Ficar com o corpo todo marcado pelas picadas impiedosas dos mosquitos é incómodo. Mas torna-se particularmente frustrante quando repara que as pessoas ao seu lado mantêm a pele intacta. Nunca conseguiu entender porquê? Há explicações.

Segundo um estudo desenvolvido pela The Sir Halley Stewart Halley Trust, é mesmo verdade que certos mosquitos (Aedes aegypti) têm preferência por umas pessoas em vez de outras. Isso acontece por causa das diferenças entre os químicos voláteis produzidos por cada um de nós, que são detetados por estes insetos.

E também será por isto que esses mosquitos “preferem” mulheres grávidas, pessoas com temperatura ou humidade corporal mais alta e indivíduos com maior massa corporal (que têm maior área e maior produção de dióxido de carbono).

 

O caminho até aos resultados

A instituição chegou a estes resultados depois de estudar o comportamento de vinte fêmeas de mosquito Aedes aegypti quando expostas ao cheiro dos gémeos monozigóticos – que são idênticos – e gémeos dizigóticos – que não são idênticos. Era imperativo que os voluntários fossem irmãos gémeos porque o cheiro é determinado pela herança genética. Para tal, utilizaram um “olfatómetro” – um engenho em forma de Y onde cada braço encaminhava para um odor.

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Y tube

Os mosquitos entravam num tubo em forma de Y e encaminhavam-se para um dos braços de acordo com o cheiro que preferiam. (Esquema de G. Mandela Fernández-Grandon, Salvador A. Gezan, John A. L. Armour, John A. Pickett, James G. Logan)

 

As variáveis em estudo foram duas: a proporção de mosquitos que voaram contra a brisa (que era colocada no braço central para dispersar o cheiro) por mais de 30 centímetros pelo engenho e a proporção de mosquitos que seguia por cada um dos braços de acordo com os estímulos olfativos.

Os cientistas concluíram que a relação de mosquitos atraídos pelos químicos voláteis era maior nos gémeos monozigóticos do que a relação verificada entre gémeos falsos. De acordo com o estudo publicado no Plos One, os resultados “demonstram um componente genético subjacente ao perfil do odor humano, uma diferença genética que é detetada pelos mosquitos através do nosso cheiro e utilizado durante a seleção do hospedeiro”.

Tabelas com os resultados sobre a atração relativa (quadro A) e a atividade de voo (quadro B). Os círculos fechados respeitam aos gémeos idênticos e os círculos abertos referem-se aos gémeos não idênticos. (Imagem: G. Mandela Fernández-Grandon, Salvador A. Gezan, John A. L. Armour, John A. Pickett, James G. Logan)

Tabelas com os resultados sobre a atração relativa (quadro A) e a atividade de voo (quadro B). Os círculos fechados respeitam aos gémeos idênticos e os círculos abertos referem-se aos gémeos não idênticos. (Imagem: G. Mandela Fernández-Grandon, Salvador A. Gezan, John A. L. Armour, John A. Pickett, James G. Logan)

O estudo não explica se estas diferenças se devem à presença ou ausência de químicos atraentes ou repelentes produzidos pelas bactérias da pele. E admite que o número de amostras é reduzido para tirar conclusões. Por isso, os investigadores ressalvam que “a química associada aos genes envolvidos devem ser objeto de mais estudo”. Ainda assim, eles desconfiam que se pode tratar de uma evolução causada pela pressão seletiva nos humanos para criar uma estratégia de defesa natural contra os mosquitos e as doenças que eles transmitem.

Estudo é importante para entender dengue

Os indícios apresentados por esta investigação são importantes para compreender como funciona a transmissão de seres patogénicos pelos mosquitos (causadores de doenças como o dengue). Além disso, “entender as bases genéticas dessa atração podia criar uma abordagem mais informada no desenvolvimento de repelentes“.

O sangue dos animais é essencial no ciclo de vida dos mosquitos. Principalmente nas fêmeas, que utilizam as proteínas do sangue para produzir os ovos.

Durante muitos anos, as pessoas teorizaram que comer alho, alimentos ricos em vitamina B ou beber cerveja eram estratégias viáveis para evitar as picadas de mosquitos. Nada mais errado, diz este estudo: não se notou qualquer diferença de resultados entre as pessoas que comiam e as que não comiam alho ou vitamina B. E aqueles que ingeriam cerveja eram mais picados por estes insetos do que aqueles que não bebiam.