Era uma mensagem enviada das entranhas da floresta amazónica, vinda de um povo indígena que vive a duas horas de avião da localidade mais próxima. Na plataforma de mensagens instantâneas WhatsApp, podia ler-se o seguinte recado:

O meu nome é Anselmo Yanomami, do Estado de Roraima, a norte do país. Em nome do meu povo Yonomamixirixana, Xiriana, Sanoma, quero fazer uma denúncia à Secretária Especial da Saúde Indígena. O povo Yanomami está a morrer por falta de assistência médica.”

Segundo um indígena, as mortes são causadas por doenças como pneumonia, diarreia e tuberculose. “O povo Yanomami pede auxílio. Ajudem-nos a levar esta situação às autoridades do Brasil e do mundo”, podia ler-se ainda na mensagem de Anselmo.

Os 25 mil habitantes desta população, próxima à fronteira com a Venezuela, têm enviado diversos pedidos de socorro do mesmo género. No início de ano, um grupo de indígenas pintou-se de negro e ergueu as suas flechas em frente à Secretaria Especial da Saúde Indígena de Boa Vista para pedir a demissão da coordenadora do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami.

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Em conversa com o El País, Anselmo contou que onze crianças com idades até aos 10 anos morreram após episódios de diarreia e vómitos desde o início do ano. E duas pessoas morreram, no mesmo período, depois de terem sido mordidas por serpentes, já que não havia antídotos no centro da saúde da aldeia. A falta de profissionais sanitários e da área da saúde, bem como de medicamentos, leva o indígena a declarar que as suas comunidades “estão abandonadas, há comunidades isoladas e sem nenhum tipo de assistência”.

Os dados do sistema adotado pelo Ministério da Saúde indicam que o número de mortes por motivos que poderiam ter sido evitados com vacinação, cuidados pré-natal, assistência no parto e cuidados pós-natal. Em termos práticos, fala-se de 1004 mortes das quais 446 são menores de cinco anos. Este aumento não é exclusivo das zonas indígenas, mas nestas o ritmo é mais acelerado.

“Aqui em Roraima dizem-nos que a culpa é de Brasília, que não nos enviam dinheiro suficiente”. Mas a capital insiste que não sabem o que se passa.