Um terrorista preocupado com a família e romântico. Osama bin Laden deixou ficar para trás uma carta destinada à sua “fiel e querida esposa”, conta o espanhol El Mundo. Era dirigida a uma das suas três mulheres (detida com os filhos) foi primeiro gravada em formato vídeo, em 2008, e só depois transcrita para papel. Nela revela os últimos desejos, dá conselhos familiares e pergunta pelos filhos, bem como por outros parentes, desejando-lhes saúde. “Peço a Deus que todos estejam em boas condições e que acelere a vossa libertação e a de todos os prisioneiros muyahidin”, lê-se no documento.
Na carta, o líder da Al-Qaeda revela-se romântico e deixa palavras de apreço à mulher: “Quero que saibas que preenches o meu coração de amor e com belas recordações. (…) Cada vez que penso em ti os meus olhos enchem-se de lágrimas por ter-te longe”. O terrorista chega a fazer juras de amor eterno e a afirmar que não se casaria novamente, referindo-se à então esposa como “a menina dos meus olhos” e “a coisa mais preciosa que tenho neste mundo”.
O homem mais procurado do mundo pede ainda à mulher que tenha “paciência e força” para agradar a Deus para que os dois se reúnam “no paraíso, entre os seus rios e suas riquezas”. E continua dizendo que lhe dá permissão para regressar à família desde ela que eduque os filhos “como deve ser”: pede que mantenha as filhas longe de sarilhos e de “más companhias” até que estas atinjam a puberdade, e que o filho seja enviado para junto do avô, de modo a juntar-se à luta jihadista.
a portion of the will penned by Osama bin Laden to his wife in a handwritten note from hiding http://t.co/LW03mkRJco pic.twitter.com/bhZUlYO3iV
— Megan Specia (@meganspecia) May 20, 2015
Osama Bin Laden: Romântico, mas não só
A carta data de agosto de 2008, numa altura em que o líder estaria escondido no Irão, Afeganistão ou Paquistão, escreve o Daily Mail, e mostra um Bin Laden muito diferente daquele que se revelou à opinião pública no mundo ocidental.
A missiva faz parte de um conjunto de cerca de 100 documentos relacionados com a Al-Qaeda que foram desclassificados esta quarta-feira, 20 de maio, pela administração dos Estados Unidos — foram descobertos na residência de Abbottabad, no Paquistão, onde Osama permaneceu escondido até ao assalto das forças especiais norte-americanas que o vitimou, a 2 de maio de 2011.
Os documentos revelam o estado de espírito do chefe histórico, mas também as suas reflexões táticas e preocupações face aos serviços de informações ocidentais. Entre as prioridades estipuladas, destaca-se uma: Bin Laden pediu sempre aos seus apoiantes que permanecessem focados em ataques contra dos EUA.
Bin Laden queria que al-Qaeda se concentrasse em matar americanos, revela CIA. http://t.co/nhHRwcExDm pic.twitter.com/85qyGv62zv
— Jornal O Globo (@JornalOGlobo) May 20, 2015
A desclassificação em causa resulta da “maior transparência” pedida por Barack Obama em torno dos documentos confiscados no Paquistão e da lei votada em congresso, a qual obriga os serviços de informações a examinar quais os documentos que podem ser divulgados. Acrescente-se que ainda não foi possível verificar de forma independente nem a origem nem a qualidade da tradução dos mesmos.
Os documentos vêem a luz do dias depois da publicação de um artigo do jornalista de investigação Seymour Hersh, que pôs em causa a versão oficial da morte de Bin Laden. No entanto, o porta-voz da CIA, Ryan Trapani, indicou que este processo tinha começado há alguns meses e não pode ser considerado uma resposta ao artigo.
As cartas, rascunhos, memorandos e diretivas permitem entender diversas preocupações do líder: consciente dos riscos dos ataques de drones norte-americanos sobre os quadros da organização, Bin Laden pedia para não comunicarem por e-mail, para não se reunirem em grupos importantes e inquietava-se pelo risco de serem colocados detetores eletrónicos nos vestidos da sua mulher.
Achava ainda que a Al-Qaeda devia promover ataques espetaculares contra os Estados Unidos, à semelhança dos atentados do 11 e setembro de 2001, e não contra os regimes do Médio Oriente.