De um lado do sofá está o líder do Partido Trabalhista, Ed Miliband, vestido de fato e gravata, sentado numa postura mais relaxada do que aquela que normalmente apresenta. Do outro lado está Russel Brand, o homem que começou como comediante mas que hoje se dedica ao ativismo político e é uma das vozes mais influentes do Reino Unido – prova disso são os mais de 10 milhões de seguidores no Twitter.

O encontro improvável serviu para Ed Miliband ser entrevistado por Russel Brand para o seu canal no YouTube. Na verdade, mais do que uma entrevista, tratou-se de uma troca de argumentos. Como aquele que, pouco depois de dar um gole de uma qualquer bebida branca diretamente da garrafa, o comediante apresentou ao candidato a primeiro-ministro:

“A razão para eu nunca ter votado na minha vida é porque não interessa. Toda a gente ficou entusiasmada com o Tony Blair! Toda a gente ficou entusiasmada com o Barack Obama! E o que é que aconteceu?!”.

Ed Miliband respondeu-lhe: “Não queremos políticos que digam ‘votem em mim e amanhã o mundo vai mudar'” e acrescentou que “é preciso pressão, é preciso esforço e é preciso as pessoas exigirem uma mudança para ela acontecer”.

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Tiradas como aquela valeram a Russel Brand o título de “Mr. No Vote”. Mas, na segunda-feira, Russel Brand lançou um novo vídeo que veio mudar isso.

Desta vez, a gravação foi feita com o ativista sentado na sua cama, como é hábito fazer no segmento “Trews”, uma mistura entre “true” (verdade) e “news” (notícias).

“Eu sei que tenho sido o Mr. No Vote, mas na verdade o que eu quero dizer é que a política é algo em que não nos podemos envolver só de cinco em cinco anos. A democracia é todos os dias. Não é só para as eleições”, disse, no seu jeito habitual, esbracejador e histriónico. “O que eu ouvi o Ed Miliband a dizer é que se nós falarmos, ele vai ouvir.” Para quem não ouviu bem, volta a repetir a ideia: “Este gajo vai para o parlamento e este gajo vai ouvir-nos”. Finalmente, remata com a sua ideia principal: “Vocês têm de votar no Partido Trabalhista”.

A mudança de opinião de Russel Brand tem sido um dos temas mais quentes na cobertura noticiosa das eleições de 7 de maio. Ao longo de segunda-feira, as edições online dos jornais britânicos deram destaque a este assunto – as manchetes dividiram-se entre o apoio do comediante a Miliband e o nascimento da princesa Carlota Isabel Diana.

No “The Guardian” o colunista Owen Jones escreveu que “os conservadores devem estar preocupados” depois desta novidade. “Mais pessoas registaram-se para votar do que nunca: entre meados de março e o prazo final para se registarem, quase 2,3 milhões de pessoas registaram-se, mais de 700 mil têm 24 anos ou menos.” E é precisamente junto destes últimos que a opinião de Russel Brand pode fazer a diferença.

A entrevista, que foi para o YouTube a 29 de abril, foi prontamente comentada pelo primeiro-ministro britânico e candidato pelo Partido Conservador, David Cameron. “Ele [Russel Brand] diz ‘não votem’. Isso motiva-o, ou qualquer coisa. É engraçado. É engraçado. Mas sabem que mais? A política, a vida, as eleições, os empregos e a economia não são uma piada. O Russel Brand é uma piada.”

Além de criticar o comediante, Cameron também fez menção ao líder trabalhista, embora não lhe tenha dito o nome: “Eu não tenho tempo para estar com o Russel Brand. Isto é mais importante, estas é que são as pessoas reais, isto é que são as eleições”, disse durante uma ação de campanha eleitoral.