Os advogados do português detido preventivamente em Díli, por suspeitas de branqueamento de capital, apresentaram esta sexta-feira ao Ministério Público timorense documentos e declarações para clarificar a sua situação financeira. “Trata-se de documentação que detalha, entre outros aspetos, a sua situação financeira. É informação que apresentamos ao Ministério Público voluntariamente”, disse à agência Lusa fonte da equipa de defesa.

Segundo a mesma fonte, os advogados deverão apresentar “até 10 de abril” um parecer a solicitar o “reexame dos pressupostos da aplicação da prisão preventiva” e a “alteração para uma medida não privativa de liberdade”. O advogado disse ainda que foi solicitado ao Ministério Público que chame Tiago Guerra e a sua mulher para que sejam novamente ouvidos, para prestar quaisquer “esclarecimentos adicionais que a procuradoria considere oportunos”.

Oficialmente, e como disse recentemente à Lusa o procurador-geral timorense, José Ximenes, Tiago Guerra é suspeito do crime de branqueamento de capitais com “factos que aconteceram em vários países”, explicando que foram enviadas cartas rogatórias com pedidos de informação para Portugal e para Macau. Não foi possível à Lusa confirmar se já vieram ou não respostas a essas cartas.

Recorde-se que Tiago Guerra foi detido em Díli, juntamente com a mulher, no passado dia 18 de outubro. Está em prisão preventiva desde essa data e ainda sem acusação formal e à sua mulher, Chan Fong Fong Guerra, que está com Termo de Identidade e Residência (TIR), impossibilitada de sair de Timor-Leste.

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Entretanto fonte próxima à família confirmou à Lusa que Tiago Guerra continua sob observação no Hospital Guido Valadares em Díli, para onde foi transferido com febre e mal-estar na sexta-feira. A fonte explicou que Tiago Guerra não está a reagir ainda ao antibiótico e que continua com febre e “muita fraqueza”, desconhecendo-se ainda o que está a causar o seu quadro clínico.

Carlos Guerra, pai de Tiago Guerra, disse em entrevista à Lusa estar incrédulo com a detenção do filho e com os contornos de um processo que deixou a família “destroçada”. Preferindo evitar entrar em pormenores do processo, porque ainda está em segredo de justiça e, até ao momento, Tiago não foi formalmente acusado, Carlos Guerra mostrou-se apreensivo sobre o que pode durar a atual situação.

A lei timorense prevê que a prisão preventiva possa ser aplicada durante um ano e meio ampliável, em casos de grande complexidade, por mais um ano. “Normalmente investiga-se para prender. Aqui prendeu-se para se investigar. E nem sei bem que investigações é que estão a ser feitas, nem em que ponto estão”, disse.

Conversou com o filho presencialmente uma vez, quando visitou a cadeia a 31 de outubro e, desde aí, apenas duas vezes, ao telefone, a 17 de dezembro, dia dos anos da mãe, e a 1 de janeiro, dia do aniversário do filho mais velho. “Acho que o caso é político. Só pode ser. Não há nenhum facto. Zero. Nenhum que incrimine o Tiago. Não posso entrar em pormenores mas não há nenhum facto. Está preso por suspeitas. E aplicam a medida máxima de coação por suspeitas”, acrescentou.

O caso de Tiago Guerra está a suscitar uma ampla campanha de solidariedade dentro e fora das redes sociais com muitos a escreverem diretamente às autoridades timorenses a pedirem a sua intervenção.