Márcio Honorato, brasileiro de Marília, cidade do estado de São Paulo, mudou para sempre, e sem saber, o panorama da restauração lisboeta quando, em 2011, abriu uma pequena hamburgueria no Príncipe Real. Nessa altura, contavam-se pelos dedos de uma mão as casas da capital especializadas na matéria e pelos dedos de uma pata (de avestruz) as que eram realmente boas. O Honorato, com as suas inéditas criações artesanais e um estilo descontraído, gingão e até meio incerto — tornaram-se célebres as mensagens com o horário da casa, entre outras — serviu de pedrada no charco.

De repente, foi como se se tivesse descoberto a pólvora sob a forma de carne picada e pão de brioche. Começaram a chover hamburguerias em Lisboa, umas melhores outras piores. E por muito que o fenómeno possa soar a praga do Egito, passados quatro anos a precipitação continua, se bem que num volume menor.

De um cafofo no Príncipe Real, o Honorato saltou, um ano depois da abertura, para um espaço maior, ainda no mesmo bairro. Mas a coisa só se tornou verdadeiramente profissional quando entraram em cena Rui e Margarida Sanches, do grupo Multifood, detentor de Vitaminas, Cais da Pedra ou Wok to Walk. No verão de 2013, juntaram-se a Márcio para abrir um novo espaço, na Rua de Santa Marta, onde mantiveram o que a marca tinha de melhor, os hambúrgueres e a ginga, acrescentando-lhes uma dose de profissionalismo e, não menos importante, um bar de gins e cocktails assinados por Dave Palethorpe, do Cinco Lounge. Escusado será escrever que não ficaram por aí: depressa a marca chegou a outros bairros da cidade, como o Parque das Nações, Belém, Telheiras, Saldanha ou Cais do Sodré (no food court do Time Out Mercado da Ribeira). Honorato, o criador, foi ficando com um papel cada vez mais secundário (segundo consta, atualmente já nem vive em Portugal) mas a fórmula de sucesso do Honorato, o conceito, estava encontrada. E é aqui que se chega ao espaço do Chiado, que abre ao público já esta sexta-feira.

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Em breve, estas mesas encher-se-ão de hambúrgueres e cervejas artesanais.

As tendências reunidas

Para Margarida Sanches, o Honorato chegar ao Chiado era quase inevitável. “É uma zona de referência em Lisboa, os nossos clientes pediam-nos que abríssemos aqui e nós também queríamos.” No novo espaço, que tem cerca de 750 metros quadrados, distribuidos por dois pisos e que terá, também, uma esplanada, quando a requalificação do Largo Rafael Bordalo Pinheiro estiver concluída, os hambúrgueres continuam a desempenhar o papel principal. Mas não estão sozinhos, já que os responsáveis apostaram em reunir todas as tendências que têm marcado o ócio lisboeta nos últimos tempos. Só falta uma cadeira de barbeiro e selfie sticks de utilização livre.

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Se o bar de gins do piso térreo já não pode ser considerado grande novidade, a seleção de mais de 50 cervejas artesanais (e semi-artesanais) disponível na cave merece todo o destaque. “Gostamos de ser arrojados e inovar em cada espaço. Aqui optámos pelas cervejas artesanais porque são claramente uma tendência que queremos acompanhar”, explica Margarida. Disponíveis à pressão estarão uma dúzia delas, com destaque para três variedades da cervejeira belga Urthel e para a Köstritzer Pale Ale, uma IPA (Indian Pale Ale) alemã de boa reputação. Já em garrafa haverá outras 40 por escolher, com marcas como a Brewdog, La Trappe ou a premiada Saison 1858 a garantirem qualidade. Segundo a responsável, as cervejas artesanais serão um exclusivo do Honorato Chiado. Pelo menos para já.

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Neste bar, que fica por baixo do piso térreo, há uma dúzia de torneiras de cerveja artesanal. E outras 40 marcas no frigorífico.

O que também marca a diferença deste Honorato em relação aos restantes é uma enorme parede esculpida por Vhils, semelhante às que o artista assinou em várias cidades por esse mundo fora, uma obra com uma dimensão que é raro ver em restaurantes, muito menos hamburguerias. Margarida Sanches esclarece a opção: “Gostamos de artistas portugueses e sabemos que nem sempre é possível que eles executem trabalhos cá, por Portugal ser um mercado menor, mas aqui criámos essa possibilidade para também desta forma marcar a identidade do espaço”. Segundo a mesma responsável, a obra tem causado sensação ainda antes de o restaurante abrir ao público. “No outro dia, passou aqui à porta um casal de Berlim. Espreitaram e quando viram o mural ficaram de boca aberta, espantadíssimos.”

A par da abertura deste novo restaurante foi lançada uma compilação de 12 faixas para honrar os DJs que têm passado aos fins de semana pelo espaços da marca. A seleção, que inclui nomes como Richie Campbell, Cais Sodré Funk Connection ou Valete ficou a cargo de Rui Murka, uma espécie de curador musical do Honorato, e poderá ser escutada (gratuitamente) no respetivo site oficial.

O último parágrafo do artigo é dedicado a quem estiver fora de Lisboa a ler isto com grande curiosidade. Para todos esses leitores as notícias são animadoras. Segundo Margarida Sanches, até ao final do ano a marca Honorato deverá expandir-se para lá das fronteiras da capital. As datas e as localizações é que ainda são tão secretas como a receita dos hambúrgueres da casa.

Nome: Honorato Chiado
Morada: Largo Rafael Bordalo Pinheiro, 12 (Chiado), Lisboa
Telefone: 91 028 5425
Horário: De domingo a quinta das 12h00 à 00h00, sexta e sábado das 12h00 às 02h00
Preço Médio: 12€