cumprir”, considerou ainda García-Margallo.

A ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, disse no sábado que não sugeriu alterações ao acordo do Eurogrupo com a Grécia e que colocou apenas questões relacionados com procedimentos, depois de o ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, ter dito que Portugal e Espanha estavam a ser mais alemães do que a Alemanha.

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, disse que Portugal esteve no Eurogrupo para analisar a situação da Grécia com uma “posição construtiva”, recusando qualquer concentração com a Alemanha. “Portugal esteve como todos os outros países que compõem o Eurogrupo com uma posição construtiva procurando que fosse possível ao Governo grego pedir uma extensão não apenas do empréstimo que tem vigorado, mas também das condições que lhe estão associadas”, afirmou o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, no domingo.