Ainda faltam sete meses até às eleições legislativas, mas o clima parece ser o de pré-campanha. Pedro Passos Coelho já por três vezes pediu maioria absoluta para a coligação, mas à velocidade a que numa semana António Costa está debaixo de fogo e, noutra semana, é o líder do Executivo, as sondagens prometem ser imprevisíveis. Então, o que fazer se houver vitórias tangentes, se nem uma coligação PSD-CDS ou o PS obtiverem uma maioria absoluta?

A maior parte dos dirigentes e deputados social-democratas ouvidos pelo Observador não exclui nenhuma hipótese. Tal como Passos, que em entrevista ao Expresso há uma semana não deitou nada fora – nem um Governo de Bloco Central -, a opinião generalizada é de que os tempos que se avizinham vão ser difíceis e que, por isso, todos os cenários têm de ser equacionados. Será possível um acordo de governo com PSD/CDS e PS? Talvez. Bastará um acordo de incidência parlamentar com o PS? Pode ser. Ou entram outros partidos pequenos na jogada como o de Marinho e Pinto? Pouco provável. Há quem considere que Marinho e Pinto não tem “maturidade democrática” para ser ministeriável.

A hipótese de Passos Coelho e António Costa se juntarem de alguma forma – ou no Governo ou através de um acordo parlamentar -, no entanto, não colhe muitos apoios entre os mais “realistas”. Porque, uma coisa é a teoria, onde “tudo é possível em prol do interesse do país”, mas outra é a prática. Ao Observador, um dirigente social-democrata resume a questão numa frase: “Enquanto cidadão, acredito num bloco central Passos-Portas-Costa, desde que haja bom senso e abertura para discutir propostas concretas, mas enquanto dirigente partidário admito que é difícil”, confessa.

E aqui entra outra questão: se o PS ainda fosse liderado por António José Seguro “e a sua equipa”, “talvez fosse possível haver entendimentos maiores”. “Mas assim não me parece”, defendeu ao Observador outra fonte da bancada parlamentar do PSD. Com maior ou menos grau de confiança nas probabilidades, a verdade é que não há entre os social-democratas quem rejeite categoricamente o cenário de um Bloco Central. Pelo menos nesta fase da corrida.

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Ou nós ou eles

O mesmo não pensa o CDS, e isso pode ser um sinal de que a coligação pode ter os dias contados no dia depois das eleições. Numa entrevista ao Sol esta sexta-feira, o eurodeputado e dirigente centrista Nuno Melo rejeitou completamente o cenário de um Governo do centrão, chamando a si aquilo que António Costa já tinha dito sobre o facto de Passos ter aberto a porta ao PS: “Ou nós ou eles”. Segundo o centrista, se não foi possível haver entendimento em 2011 quando os três partidos subscreveram o memorando, menos sentido faz depois de apenas dois dos três partidos terem “conseguido executar o programa de ajustamento com sucesso”. No entanto, sobre um eventual acordo a dois, entre PS e CDS, nada disse.

A verdade é que os partidos já começam a afinar estratégias antevendo que a campanha “vá ser dura” e, como diz um dirigente social-democrata, os “próximos três, quatro meses vão ser fundamentais”. Nuno Melo, na mesma entrevista, mostra-se confiante de que o CDS vai ser a primeira escolha de Passos Coelho, caso o atual primeiro-ministro seja chamado a formar novo Governo, mas o problema põe-se se PSD e CDS não forem suficientes para formar um Governo estável.

O Partido Democrático Republicano, de Marinho e Pinto, pode servir para preencher os lugares que eventualmente faltarem, mas nem PSD nem CDS parecem muitos favoráveis à ideia. Para os centristas, “não é opção”. No PSD, por sua vez, não se descarta mas torce-se o nariz. Um dirigente confessa mesmo ao Observador que o ex-bastonário da Ordem dos Advogados “não é ministeriável”, porque não tem “maturidade democrática”, não obstante as suas peculiares qualidades de oratória.

O que deixa poucas hipóteses de sobrevivência para a coligação. Uma coisa parece certa: se Passos e Portas conseguirem a vitória, por mais curta e magra que seja, o PSD não descartará o CDS. “Nesse caso ficam juntos de certeza”, diz uma fonte da bancada parlamentar, que acrescenta que, a separar-se a coligação, será sempre por opção do CDS. “Paulo Portas pode preferir ficar de fora se Passos e Costa se quiserem entender porque se calhar o CDS, nessas condições, ganha mais em estar na oposição”, explica ao Observador a mesma fonte.

