A associação de enfermeiros dos cuidados continuados e paliativos avisa que o número de equipas domiciliárias na região de Lisboa e Vale do Tejo é manifestamente insuficiente, estimando que sejam necessários o triplo dos profissionais. Este será um dos temas em debate nas Jornadas de Cuidados Continuados e Paliativos, que decorre na sexta-feira em Lisboa.

“O nosso drama ultimamente é ver que as pessoas estão a ser colocadas em casa a precisar de cuidados e nós não temos equipas para chegar lá. Há que mudar o paradigma deste tipo de cuidados: as camas de cuidados continuados são precisas, sim, mas essencialmente são precisas equipas domiciliárias”, afirmou a presidente da Associação de Enfermagem em Cuidados Continuados e Paliativos à agência Lusa.

Purificação Gandra reconhece que nos últimos dois anos, sobretudo, houve um crescimento de oferta de camas de internamento em unidades de cuidados continuados, mas considera que não valerá a pena “encher o país de camas quando as pessoas querem é estar nas suas casas a receber cuidados”. Só na região de Lisboa e Vale do Tejo, entre 2011 e 2015, o número de camas de cuidados prolongados passou de 1.114 para 1.826. Contudo, esta é precisamente a região mais deficitária em termos de equipas domiciliárias tendo em conta a população que potencialmente usufruiria.

Segundo contas desta Associação de Enfermagem, Lisboa e Vale do Tejo tem 55 equipas de cuidados continuados domiciliários e apenas duas de cuidados paliativos domiciliários, o que é considerado “manifestamente insuficiente”. As 57 equipas, integradas por 415 profissionais de saúde, podem dar assistência a pouco mais de duas mil pessoas, quando o universo de idosos em Lisboa e Vale do Tejo é de 670 mil.

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“Pelo menos devíamos triplicar o número de equipas e o número profissionais das equipas comunitárias”, estima a enfermeira Purificação Garcia, referindo que Lisboa tem um rácio de 1,87 lugares de cuidados domiciliários por mil habitantes, quando a média do país é de 3,06. Ou seja, em Lisboa e Vale do Tejo não chega a ser possível acolher em cuidados domiciliários duas pessoas por cada mil habitantes. Já a região do Alentejo é a que regista melhor rácio em todo o país, com 5,44.

“O ideal para a nossa população seria as pessoas conseguirem ficar em suas casas, com as suas famílias, com os cuidados que necessitam. Isso não está a ser conseguido, porque os profissionais das equipas comunitários estão a ser desviadas para outras unidades dos cuidados de saúde primários”, afirma a presidente da Associação de Enfermagem em Cuidados Continuados e Paliativos.

Segundo esta enfermeira, os técnicos ou enfermeiros que vão saindo, por exemplo, com a emigração, não são substituídos nos cuidados de saúde primários ao ritmo necessário, o que faz aumentar a deslocação de profissionais das equipas domiciliárias para outros cuidados.

Por outro lado, este desvio de profissionais também se fez notar mais por causa da crise económica que afetou as famílias, que deixaram de ter capacidade de colocar os doentes internados em lares que precisam de comparticipação das famílias.

Ainda sobre o crescimento do número de camas de internamento em cuidados continuados ou paliativos, Purificação Gandra sublinha que também as necessidades das pessoas têm aumentado: há cada vez mais pessoas doentes e com mais doenças, resumiu.