O Tesouro português emitiu esta quarta-feira quase 1.500 milhões de euros em dívida pública a 10 anos, mais do que o previsto, e voltou a baixar os custos para uma taxa de 2,04%, um novo mínimo histórico. Analistas dizem que é um resultado “notável”.

Que taxa pagou Portugal para se financiar a 10 anos em novembro? 3,18%. E no leilão de 11 de fevereiro, ou seja, há duas semanas? 2,51%. Esta quarta-feira, 28 de fevereiro, 2,04%. O Estado português continuou a tendência de baixar em cerca de meio ponto percentual a cada emissão de dívida a 10 anos.

Na emissão desta quarta-feira, o Tesouro português conseguiu financiar-se a custos mais baixos – os mais baixos de sempre – apesar de ter emitido 1.499 milhões de euros, mais do que os 1.250 milhões de euros que correspondiam ao máximo do intervalo previsto. A procura voltou a superar em cerca de 1,8 vezes o montante colocado, tal como no leilão de há duas semanas.

“Foi mais um mínimo histórico e a estes preços faz todo o sentido Portugal financiar-se no mercado e ganhar folga para amortizar antecipadamente o empréstimo da troika, que foi feito a taxas mais altas”, assinala Filipe Silva, diretor de gestão de ativos do Banco Carregosa. O especialista assinala que “há um ano a taxa de emissão a 10 anos rondava os 6%”, pelo que “a descida nos custos de financiamento é notória”.

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Steven Santos, da corretora XTB Portugal, sublinha que além da descida dos custos, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) “levantou [no mercado de dívida pública internacional] mais 20% do que o ponto máximo do intervalo indicativo, o que é notável”. “Mais uma vez, a turbulência na Grécia não afetou a estratégia de financiamento de Portugal”, acrescenta o especialista.

A vitória do Syriza nas eleições gregas (de 25 de janeiro) e as semanas que se seguiram induziram alguma volatilidade nos mercados europeus. Mas foi, também, neste período – especificamente, a 22 de janeiro – que o Banco Central Europeu (BCE) anunciou um plano inédito de expansão monetária que vai incluir a compra de dívida pública dos países da zona euro. Este programa, que arranca em março, tem gerado uma procura elevada por este tipo de ativos, fazendo estreitar a rendibilidade implícita, contribuindo para que não sejam discerníveis sinais de contágio da crise grega.

Steven Santos explica que “à medida que nos aproximamos de março, mês em que se inicia a compra direta de obrigações públicas pelo BCE, os investidores estão a acumular títulos que ainda apresentam uma rentabilidade positiva. Mais de 25% das obrigações na Zona Euro têm juros negativos, o que motiva uma corrida pela dívida portuguesa por investidores cujo mandato é suficientemente flexível para lhes permitir a compra de dívida especulativa”, ou seja, com rating de lixo.