Todos os cenários são possíveis, é certo, mas há um que é afastado à partida. Apesar do otimismo que ainda persiste no partido de que os portugueses podem dar uma segunda oportunidade à atual maioria, a hipótese de haver uma maioria absoluta, seja do PS, seja da coligação, é mesmo o cenário mais difícil de engolir neste momento. “Parece que estamos condenados a um governo minoritário”, diz um deputado laranja, o que obrigará a acordos mais amplos. Isto, claro, à luz dos dados que se conhecem hoje, e à distância de sete meses das eleições.

Mas os dados são ainda muito variáveis. A avaliar pela última estimativa divulgada pela SIC/Expresso, o empate técnico ganha terreno. O PS aparece como o vencedor (a uma curta distância da coligação PSD/CDS), mas o facto de os socialistas “não terem sido o comboio que se esperava depois das primárias”, como classificou um dirigente ao Observador, dá esperança à maioria. Se não arrancou a todo o gás, a ideia é que também não vai conseguir apanhar assim tanto balanço até lá.

A (quase) certeza da coligação

Numa altura em que PSD e CDS organizam jornadas parlamentares em separado, Nuno Magalhães foi ao Porto, às jornadas parlamentares do PSD, marcar terreno. Foi a primeira vez que um dirigente do CDS esteve numas jornadas do PSD, sem que se tratasse de uma iniciativa conjunta. E foi um sinal evidente de que os dois estão em sintonia. A presença do centrista foi acertada diretamente entre Nuno Magalhães e Luís Montenegro e não tinha sido anunciada. Mas não passou despercebida, mesmo que Magalhães tenha ido só ouvir e não falar.

Os sinais, de resto, não se ficaram por aqui. Numa operação de charme durante o discurso de encerramento das jornadas, que foi mais para a comunicação social ver do que para os deputados ouvirem, o líder parlamentar Luís Montenegro começou por agradecer a todos os presentes mas, “em especial”, ao seu “querido amigo” Nuno Magalhães. Deixou vastos elogios ao grupo parlamentar do CDS, manifestando a sua “gratidão” pela forma “séria, leal e amiga mesmo” como as duas equipas se têm relacionado no Parlamento. O objetivo foi claro: mostrar que se a coligação resulta bem agora, não há motivos para não resultar bem no futuro.

Além de Montenegro, também o próprio Passos Coelho tinha usado o palco das jornadas para, entre outras coisas, aludir à forma como os dois partidos se vão apresentar nas próximas eleições. Irão certamente juntos para puderem alcançar aquilo que Passos vê como o objetivo das eleições, a maioria absoluta. “Não é possível ter um governo determinado sem uma maioria parlamentar que o sustente, e não tinha sido possível passar pelo que todos passamos sem que essa maioria parlamentar fosse exigente e audaz em todo o percurso”, disse.

Mas foi Luís Montenegro quem melhor sintetizou a ideia: “Temos equipa, temos projeto e temos um líder”. Só não temos ainda anúncio do acordo por uma questão de timing. Um timing que parece estar dependente das eleições de 29 de março na Madeira, onde as duas forças concorrem em separado, mas também das negociações sobre as listas conjuntas, que já se percebeu ser uma guerra de interesses difícil de travar. Ou ainda da preparação do Documento de Estratégia Orçamental que o país tem de apresentar, internamente e em Bruxelas, com as linhas económicas orientadoras para o futuro, e que está marcado para abril.

Paulo Portas deixou claro esta semana, na reunião da comissão política, que será “contra-producente” discutir-se na praça pública a coligação PSD-CDS para as legislativas de outubro quando os dois partidos concorrem um contra o outro na Madeira no final deste mês.

Curiosamente, na Madeira o PS desafiou o CDS para uma aliança, convite que foi rejeitado pelos centristas que, durante os últimos anos do “reinado” de Alberto João Jardim, foram a segunda força mais votada, ou seja, à frente dos socialistas. Desta vez, porém, os sociais-democratas estão convictos que o PSD terá maioria absoluta com Miguel Albuquerque e que o CDS perderá o estatuto de maior partido da oposição para o PS.

No continente, PSD e CDS poderão unir-se em abril com vista às legislativas. Resta saber até onde durará a união.